Caso 9. Delegado-Vítima

AutorAntonio Carlos da Carvalho Pinto
Ocupação do AutorProfessor de Direito Processual Penal. 'Ex' Coordenador de Direitos e Prerrogativas da OAB/SP.
Páginas125-132

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A morte do Delegado Fleury, até hoje tida como decorrente de "queda acidental" no mar da paradisíaca Ilha Bela, no Litoral Norte de São Paulo, nesse suposto acidente, por certo, objeto e mira da "Comissão da Verdade", tem a ver com o "caso" ora relatado, como explico:

No dia desse nebuloso acidente marítimo, segundo o qual o Chefe do "Deops" acabou "mergulhando" ou "mergulhado", ao passar de um iate de um amigo para o seu próprio "barquinho", o Chefe do Departamento da Polícia Científica era o delegado Lúcio Vieira.

O Diretor do Instituto Médico Legal era o médico legista Harry Shibata, acusado de "esquentar" inúmeras e falsas necropsias, das vítimas do sistema "Doi-Codi".

Depois de, pessoalmente, resgatar o corpo do Delegado Fleury e proibir o IML de efetuar a Necropsia do cadáver, o próprio Delegado Lúcio teria providenciado um pomposo velório, no saguão do DEIC.

Passado algum tempo, Lúcio Vieira obteve a designação de seu sobrinho, salvo engano, chamado Luciano Vieira, muito jovem, para exercer o cargo de Delegado Titular de São Sebastião.

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Nessa circunscrição policial situavam-se inúmeras praias, dentre as quais Ilha Bela e Maresias.

Pois bem:

Meses após tomar posse, num sábado, início de noite, no conhecido "Bar Shaolim", situado na Praia de Maresias, achavam-se presentes dois policiais do "GARRA", da Capital, ambos acompanhados por duas mulheres, uma delas menor de idade.

Após a ingestão de bastante álcool, em meio ao salão de danças, o investigador chamado Gerônimo se desaveio com um circunstante que, na versão acusatória, havia "passado a mão na bunda" da sua companheira.

Contratado pela Associação dos Delegados de Polícia, requeri e fui admitido como Assistente do Ministério Público.

A colheita da prova, desde a fase policial até a judicial, foi literalmente complicada, com inquirição de testemunhas presenciais, além de policiais, colegas da vítima.

As testemunhas, sem exceção, realçaram qualidades de Gerônimo, havido como excelente policial, sem nenhuma mácula no exercício profissional, elogiado por Delegados e tido como modelo.

O inusitado:

Na véspera do julgamento, encontrava-me em minha casa de praia, estudando e preparando os argumentos com os quais pretendia auxiliar o Promotor de Justiça quando, para minha surpresa e satisfação, atendi telefonema de sua Excelência, solicitando uma conversa sobre o júri, naquela mesma noite.

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Momentos após e só então, conheci pessoalmente o Pro-motor, recém empossado, sendo certo que, iniciante na carreira, o julgamento do dia seguinte seria sua primeira atuação plenária, daí a preocupação da conversa.

Depois de um saboroso café, o Promotor me disse que, após muito estudar o processo, ele não se achava convencido...

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