O cinema como ferramenta de fabulação, memória e invenção: leituras dos filmes 'Mauro em Caiena' e 'Branco sai, preto fica
Autor | Aline Portugal |
Cargo | Mestranda em Comunicação Social no Programa de Pós-Graduação em Comunica-ção da Universidade Federal Fluminense Universidade Federal Fluminense |
Páginas | 109-130 |
doi:10.5007/1984-784X.2015v15n23p109
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|boletim de pesquisa nelic, florianópolis, v. 15, n. 23, p. 109-130, 2015|
O CINEMA COMO FERRAMENTA DE FABULAÇÃO,
MEMÓRIA E INVENÇÃO
LEITURAS DOS FILMES
MAURO EM CAIENA E BRANCO SAI, PRETO FICA
Aline Portugal
UFF/CAPES
RESUMO: Este artigo busca perceber, em Mauro em Caiena (Leonardo Mouramateus. Fortaleza,
2012) e Branco Sai, Preto Fica (Adirley Queirós. Brasília, 2014), como esses filmes lidam com a
fabulação e a memória numa perspectiva criadora para pensar a cidade. Abordaremos os filmes
enquanto máquinas — a partir do conceito de Guattari — observando os agenciamentos e cone-
xões que eles realizam. Buscaremos perceber, ainda, a forma com que os filmes se constroem utili-
zando elementos de “ficção científica”, que extrapolam o real sem dele se distanciar completamente.
PALAVRAS-CHAVE: Cinema brasileiro contemporâneo. Periferia. Fabulação.
CINEMA AS A TOOL OF FABULATION,
MEMORY AND INVENTION
READINGS OF THE FILMS
MAURO EM CAIENA AND WHITE OUT, BLACK IN
ABSTRACT:
This article tries to perceive, in Mauro em Caiena (Leonardo Mouramateus. Fortaleza,
2012) and White Out, Black In (Adirley Queirós. Brasília, 2014), how these films deals with fabu-
lation and memory in a creative perspective to think about city. We see the films as machines — in
the way of Guattari’s concept — noticing the agencies and connections they do. We will look also
for the form the films use “science fiction” elements, extrapolating real without going too far from it.
KEYWORDS: Brazilian contemporary cinema. Suburb. Fabulation.
Aline Portugal é mestranda em Comunicação Social no Programa de Pós-Graduação em Comunica-
ção da Universidade Federal Fluminense Universidade Federal Fluminense.
doi:10.5007/1984-784X.2015v15n23p109
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|boletim de pesquisa nelic, florianópolis, v. 15, n. 23, p. 109-130, 2015|
O CINEMA COMO FERRAMENTA DE FABULAÇÃO,
MEMÓRIA E INVENÇÃO
LEITURAS DOS FILMES
MAURO EM CAIENA E BRANCO SAI, PRETO FICA
Aline Portugal
Fabulação: O que se opõe à ficção não é o real, não é a
verdade que é sempre a dos dominantes ou dos coloni-
zadores, é a função fabuladora dos pobres, na medida
em que dá ao falso a potência que faz deste uma memó-
ria, uma lenda, um monstro.
Gilles Deleuze, A imagem-tempo
Um menino de cinco anos sorri, muito perto da câmera [Figura 1]. Ele
olha para a lente. Começa a respirar ofegante, como um cachorro. Aproxima-
se mais da câmera — que a esta altura tornou-se já o seu brinquedo, e começa
a lamber. Continua a fazer sons estranhos. O cachorro-menino late, e ri.
FIGURA 1
Em seguida, de cueca, ele escala uma árvore situada entre uma rua e um
terreno de terra abandonado, com pedaços de lixo jogados pelo chão. Ao
fundo, montes de areia indicam uma construção em algum lugar próximo.
Uma retroescavadeira recolhe a areia, no último plano.
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