O Colégio Jesuíta no contexto do Século XVI: formação de um novo homem
| Autor | Fernanda Santos |
| Cargo | Professora Adjunta no colegiado de Letras, da Universidade Federal do Amapá |
| Páginas | 167-182 |
DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-7976.2017v24n37p167
O Colégio Jesuíta no contexto do Século XVI: Formação De
Um Novo Homem
The Jesuit school in the context of the sixteenth century: forma-
tion of a new man
Fernanda Santos*
Resumo: A partir do século XVI, os colégios religiosos iniciam a sua tentativa
de formar mestres e discípulos dentro do ideário religioso preconizado e dentro
de uma lógica contrarreformista. A Companhia de Jesus foi uma das Ordens que
mais apostou no ensino, defendendo que a educação do jovem podia promover
uma nova sociedade católica. Assim, a Ordem recorreu, como estratégia de
evangelização, a utilização de instrumentos normativos e homogeneizadores,
tais como a Ratio Studiorum, ou o uso do modus parisiensis. De acordo com
Durkheim (1955), cada sociedade constrói um modelo de homem ideal, quer do
ponto de vista intelectual, quer do ponto de vista físico e moral. Esse ideal, ao
mesmo tempo uno e diverso, constitui a parte básica da instrução. Este artigo
mostra como o colegio jesuíta inculcou normas civilizadoras, de acordo com
as teorias de Norbert Elias, de forma a intervir na sociedade do seu tempo e a
moldar o caracter ideal de um novo homem.
Palavras-chave: Companhia de Jesus; colégio jesuíta; novo homem; instrução;
ratio studiorum
* Professora Adjunta no colegiado de Letras, da Universidade Federal do Amapá, Campus
Santana, Brasil E-mail: fercris77@gmail.com
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Revista Esboços, Florianópolis, v. 24, n. 37, p.167-182, ago. 2017.
Abstract: From the sixteenth century, religious colleges began their attempt
to train masters and disciples preconized religious ideology and with a
counterreformist logic. The Society of Jesus was one of the Orders that most
bet on teaching, arguing that the education of the young could promote a
new catholic society. Thus, as an evangelization strategy, the Order has used
normative and homogenizing instruments, such as Ratio Studiorum and the
modus parisiensis. According to Durkheim (1955), each society constructs a
model of ideal man, from the intellectual, the physical and moral point of view.
This ideal, at once one and diverse, constitutes the basic part of instruction.
This article shows how the jesuit school inculcated civilizing norms according
to the theories of Norbert Elias in order to interfere in the society of its time
and to shape the ideal character of a new man.
Keywords: Counter-Reformation; jesuit college; new man; instruction; ratio
studiorum
1. Introdução: a educação religiosa no século XVI
A partir do século XVI nasciam os corpos profissionais que se
especializaram na educação, podendo tomar a forma de corporações ou
congregações religiosas. Na história da educação, esta é a primeira vez que
se reconhece a necessidade de preparar mestres para exercer atividades de
ensino. A Ratio Studiorum, instrumento geral da educação da Companhia de
Jesus, proclamava que a preparação de um corpus docente era fundamental no
e compromisso pessoais eram fundamentais para a qualidade do ensino e da
propagação do programa da Ratio.1
o exercício de sua atividade estivesse, de algum modo, regulamentada. Conforme
mestres de leitura e de escrita do século XVI. A partir da segunda metade do
século, no quadro da ação contrarreformista da Igreja católica, é esta que passa a
assumir o controle dos tempos e dos lugares próprios para ensino, bem como dos
agentes e das práticas pedagógicas. Tanto as autoridades eclesiásticas quanto as
Ordens religiosas transformaram o ensino num meio de luta contra tudo aquilo
que fosse considerado como heresia.2 Os Jesuítas apostaram na concepção e
para alcançar determinados objetivos, como a conversão ou a moldagem de
um novo homem. Para os jesuítas, este novo homem era um homem de fé,
formar exemplos deste ideal. Nas palavras de Santo Inácio de Loyola, tomado
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