O Conceito de Autonomia no marxismo contemporâneo

AutorMassimo Modonesi
CargoDoutor em Estudos Latino-americanos. Membro do Comitê de Redação da revista Memória e Diretor da revista OSAL da CLACSO
Rev. Direito e Práx., Rio de Janeiro, Vol. 12, N. 01, 2021, p. 707-733.
Massino Madonesi
DOI: 10.1590/2179-8966/2020/47878| ISSN: 2179-8966
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O conceito de autonomia no marxismo contemporâneo
Massimo Modonesi
Versão original: El concepto de autonomía en el marxismo contemporáneo”, in
ADAMOVSKY, Ezequiel (Org.) (2011) Pensar las autonomías: alternativas de
emancipación al capital y el Estado. 1ª ed. México D.F.: Sísifo Ediciones, Bajo Tierra.
Artigo recebido em 21/01/2020 e aceito em 07/06/2020.
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Rev. Direito e Práx., Rio de Janeiro, Vol. 12, N. 01, 2021, p. 707-733.
Massino Madonesi
DOI: 10.1590/2179-8966/2020/47878| ISSN: 2179-8966
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Introdução
O conceito de autonomia, que aparece com frequência nos argumentos de diversos
movimentos antissistêmicos e nos debates sobre as alternativas ao capitalismo em
nossos dias, tem entre seus antecedentes e origens políticas e teóricas uma longa
tradição de pensamento marxista1.
Ao mesmo tempo, seu significado foi oscilando entre diferentes concepções e,
apenas em algumas ocasiões, foi objeto de desenvolvimento teórico sistemático. Dentre
eles, destaca-se o Socialismo ou Barbárie (SoB), um g rupo político de nítida inspiração
marxista revolucionária que, na França dos anos cinquenta, colocou esse conceito no
centro de sua reflexão política, buscando associar e articular os dois principais
significados que circulavam no debate marx ista anterior: a ideia de autonomia como
emergência do sujeito sociopolítico e a de autonomia como característica do processo e
do horizonte emancipatório propriamente dito, ou seja, da construção do socialismo.
Autonomia, independência e emancipação no pensamento de Marx
A presença e a utilização do conceito de autonomia no marxismo é, sem dúvida, difusa e
variada.
Sendo uma palavra de us o mais comum e frequente que subalternidade e
antagonismo, em seu significado linguístico geral, como sinônimo positivo de
independência, permite sua utilização por pa rte de Marx e Engels em numerosos e
diferentes planos que vão da autodeterminação dos p ovos à perda de autonomia do
operário frente à máquina, passando pela autonomia relativa do Estado e à teorização
do bonapartismo. Por outro lado, uma noção de autonomia, ainda que na ausência de
referências nominais, pode ser rastreada nas reflexões de Marx sobre o trabalho vivo e a
formação da subjetividade operária na articulação entre ser social e consciência social.
Por último, o conceito ocupa um lugar fundamental quando explicitamente designa a
1 A outra abordagem histórica de referências à autonomia remete ao pensamento e ao movimento
anarquista. Sem esquecer a or igem kantiana e o desenvolvimento filosófico do conceito, ligado a
independência da subjetividade individual, que segue ocupando um lugar importante tanto nos debates
filosóficos como na psicologia e psicanálise atuais.

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