Concordâncias com necessário e preciso

AutorMaria Tereza de Queiroz Piacentini
CargoLicenciada em Letras e mestra em Educação pela UFSC Revisora da Constituição de Santa Catarina em 1989
Páginas82-82
Não tropece na língua
82 Revista Bonijuris | Setembro 2015 | Ano XXVII, n. 622 | V. 27, n. 9 | www.bonijuris.com.br
MariaTerezadeQueirozPiacentini|linguabrasil@linguabrasil.com.br
LicenciadaemLetrasemestraemEducaçãopelaUFSC
RevisoradaConstituiçãodeSantaCatarinaem1989
CONCORDÂNCIAS COM
NECESSÁRIO
E
PRECISO
A lição elementar: o adjetivo concorda com
seu substantivo. Exemplos:
reuniões são
necessárias; foram precisos dois decretos.
Mas
o uso consagrou outro tipo de concordância:
o adjetivo predicativo pode ficar invariável
quando vem anteposto a um sujeito que se
constitui de substantivo de qualquer gênero
e número usado de modo vago ou geral, ou
de forma indeterminada, portanto sem artigo
definido. Exemplos:
– É necessário areia fina para isso.
– É necessário muita paciência.
– É necessário ações concretas.
Como é que os gramáticos justificam esse uso?
Pelo entendimento de que aí fica implícito um
verbo no infinitivo, em geral ter/haver, que
agiria como sujeito da oração “é necessário”.
Nesse caso ela se mantém na forma neutra
(masculino singular); a concordância, então, se
daria com o infinitivo implícito:
– É necessário [ter] muita paciência.
– É necessário [haver] ações concretas.
No entanto, o adjetivo é obrigado a flexionar
no feminino ou plural quando há uma
determinação pelo artigo definido ou não há a
referência de modo vago ou geral:
É necessária a paciência de um monge
para aguentar isso.
É necessária a consciência de uma
criança para ser feliz.
São necessárias as seguintes qualidades
para figurar na lista das 10 mais.
Eram precisos outros três homens para
completar o serviço.
Acontece que no português brasileiro não se
costuma flexionar o adjetivo
preciso
quando
anteposto ao sujeito. Há uma implicação de
neutralidade em frases assim:
É preciso a consciência de uma criança
para ser feliz.
É preciso as seguintes qualidades para
figurar na lista.
Em textos formais, porém, é recomendável
fazer a devida concordância usando em vez de
preciso
o adjetivo
necessário
, que soa melhor.
Ordem direta
Sempre que começamos uma frase desse tipo na
ordem direta, isto é, com o sujeito precedendo
o verbo, a concordância é obrigatória, mesmo
que não haja a determinação pelo artigo
definido. Pode-se dizer “É necessário areia”, mas
não *Areia fina é necessário. Ou: “É proibido
minissaias no recinto”, mas nunca *Minissaias é
proibido neste recinto. O correto é:
Areia fina é necessária.
A areia fina que compramos foi
necessária.
Minissaias são proibidas neste recinto.
As minissaias estão proibidas.
Uma boa adubação do terreno é
necessária.
O tratamento do solo com inseticidas é
necessário.
Se necessário ou se necessárias
Pode-se flexionar
necessário
, ou não, quando
este adjetivo vem depois da conjunção quando
ou se (o verbo
ser
no subjuntivo geralmente
fica implícito):
(a) Vamos adotar medidas de controle se
necessário. / Faremos consulta ao STJ
quando necessário.
(b) Vamos adotar essas medidas se
necessárias. / Faremos consulta ao STJ
quando necessária.
Em (a) temos a fórmula neutra – o adjetivo
se refere a um sujeito implícito, que é o
pronome
isso
. Em (b), ele concorda com
medidas
ou
consulta
, sujeito não repetido mas
subentendido pelo leitor:
(a) Vamos adotar medidas de controle /
Faremos consulta... se/quando [isso for]
necessário.
(b) Vamos adotar medidas de controle se
[elas forem] necessárias. / Faremos consulta
ao STJ quando [ela for] necessária.
Revista Bonijuris Setembro 2015 - PRONTA.indd 82 20/08/2015 17:05:00

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