A construção discursiva do corpo feminino na mídia esportiva: as Olimpíadas 2016

AutorTiago Pellim - Irlla Karla dos Santos Diniz - Gabriele Soares Ivanha
CargoDoutorando em Linguística Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas - Doutora pelo Programa Interdisciplinar de Desenvolvimento Humano e Tecnologias - Técnica em Química pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo, Capivari, SP
Páginas128-145
R. Inter. Interdisc. INTERthesis, Florianópolis, v.15, n.2, p.128-145 Set.-Dez. 2018
ISSN 1807-1384 DOI: 10.5007/1807-1384.2018v15n3p128
Artigo recebido em: 19.01.2017 Revisado em 26.06.2018 Aceito em: 04.07.2018
Esta obra está licenciada com uma Licença Creative Commons
A CONSTRUÇÃO DISCURSIVA DO CORPO FEMININO NA MÍDIA ESPORTIVA: AS
OLIMPÍADAS 2016
Tiago Pellim
1
Irlla Karla dos Santos Diniz
2
Gabriele Soares Ivanha
3
Resumo:
O objetivo do estudo foi analisar a maneira como o corpo feminino é construído através
da linguagem em duas reportagens publicadas por um grande portal de notícias
esportivas durante as Olimpíadas Rio-2016. A análise se embasou nas discussões
teóricas sobre a construção social e histórica do corpo feminino, bem como a relação
entre gênero e esporte, considerando os aspectos textuais, discursivos e multimodais
das notícias. Frente ao objetivo inicial da pesquisa, é importante refletir sobre como a
indústria midiática constrói o corpo feminino em um megaevento esportivo como as
Olimpíadas, considerando todo o histórico desigual entre os espaços ocupados por
homens e mulheres no esporte. Como principais resultados, pode-se destacar que
ainda enfrentamos desafios no que tangencia a imagem das mulheres e do corpo
feminino na mídia esportiva, uma vez que há uma visão reducionista que privilegia o
corpo estético e a família (aspectos tradicionalmente associados ao feminino), ao
mesmo tempo em que sinaliza avanços ao colocar o esporte em primeiro plano em
alguns momentos, mesmo que em uma visão exacerbada do mito/herói.
Palavras-chave: Gênero. Esporte. Mídia. Olimpíadas 2016. Análise do Discurso.
1 INTRODUÇÃO
No mundo atual em que mudanças de ordem social e política passam a
alimentar um sentimento de deslocamento, impactando na forma como os indivíduos
se percebem no mundo e como constroem suas identidades sociais, faz-se necessário
reconhecer, segundo Fabrício (2004), a relevância que as práticas discursivas
assumem nesse panorama de grandes transformações. Segundo a autora, a
linguagem tem sido utilizada de modo cada vez mais estratégico em diversos campos
da vida social, como a política, o trabalho e a mídia. Daí a importância dos estudos
1
Doutorando em Linguística Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas. Professor do Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo, Capivari, SP E-mail:
tiagopellim@ifsp.edu.br
2
Doutora pelo Programa Interdisciplinar de Desenvolvimento Humano e Tecnologias . Professora do
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo, Capivari, SP E-mail:
irllakarla@yahoo.com.br
3
Técnica em Química pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo,
Capivari, SP E-mail: soaresgabriele9@gmail.com
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que reconheçam a força da mídia na constituição de repertórios simbólicos que
contribuem para a construção das identidades sociais.
A onipresença da mídia e sua cobertura ininterrupta do mundo geram, segundo
Thompson (2004), um sentimento de “espetacularização da vida social”, na qual tudo
pode ser noticiado. Neste trabalho, tomemos como exemplo o fenômeno do esporte,
que hoje se trata de uma linguagem universal espetacularizada por meio dos grandes
eventos e dos interesses políticos e econômicos que atuam como pano de fundo em
sua construção social.
Os Jogos Olímpicos, em especial, extrapolam a dimensão esportiva para se
tornarem verdadeiras arenas de marketing e acordos econômicos mediados pelo
discurso esportivo. Sob a égide dessa discussão, as mídias assumem um posto de
destaque na disseminação das informações, venda de produtos, divulgação dos
resultados, exploração de escândalos e demais situações que ocorram ao longo dos
jogos, atuando diretamente na formação de opiniões.
Nesse âmbito, o presente artigo buscou refletir sobre como as práticas
discursivas da indústria midiática esportiva constroem o gênero e o corpo feminino ao
realizar a cobertura dos Jogos Olímpicos tendo em vista a analogia histórica entre
masculinidade e o mundo dos esportes.
Em trabalho publicado em 2012, Mühlen e Goellner apresentam os resultados
de uma pesquisa desenvolvida em 2008 durante a realização dos Jogos de Pequim,
que buscou identificar as representações sobre a masculinidade e a feminilidade na
cobertura dos jogos feita pelo portal de notícias Terra. Na ocasião, as autoras
identificaram 2 categorias principais que serviam como pano de fundo para a
construção do gênero dos atletas, a saber: os superatletas, que eram construídos a
partir de suas vitórias, delineando, assim, a imagem do atleta como aquele que supera
obstáculos e alcança a vitória pela superação; e as musas e musos, que tinham na
ênfase de sua beleza a associação entre prática esportiva e saúde.
Passados oito anos desde aquele evento, este trabalho pretende retomar esse
debate, com especial atenção para a maneira como o corpo feminino é
discursivamente construído nas peças jornalísticas referentes aos Jogos Rio 2016.
Para tanto, o objetivo do presente artigo é analisar duas reportagens publicadas por
um grande portal de notícias esportivas que tinham como destaque atletas mulheres.
A análise terá como foco as discussões teóricas sobre a construção social e histórica
do corpo feminino, bem como a relação entre gênero e esporte.

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