O conforto em Paris

AutorJosé Roberto Fernandes Castilho
Páginas211-238
211
[ III ]
O conforto em Paris
... na América falta à paisagem, à vida,
ao horizonte, à arquitetura, a tudo o que
nos cerca, o fundo histórico, a perspectiva
humana... na Europa nos falta a pátria.
De um lado do mar sente-se a ausência
do mundo. Do outro, a ausência do
país. O sentimento em nós é brasileiro, a
imaginação, européia.
Joaquim Nabuco, Minha formação, 1900
Paris, praça da Concórdia, c. 1900
José Roberto Fernandes Castilho
212
1 Introdução
Nestor Victor talvez seja conhecido por ter sido grande amigo,
cultor e editor da obra de Cruz e Souza, o poeta maior do nosso Sim-
bolismo, a quem se dedicou de corpo e alma, em total devotamento.
Desenvolveu, de fato, uma idolatria pelo “acrobata da dor”. Victor
conheceu Cruz e Souza no Rio de Janeiro e ambos comungaram dos
mesmos ideais literários e do mesmo cenáculo de jovens artistas.
Houve uma “harmonia de almas” entre eles, como diz Cruz e Souza
num soneto. Opondo-se ao parnasianismo reinante, estes literatos
jovens, insolentes, inconformistas, incompreendidos – “sedentos do
frisson nouveau’ baudelairiano” (Andrade Muricy) – provocaram
um terremoto na literatura brasileira mas foram desprezados quan-
do da criação da Academia Brasileira de Letras, em 1896/1897 (a ses-
são inaugural ocorreu a 20 de julho de 1897). Só entrariam nela em
1913 com Felix Pacheco, tradutor e estudioso de Baudelaire e que,
em seu discurso de posse, louvou aquele que, entre nós, ocupou um
“píncaro soberbo, desejando que ele “continue projetando sobre a
planície modesta, onde vivem os humildes, um pouco da luz divina
(Sarcástico, Agrippino Grieco chama-o de Infelix Pacheco...).
Embora tenha escrito poesia (Transgurações) e interessante
prosa de cção (Signos163), para Massaud Moisés, Nestor Victor foi “o
crítico por excelência do nosso Simbolismo” (A literatura brasileiro:
o simbolismo, 1967) e seus textos de crítica estão reunidos em três
163 Publicado em 1897, este livro de contos (em especial a novela “Os sapos”, que o
integra), foi elogiado por muitos literatos, inclusive (claro) Cruz e Souza, mas com
essa avaliação não concorda José Veríssimo que rejeitava o próprio simbolismo, e
que diz a respeito do livro: “O Sr. Nestor Victor, c uja ignorância da língua é grande,
é pródigo de verbos novos: levecar, esfumiar, si lenciar, ironizar, despulmonar, e
que tais. Não admira, um dos nossos novos criou porcelanejar” (Estudos de literatura
brasileira, 1ª série). Esta escr ita criativa – extremamente valorizada durante o século
XX – não se faz presente no livro sobre Paris.

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