Comunidades eclesiais de base e movimento popular

AutorCláudio Perani
Páginas28-35
COMUNIDADES ECLESIAIS DE BASE E MOVIMENTO POPULAR
Cláudio Perani
(Publicado originalmente nos Cadernos do CEAS n.º 75, set.-out. 1981)
INTRODUÇÃO
"O favelado é visto como marginal, mas não é. Nós somos marginalizados. A gente constrói, a
cidade com o suor do nosso trabalho e quanto mais constrói, mais é jogado para longe dela". Nestas
palavras de um favelado da periferia de São Paulo está o nosso tema. Queremos apresentar o
dinamismo das massas urbanas das grandes cidades do Brasil e, relacionada com isso, a presença e
contribuição das Comunidades Eclesiais de Base - CEBs. Nossa perspectiva procura ser a do
favelado que tem consciência de sua força como construtor da cidade e, no mesmo tempo, tem
consciência de sua exploração e marginalização.
A cidade deveria ser o lugar da liberdade, da autonomia, do respeito dos direitos humanos, o lugar
onde se encontram maiores recursos, maiores serviços, sobretudo se considerada em oposição ao
campo onde, ainda hoje, o coronel ou as grandes empresas sucessoras do coronelismo mandam e
mantêm uma situação de quase-escravidão. De fato, o homem do campo vai à cidade obrigado pela
expulsão de sua terra mas, também, pelo desejo de maior autonomia e maiores serviços.
A realidade é bem diferente. Sem negarmos as vantagens que a cidade pode oferecer, ela de fato
para a maioria de seus habitantes se apresenta como lugar da grande exploração, da violência, da
insegurança, da falta dos direitos mais elementares.
É nesse contexto que pretendemos dizer algo sobre os MOVIMENTOS POPULARES considerados
como o esforço do povo para conquistar seu lugar na cidade, sua cidadania.
O tema é amplo e complexo. Vamos limitá-Io considerando somente os movimentos de bairro
(ligados ao consumo, à reprodução) e deixando de considerar o movimento operário (ligado à
produção) e outros movimentos urbanos como os das mulheres e dos negros. Além disso, a
introdução sobre Movimento Popular é mais para poder enquadrar a problemática das CEBs, mais
considerada nesse estudo.
O TERRENO DA LUTA
É a cidade latino-americana. Surguiu rapidamente nas últimas décadas, com uma inchação
tremenda, abrigando uma enorme população diversificada e provocando grandes desequihbrios.
Uma situação de caos que significa, porém, uma "racionalidade" imposta pelo capitalismo
monopolista e dependente, engendrando contradições na dialética cidade-campo, encontrando
neste último uma estrutura agrária onde domina o latifúndio. O Estado, monopolizado pelos
interesses das classes dominantes, não visa nem pode atender às reivindicações da maioria da
população. Daí o surgir dos conflitos: os movimentos sociais urbanos slio expressões da massa que
reivindica, envolvendo o Estado, melhores serviços e condições de, vida, através de invasões,
depredações de ônibus e trens, passeatas, abaixo-assinados...
Isso não é novidade, sempre se deu desde a época da industrialização. Podemos lembrar o
movimento dos favelados no Rio, o surgimento das Sociedades de Bairro em S. Paulo, as invasões
em Salvador que datam de 1940.
Parece que hoje, pela intensificação da urbanização e pela super exploração do capitalismo

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT