Considerações finais

AutorFlávio Túlio Ribeiro Silva
Páginas161-168

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A história do petróleo e a política de Estado na Venezuela ainda continuarão a ser escritas com toda complexidade de suas dimensões e suas implicações. Em linhas gerais, podemos concluir que se confundem com a história política e é determinante na história da formação social do país. O petróleo é uma commodity com importância tão relevante que atualmente determina o desenvolvimento mundial.

Em seus cento e oitenta e três anos, a Venezuela fez perceber ao mundo sua presença em quatro feitos históricos de grande importância. Começa com as guerras de independência, nas quais teve uma participação militar decisiva na libertação da Colômbia, Equador, Bolívia e Peru como colônias do império espanhol.

Em segundo lugar, ao apoiar a Liga Árabe na conferência do Cairo em 1959, a Venezuela foi um dos produtores de petróleo que contribuíram de forma decisiva para ideia de criação da OPEP, organização que se transformaria em uma instituição de primeira grandeza para economia internacional, para a política interna dos países participantes e compradores do produto bem como para a geopolítica contemporânea.

O terceiro, com o pacto do Punto Fijo, formatou uma coalizão governamental (1958-1998), que contribui para o movimento de uma democratização na América Latina, que destoava da maioria das ditaduras implantadas no período. Esta democracia aparente, que possuía restrições à eleição de governador e à disputa para câmara de deputados, sendo feitas através de listas dos partidos predominantes, não possuiu uma relevância apenas política, mais econômica, pois garantiu o fornecimento de petróleo para as economias desenvolvidas, através do aumento considerável da produção em momentos de crise, como

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em 1973, durante a guerra entre árabes e israelenses, e em termos sociais, já que empreendeu uma engenharia de apaziguamento interno das classes, baseado na utilização da renda petroleira como suprimento às demandas pontuais das classes trabalhadoras e no crescimento de uma classe média e alta a partir da acumulação de capital associada aos investimentos das multinacionais do setor.

O quarto foi a chegada de Hugo Chávez à presidência do país, muito por ser beneficiado pelo esgotamento do modelo anterior do período puntofujista. Empreendeu-se uma desconstrução dos paradigmas implantados, uma nova constituição e um modelo que, apesar de ser baseado na figura do presidente, almejava ser participativo e protagônico. Estava imbuído de ser distinto do anterior, escolher a defesa de uma classe majoritária (trabalhadores de menor renda), e utilizar o estado como gestor principal das mudanças. Balizava, então, o crescimento do tamanho do Estado, novas formas de consultas populares e uma relação personalista entre o líder do governo e a população. A quinta República modificou tratativas sobre a propriedade dentro da Venezuela, alterando do setor privado para público a posse da renda petroleira, a posse das terras e uma política industrial, agrícola, social e educacional muito dependente das diretrizes do Estado venezuelano e, por conseguinte, alterando a política externa. Nesta última abordagem, devemos dar destaque à descoberta do discurso como forma política de agregação às ideias da nova república, que também serviu para valorizar o preço do seu principal produto e fonte de recursos: o petróleo.

Dentro desta contextualização, podemos definir a Venezuela, assim como outros países de dependência rentística, como um "petroestado". Por suas características particulares, como fonte energética e matéria prima de usos múltiplos, alcançou a grande maioria da população mun-dial, que incorporou sua "dieta" habitual...

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