Os Códigos de Ética das Organizações Refletem a Cultura Nacional ou as Pressões Institucionais pela Busca de Legitimidade? Um estudo de organizações luso-brasileiras

AutorMariana Nunes Machado dos Santos - Patricia Amelia Tomei - Fernando Antonio Ribeiro Serra, Mrcaio Luiz Marietto
CargoMestre em Administração de Empresas - Doutora em Administração de Empresas - Doutor em Engenharia de Materiais - Doutor em Administração
Páginas133-151
Esta obra está sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso.
Resumo
O objetivo desta pesquisa foi verificar se os códigos de
ética são elaborados refletindo os aspectos culturais
do país de origem e as características idiossincráticas
das organizações, ou se as pressões institucionais pela
busca de legitimidade organizacional preponderam
disseminando uma convergência isomórfica entre os
códigos. Examinamos códigos de ética de organizações
de capital aberto de dois países, Portugal e Brasil. O
estudo é qualitativo e o método utilizado foi a análise
de conteúdo documental dos respectivos códigos
de ética. Os resultados indicaram que os códigos de
ética possuem estrutura e conteúdo semelhantes entre
países e organizações distintas. A pesquisa contribui
para os estudos de identidade ética ao evidenciar que
as pressões institucionais provocam comportamentos
isomórficos entre as organizações, independente do
setor e país de atuação. Contribui, também, para a
prática gerencial ao evidenciar que a mera exigência
e recomendações de conteúdo mínimo não provocam
o efeito desejado.
Palavras-chave: Códigos de ética; Aspectos culturais;
Pressão institucional; Legitimidade organizacional.
Abstract
The aim of this research was to verify whether the codes
of ethics are designed to reflect the cultural aspects of
the country of origin and idiosyncratic characteristics
of organizations or whether institutional pressures
for organizational legitimacy prevail disseminating
an isomorphic convergence between the codes.
We examine ethical codes of open market stocks
organizations from two countries, Portugal and Brazil.
The study is qualitative and the method used was the
documental content analysis of their ethical codes.
The results showed that the ethical codes have similar
structure and content between different countries and
organizations. Our research contributes to the studies of
ethical identity highlighting that institutional pressures
cause isomorphic behaviors between organizations
independent of the sector and country of operation. It
also contributes to management practice by showing
that the requirement and requirement of minimum
content do not cause the desired effect.
Key words: Codes of ethics; Cultural aspects;
Institutional pressures; Organizational legitimacy.
DOI: https://doi.org/10.5007/2175-8077.2017v19n49p133
Recebido em: 25/02/2017
Revisado em: 08/12/2017
Aceito em: 20/01/2108
Os CódigOs de étiCa das Organizações
refletem a Cultura naCiOnal Ou as pressões
instituCiOnais pela busCa de legitimidade?
Do the Ethical Codes of the organizations reflect the national
culture or the institutional pressures for legitimacy?
Mariana Nunes Machado dos Santos
Mestre em Administração de Empresas. Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro, PUC-Rio. Rio de Janeiro, RJ. Brasil.
E-mail: marianasantos05@hotmail.com
Patricia Amélia Tomei
Doutora em Administração de Empresas. Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro, PUC-Rio. Rio de Janeiro, RJ. Brasil.
E-mail: patomei@iag.puc-rio.br
Fernando Antônio Ribeiro Serra
Doutor em Engenharia de Materiais. UNINOVE. São Paulo, SP.
Brasil. E-mail: fernando.antonio.ribeiro.serra@gmail.com
Marcio Luiz Marietto
Doutor em Administração. ESTG – Instituto Politécnico de Leiria,
Portugal. Email: profmarcioluiz@uol.com.br
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Revista de Ciências da Administração • v. 19, n. 49, p. 133-1 51, dez. 2017
Mariana Nunes Machado dos Santos • Patricia Amélia Tomei • Fernando Antônio Ribeiro Serra • Marcio Luiz Marietto
Revista de Ciências da Administração • v. 19, n. 49, p. 133-151, dez. 2017
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1 Introdução
Nos mercados internacionais, as organizações são
expostas a diferentes ambientes culturais (FRANCIS,
1991) que impõem o estabelecimento de uma gestão
ética para serem consideradas legítimas (OLIVEIRA;
ALBUQUERQUE; PEREIRA, 2013). A cultura nacional
parece influenciar os aspectos do que é considerado
ético para os negócios nos países onde as organizações
atuam(VITTEL; NWACHUKWO; BARNES, 1993;
TSUI; WINDSOR, 2001). Mas esta relação não é dada
como certa (PRIEM; SHAFER, 2001), pois diversos
trabalhos sugerem que a percepção ética parece se ho-
mogeneizar entre os países (LYSONKI; GAIDIS, 1991;
WHIPPLE; SWORDS, 1992; ALLMON, et. al., 1997).
