Consagração universitária, capitais simbólicos e cargos financeiros: o estudo do perfil dos engenheiros de produção na Universidade Politécnica de São Paulo
Autor | Thais Joi Martins, Julio Cesar Donadone |
Cargo | Doutora em Ciência Política pela UFSCar. Professora na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB)/Doutor em Engenharia de Produção pela USP. Professor na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) |
Páginas | 344-367 |
DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-7984.2017v17n39p344/
344344 – 367
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Consagração universitária,
capitais simbólicos e cargos
financeiros: o estudo do perfil
dos engenheiros de produção na
Universidade Politécnica de São Paulo
Thais Joi Martins1
Julio Cesar Donadone2
Resumo
O objetivo central deste artigo é o de dar destaque à análise dos capitais simbólicos (em especí-
fico o cultural), gostos e estilos de vida dos engenheiros de produção (egressos) da Universidade
Politécnica de São Paulo (USP). Apreciaremos neste artigo, por meio da metodologia qualitativa
e consequente uso de entrevistas semiestruturadas, a proposição de que os marcadores simbó-
licos encaminham esses engenheiros (gestores) para cargos no mundo das finanças, tais quais,
as consultorias financeiras e o mercado financeiro. Podemos constatar que existem homologias
no que diz respeito aos marcadores simbólicos citados e a ocupação desses profissionais nesses
últimos cargos de destaque. Para além da constatação anterior, cabe mencionar que esses arautos
das finanças são justamente os novos agentes que estão intermediando e alimentando dinâmicas
e jogos de poder dentro do atual capitalismo financeiro.
Palavras-chave: Capital simbólico. Gosto. Estilos de vida. Sociologia de Pierre Bourdieu. Socio-
logia econômica e das finanças.
1 Doutora em Ciência Política pela UFSCar. Professora na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB).
E-mail: thaisjoi@gmail.com
2 Doutor em Engenharia de Produção pela USP. Professor na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
E-mail: donadojc@uol.com.br
Política & Sociedade - Florianópolis - Vol. 17 - Nº 39 - Mai./Ago. de 2018
345344 – 367
Introdução
Esse artigo tem como objetivo mais amplo vericar se os marcadores
de uma dada cultura legítima (capitais simbólicos3) estudados por Bour-
dieu (2008) criam sistemas homólogos no Brasil. Ou seja, nos inquerimos
a respeito da existência de possíveis homologias entre os capitais simbólicos
adquiridos pelo grupo social estudado e o capital de chegada (circunstância
em que os indivíduos ocupam cargos no mercado de trabalho depois de
formados). Nesse sentido, examinamos a proposição de que os capitais
simbólicos (principalmente o cultural) bem como os sistemas coadjuvantes
a eles, a saber, a origem social, os gostos e estilos de vida, poderiam inuen-
ciar de alguma forma a escolha da ocupação dos engenheiros de produção
da Universidade Politécnica de São Paulo (USP), quando eles optam por
posições relativas aos altos cargos de nanças no País (gestões empresariais
e organizacionais).
Apesar da diferenciação de ocupações que um engenheiro de produ-
ção possa escolher, as posições mais apontadas por eles se dicotomizam
entre a área industrial e a área nanceira, como é o caso respectivamente
das ocupações relativas ao setor do chão de fábrica e, das consultorias e
do mercado nanceiro. Nesse sentido, averiguamos na primeira parte de
nossa análise de dados como se perlam os gostos e os capitais simbólicos
dos estudantes e egressos de engenharia de produção de uma universidade
consagrada no Brasil e se essas características socializadoras se agrupam
homologamente a ocupação de alguns setores prossionais.
Por m, detectamos que nem todos os alunos da Universidade Poli-
técnica de São Paulo detém uma aproximação com a cultura dita “legí-
tima”, estes últimos, seriam justamente os estudantes/egressos cujas a-
nidades eletivas, capitais simbólicos e, consequentemente os mecanismos
de reprodução social atrelados a estes, atuam diretamente no processo de
distanciamento da ocupação de cargos nanceiros bem remunerados. Para
3 Cabe destacar que a noção de capital simbólico usada nesse artigo vai de encontro com a construção
argumentativa de Pierre Bourdieu em seu livro Escritos de Educação. Ou seja, o autor menciona o capital
simbólico como uma adequação entre o capital cultural, social e econômico. Vale ressaltar que em outras
obras como A distinção (2008) o autor trabalha com o conceito de capital simbólico dentro das nuances de
prestígio e das honrarias.
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