A construção ocidental do oriente médio como instrumentalização das relações internacionais

AutorRenatho Costa
CargoBacharel em Relações Internacionais (FASM-SP)
Páginas159-181
DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-7976.2014v21n32p159
A CONSTRUÇÃO OCIDENTAL DO ORIENTE MÉDIO
COMO INSTRUMENTALIZAÇÃO DAS RELAÇÕES
INTERNACIONAIS
WESTERN CONSTRUCTION OF THE MIDDLE EAST
AS INSTRUMENTALIZATION OF INTERNATIONAL
RELATIONS
Renatho Costa*
Resumo: O presente artigo analisa a importância da região conhecida por
Oriente Médio para a sedimentação da perspectiva estadocêntrica ocidental
das Relações Internacionais. Para tanto, discute o processo que levou o
Império Otomano à fragmentação e sua posterior divisão em Estados sob
a égide das potências europeias que instituíram o sistema de Mandatos na
região. Ainda, questiona como as relações de poder foram construídas no
Oriente Médio no intuito de subsidiarem o modelo vestefaliano e reinante nas
Relações Internacionais. Por m, aborda qual o efeito da criação do Estado
de Israel e de novos atores não-estatais (organizações islamistas) para a (des)
estabilização da região e potencialização dos conitos geopolíticos.
Palavras-chave: Oriente Médio, Relações Internacionais, Potências
Ocidentais, Islã, Sistema Internacional.
*Bacharel em Relações Internacionais (FASM-SP), Mestre e Doutor em História Social
(FFLCH-USP). Professor de Relações Internacionais na Universidade Federal do Pampa
(UNIPAMPA), Santana do Livramento, Rio Grande do Sul, Brasil. Coordenador do Grupo
de Análise Estratégica - Oriente Médio e África Muçulmana (GAE-OMAM).
E-mail: renathocosta@unipampa.edu.br
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Revista Esboços, Florianópolis, v. 21, n. 32, p.159-181 out. 2015.
Abstract: This article analyses the importance of the region known as Middle
East to the sedimentation of Western state-centric perspective of International
Relations. To do so, it discusses the process that led the fragmentation of
the Ottoman Empire and its subsequent division into states under the aegis
of the European powers that established the Mandate system in the region.
Furthermore, it questions how power relations were built in the Middle East
in order to assist the Westphalian reigning model in International Relations.
Finally, it debates what was the effect of the creation of the State of Israel and
of new non-state actors (Islamist organisations) in order to (de)stabilize the
region and potentiate geopolitical conicts.
Keywords: Middle East, International Relations, West Powers, Islam,
International System.
O estudo da estrutura do sistema internacional é objeto primordial das
Relações Internacionais (RI). Partindo do pressuposto de que a polaridade
do sistema – multipolar, bipolar, unipolar, uni-multipolar, dentre outras
possibilidades – inui diretamente na atuação dos atores, as Escolas de RI
construíram teorizações que raticaram a forma com que se dá o processo de
submissão e/ou sublevação deles.
Parte substancial da forma com que as RI são percebidas por seus
teorizadores encontra respaldo em eventos históricos que foram assimilados
por suas Escolas no intuito de raticar um modelo de sistema internacional
composto, basicamente, por Estados. Nesse sentido, a Paz de Vestefália (1648)
é tida como um paradigma de difícil transposição, pois a preservação da
soberania estatal tornou-se condição sine qua non neste modelo1. Para as RI,
o estadocentrismo congura-se no referencial primordial para se entender e
analisar as relações entre os atores internacionais. Evidentemente que a partir
do nal do século XX as Escolas construtivistas e pós-modernas passaram
a colocar em xeque não somente as questões epistêmicas, como ontológicas
das RI, no entanto, o mainstream continua considerando o Estado como o ator
preponderante na estrutura do sistema internacional.
Assim, o objetivo deste artigo é analisar a razão pela qual as potências
europeias do século XIX – que mantiveram seu status quo até a II Guerra
Mundial – optaram por desconstruir o Império Otomano e reestruturá-lo a
partir do modelo vestefaliano, contudo, preservando a supremacia ocidental
na região conhecida por Oriente Médio. Ainda, demonstrar que na tentativa
de reproduzir um sistema semelhante ao vivenciado pelos Estados europeus,
a assimilação não se deu de modo natural e a região se transformou numa
zona de tensão constante. Ou seja, questiona-se a aplicabilidade do modelo
estadocêntrico para os Estados de maioria islâmica do Oriente Médio e como

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