A construção do campo da Agroecologia e sua relação com o desenvolvimento rural

AutorPaola Maia Lo Sardo - Rodolfo Antônio de Figueiredo
CargoMestre em Agroecologia e Desenvolvimento Rural pela Universidade Federal de São Carlos - Doutor em Ecologia pela Universidade Estadual de Campinas
Páginas337-360
http://dx.doi.org/10.5007/1807-1384.2015v12n1p337
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Adaptada.
A CONSTRUÇÃO DO CAMPO DA AGROECOLOGIA E SUA RELAÇÃO COM O
DESENVOLVIMENTO RURAL
Paola Maia Lo Sardo
1
Rodolfo Antônio de Figueiredo
2
Resumo:
Agroecologia é um termo atualmente apropriado por diferentes grupos e sua
conceituação está em constante disputa, carecendo, portanto, uma reflexão crítica
de sua história e de seus conceitos fundantes. No presente ensaio procuramos
apresentar tal reflexão utilizando como referenciais teóricos a noção de “campo”
proposta por Pierre Bourdieu e da discussão de paradigma segundo Thomas Kuhn,
uma vez que tal ainda não foi realizada. Também, procuramos pensar como a
Agroecologia pode contribuir para o já estabelecido campo do Desenvolvimento
Rural. Constatamos a diversidade conceitual que existe na Agroecologia, assim
como a falta de clareza em algumas de suas propostas e fundamentos. A
Agroecologia relaciona-se diretamente à sustentabilidade e, com isso, leva o
Desenvolvimento Rural a repensar seus estilos e processos. Concluímos que a
Agroecologia pode efetivamente ser considerada ciência pós-normal, mas o
contorno de seu “campo” ainda está em processo de estabelecimento.
Palavras-chave: Paradigma científico. Campo do saber. Sustentabilidade. Ciência
pós-normal. Ciência de segunda ordem.
1 INTRODUÇÃO
A preocupação em definir o termo Agroecologia e qual é a sua relação com o
Desenvolvimento Rural é um tema frequente entre os fundadores da Agroecologia
no Brasil. Dentre esses, por exemplo, Francisco Caporal e José Costabeber já
colocaram este debate conceitual em pauta na publicação “Agroecologia: alguns
conceitos e princípios” (CAPORAL; COSTABEBER, 2004).
Ao longo do presente ensaio, pretendemos retomar este tema e discutir sobre
a construção do campo da Agroecologia como ciência a partir da noção de “campo”
1
Mestre em Agroecologia e Desenvolvimento Rural pela Universidade Federal de São Carlos.
Professora de Agroecologia no Instituto Federal do Espírito Santo, Campus Santa Teresa, Santa
Teresa, ES, Brasil. Email: pmaialosardo@gmail.com
2
Doutor em Ecologia pela Universidade Estadual de Campinas. Professor Adjunto do Departamento
de Desenvolvimento Rural do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de São Carlos,
São Carlos, SP, Brasil. Email: raf@cca.ufscar.br
338
R. Inter. Interdisc. INTERthesis, Florianópolis, v.12, n.1, p.337-360, Jan-Jun. 2015
proposta por Pierre Bourdieu e da discussão de paradigma segundo Thomas Kuhn,
assim como sua relação com o Desenvolvimento Rural.
Nos últimos anos, em especial na América Latina, a Agroecologia está se
consolidado como um campo científico e acadêmico e este fato pode ser percebido
pelo aumento de cursos (técnicos, superiores, pós-graduação) na área e de
publicações científicas que se apropriam desse termo (BORSATTO; DO CARMO;
2012). Apesar disso, dentre as/os acadêmicas/os que atuam em Agroecologia são
constantes as interpretações de que esta é uma ciência nova e que, por esta razão,
as definições não estão completamente consolidadas; que algumas definições são
vagas; que não há um conceito definido, pois cada autor ou instituição afirma uma
coisa diferente; que é um termo “guarda-chuva” englobando tudo e, ao mesmo
tempo, não significando nada. Há, ainda, o uso do termo de forma reducionista,
relacionando-o somente às questões técnicas. Mas, será que esta indefinição
realmente acontece? O que poderia explicá-la? Isto é positivo ou negativo para a
construção do campo da Agroecologia?
2 DEFINIÇÃO DE CAMPO CIENTÍFICO
A indefinição sobre o que é a Agroecologia causa insegurança e confusão no
campo científico, principalmente para aqueles que estão iniciando na vida
acadêmica. Esta confusão não acontece apenas no Brasil, ela está em várias partes
do mundo (WEZEl et al., 2009). Neste sentido, Kuhn (2007) enfatiza a importância
do estudo dos paradigmas
3
, pois prepara o estudante para ser membro de uma
comunidade científica determinada na qual atuará mais tarde. Também Bourdieu
(2004) indica que para compreender a arte, a literatura, a ciência etc., não basta
referir-se apenas ao conteúdo textual ou ao contexto social, estabelecendo uma
relação direta entre eles. Entre estes dois extremos existe um universo
3
“Paradigmas são realizações científicas universalmente reconhecidas que, durante algum tempo,
fornecem problemas e soluções modelares para a comunidade de praticantes de uma ciência”
(KUHN, 2007, p.13).

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