Os Códigos de Ética das organizações, por meio
de seus conteúdos, em geral, representam o impacto
das culturas nacionais sobre a gestão. O objetivo dos
Códigos de Ética é guiar as tomadas de decisão e esta-
belecer as condutas éticas da organização em possíveis
conflitos de interesses entre seus stakeholders, em geral,
considerando a cultura nacional e local na qual a or-
ganização está imersa (KARNES et al., 1990; HOOD;
LOGSDON, 2002; VERBOS, et al., 2007). No entanto,
as pressões institucionais sobre as organizações pela
busca de legitimidade, mesmo em diferentes países,
parecem influenciar de forma isomórfica estes con-
teúdos em detrimento da representação dos aspectos
culturais e idiossincráticos das organizações. Portanto,
percebemos uma lacuna sobre os conteúdos dos Có-
digos de Ética que requerem um melhor entendimento
em diferentes países (CHUNG; EICHENSEHER, 2003,
HOLDER-WEBB; COHEN, 2012; AHMED).
Neste estudo, procuramos responder a seguinte
pergunta de pesquisa: os conteúdos dos códigos de
ética das organizações localizadas em diferentes países
refletem os aspectos culturais e idiossincráticos das
organizações ou refletem as pressões institucionais
pela busca de legitimidade? Para responder a pergunta
elaboramos, a partir do referencial teórico, duas propo-
sições que figuraram em contra ponto e foram testadas
na pesquisa: 1) As percepções éticas relacionadas aos
aspectos sociais, organizacionais e profissionais entre
brasileiros e portugueses são distintas, influenciando,
dessa forma, os códigos de ética das respectivas or-
ganizações; 2) A organização e conteúdo dos códigos
de ética das organizações brasileiras e portuguesas
convergem devido às pressões dos ambientes técnicos
e institucionais para a busca da legitimidade organiza-
cional, a despeito das diferenças culturais.
Os resultados demonstraram que os conteúdos
dos códigos de ética são convergentes, tanto na forma
como no discurso, entre as organizações e os países.
Os resultados indicaram ainda que a prática se dá por
questões de pressão ambiental em direção ao isomorfis-
mo entre os códigos. Assim, nossa pesquisa contribuiu
para os estudos de identidade ética ao evidenciar que
as pressões dos ambientes técnicos e institucionais
tendem a provocar comportamentos isomórficos das
organizações pela busca de legitimidade organizacional.
Este artigo divide-se no desenvolvimento con-
ceitual das proposições. Em seguida adentramos ao
método da pesquisa e à análise dos dados. Após,
demonstramos os resultados e, finalmente, estabele-
cemos as discussões e os comentários finais buscando
contribuir com indicações para estudos futuros.
2 desenvolvImento ConCeItual
das ProPosIções
2.1 Cultura nacional, fatores culturais e
códigos de ética
A cultura pode ser considerada como um conjunto
de características comuns que interagem e influenciam
as atitudes e os comportamentos dos membros de uma
comunidade (FLAMING; AGACER; UDDIN, 2010),
podendo, por isto, ser apreciada como um sinônimo de
nacionalidade (MCDONALD, 2000). Hofstede (2011,
p.8) considerou a multidimensionalidade da cultura
nacional e propôs seis dimensões culturais para analise:
1) A “Distância do Poder” que se refere à medida por
meio da qual a sociedade lida com os seus problemas
de desigualdade na distribuição do poder, status, pres-
tígio e riqueza; 2) A “Aversão à Incerteza” que observa
como a sociedade lida com o seu nível de estresse ao
enfrentar o futuro desconhecido e ao se deparar com
situações ambíguas; 3) “Individualismo versus coletivis-
mo” refere-se à forma pela qual os indivíduos se inte-
gram (ou não) em grupos. Descreve o relacionamento
entre o indivíduo e a coletividade que prevalece em
uma dada sociedade. Reflete, também, a forma como
as pessoas vivem juntas, seja no seio de uma família

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