Em guarda! O espectro do comunismo ronda a caserna: a construção militar da imagem obscena do comunismo no Estado Novo
Autor | Ronaldo Queiroz Morais |
Cargo | Professor convidado no Programa de Pós-Graduação em História da Faculdade Porto-Alegrense (FAPA) e professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA) |
Páginas | 9-28 |
DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-7976.2013v20n29p9
EM GUARDA! O ESPECTRO DO COMUNISMO RONDA
A CASERNA: A CONSTRUÇÃO MILITAR DA IMAGEM
OBSCENA DO COMUNISMO NO ESTADO NOVO
ON GUARD! THE ESPECTRE OF COMMUNISM IS
HAUNTING BARRACK: THE CONSTRUCTION OF
MILITARY IMAGE OBSCENE FROM COMMUNISM IN
NEW STATE
Ronaldo Queiroz Morais*
Resumo: A proposição desse artigo é a de historiar a construção militar da
imagem obscena do comunismo como monumento de poder; em contexto
social e político de medo e ojeriza às ideias de esquerda, por parte das elites
conservadoras, e de consolidação do Exército brasileiro como instituição
moderna. Sendo assim, os documentos que revelam o anticomunismo
da esquerda política, mas – sobretudo – são representativos da construção de
práticas normativas de estruturação da própria identidade do corpo militar
e do Exército. Portanto, a transformação do corpo comunista em monstro,
não é mera banalização política da alteridade, na medida em que o processo
de monstrualização da esquerda política teve uma relação importante com a
emergência da instituição militar como ator político e internamente favoreceu
uma coesão sem precedentes na caserna.
Palavras-chave: Exército. Anticomunismo. Coesão Militar.
* Professor convidado no Programa de Pós-Graduação em História da Faculdade Porto-
Alegrense (FAPA) e professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA). E-mail:
ronaldoqueirozster@gmail.com
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Revista Esboços, Florianópolis, v. 20, n. 29, p. 9-28, ago. 2013.
Abstract: The proposition of this article is to historicize the military image
construction obscene from communism as monument of power; in a social and
political context of fear and aversion of the left ideas on the part of conservative
elites and of consolidation of Brazilian Army as modern institution. Thus, the
of the construction of normative practices structuring of the of own identity
military corporation. Therefore, the transformation of the communist body into
political monster, is not a mere trivialization of otherness, to the extent that
the process monstrualização of the political left had an important relationship
with the emergence of the institution military as a political actor and internally
promoted an unprecedented cohesion in the barracks.
Keywords: Army. Anticommunism. Military Cohesion.
[...] Ora, curiosamente, e de uma maneira que
me parece bastante característica, o primeiro
monstro moral que aparece é o monstro político.
Michel Foucault
Representar uma cultura prévia como monstruosa
com que o ato de extermínio apareça como heroico.
Jeffrey Jerome Cohen
Criou-se o estereótipo de que contra comunistas,
e no conceito eram abrangidos todos os que
defendiam interesses nacionais e os princípios
democráticos, tudo era válido: tratava-se não de gente,
de criaturas humanas, mas de animais perigosos,
contra os quais todos os processos eram lícitos.
Nelson Werneck Sodré
INTRODUÇÃO
O anticomunismo foi, de fato, uma reação ao iminente “perigo
vermelho”. Num período histórico de intensa polarização político-ideológica,
proporcionou efeitos, segundo um moderado diplomata britânico, de uma
verdadeira guerra religiosa, típica do século XVI.1 O mundo moderno burguês
parecia estar em perigo, as forças comunistas anunciavam que a revolução era
uma questão de tempo. A cada avanço político do comunismo desencadeava-
se, potencialmente, a reação conservadora da ordem cristã e do mercado
livre. Na conjuntura moderna de horror e de medo as representações políticas
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