Castração (complexo de-)

AutorSilvane Maria Marchesini
Ocupação do AutorJurista. Psicóloga. Psicanalista. Pós-Graduada, Mestra em Psicologia Clínica
Páginas185-187

Page 185

Em psicanálise, a palavra "castração" está associada a vários termos que a especiicam e que ela, por sua vez, também os torna mais precisos: angústia, ameaça, simbólico, medo, terror, negação etc., e, sobretudo, complexo. Para além das acepções correntes, a deinição psicanalítica de castração inspira-se, de fato, no que as crianças do sexo masculino temem: a ablação do pênis. A palavra está essencialmente vinculada à de complexo, no sentido em que complexo de castração, acoplado ao Complexo de Édipo, é o organizador da psicossexualidade e, lato sensu, da vida psíquica.

A colocação metapsicológica do complexo de castração é relativamente tardia na obra de Freud, mas a palavra "castração" aparece mais cedo, ligada a diver-sas noções psicanalíticas cujo levantamento permite seguir cronologicamente o encaminhamento teórico. [...] Nos "Três ensaios sobre a teoria da sexualidade" (1905d), Freud trata de aberrações sexuais, da sexualidade infantil e das metamorfoses da puberdade. O medo e a angústia de castração são repetidamente citados, e ainda mais nas edições ulteriores. Em 1915 e 1920, a problemática da castração é claramente explicitada no contexto edipiano, e o complexo de castração é tido na conta de importante noção teórico-clínica.

Em relação às respostas dilatórias dos pais às perguntas que as crianças fazem sobre "de onde vêm os bebês" e a sexualidade em geral, Freud assinala em "Sobre as teorias sexuais das crianças" (1908c) a coexistência nas crianças (primeira cliva-gem no funcionamento psíquico) de uma versão oi-cial, a dos pais, e a de um conjunto de "teorias" de cuja veracidade elas estão convencidas. A primeira dessas "teorias" consiste em acreditar que todos os seres humanos possuem um pênis. É o desmoronamento dessa convicção que vai induzir à ideia de castração. Observe-se que, de início, o modelo psicos-sexual escolhido é o do rapaz; o que levará Freud a explicar ulteriormente a psicossexualidade feminina em relação a esse modelo. Em todo caso, já se fala nesse texto sobre a "atroia do clitóris" como pequeno pênis e da mulher "mutilada".

A "Análise de uma fobia em um menino de cinco anos (o pequeno Hans)" (1909b) ilustra e completa as "teorias sexuais infantis". O complexo de castração é, ainda em 1909, no espírito de Freud uma espécie de núcleo psicopatológico frequente que deixa, por outro lado, "traços impressionantes nos mitos". É ampliado em seguida pelo segundo tempo da ameaça, o tempo do visto, ou seja, quando Hans (três anos e meio) constata que sua irmã, que acaba de nascer, não tem pênis. Essa constatação induz um desmentido (negação): quando sua irmã crescer, seu pênis icara maior. [...]

Em "Totem e Tabu" (1912-13a), Freud desenvolve o mito que ele sustenta ser o fundador da socialização humana. Ameaça de castração e parricídio são os temas constantemente presentes nos textos dessa linha, ao longo de sua obra, até "Moisés e o Monoteísmo" (1939a). [...] O Homem dos lobos aspira a uma identiicação com a posição passiva de sua mãe durante o coito; ele escolhe, portanto a fantasia de penetração anal pelo pai, o que implica uma...

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT