Caso 30. A 'Clínica'

AutorAntonio Carlos da Carvalho Pinto
Ocupação do AutorProfessor de Direito Processual Penal. 'Ex' Coordenador de Direitos e Prerrogativas da OAB/SP.
Páginas291-298

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Localizada no Interior deste Estado de São Paulo, a "Clínica M." constitui um luxuoso, enorme e caríssimo "nosocômio" psiquiátrico, de projeção nacional e internacional, fulcrado em moderno processo de recuperação de jovens, moças e rapazes ricos, dependentes de álcool e/ou drogas.

Propriedade de um médico baiano, o demorado tratamento quimioterápico se desenvolvia em etapas, de tal sorte que, na medida ou no estágio de recuperação, os internos vão assumindo responsabilidades internas, sempre voltadas à meta final que outra não é senão a "alta" médica e desinternação.

HRJ era jovem, de dezenove anos de idade, loiro, olhos verdes, corpo de atleta, filho único, estudante, criado por uma tia, solteira, advogada civilista, militante, além de professora-titular da Faculdade de Psicologia, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

Essa abnegada tia obteve a guarda do sobrinho, desde quando, na pré-adolescência, os pais biológicos assumiram

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convivência beligerante, com brigas diárias e costumeiros espancamentos, até a separação do casal.

A afetividade entre os pais biológicos e o filho era tão negativa que, para se ter uma ideia, durante todo o "calvário" advindo da conturbada relação dos pais, o coeficiente afetivo dedicado ao filho não passou de ZERO.

Tudo não obstante, o que faltou dos pais, o "atleta" recebeu em amor e carinho da tia e da avó paterna.

Nível educacional compatível, atuando profissionalmente com o corpo, beleza e estampa, Hélio deixou-se enredar pelo "mal do século", mergulhando na "cocaína", tornando-se dependente físico e psíquico.

A mudança de comportamento se fez inescondível, até porque o hábito e depois a dependência restou tisnada de agressividade e desapreço pelo estudo e pelo trabalho, circunstâncias que desaguaram na internação, uma vez infrutíferas as tentativas psico-terápicas ambulatoriais.

A "Clínica M.", como salientado, era o point do momento, esconderijo de "mauricinhos e patricinhas", com invejável hotelaria para artistas nacionais e estrangeiros "de reno-me", que ali aportavam para habituais "desintoxicações" de álcool e ou drogas.

Segundo comentários, o médico proprietário, responsável pela vida e tratamento dos pacientes, embora tivesse residência na cidade, se ausentava costumeiramente para, a "justo título" gozar ócio em sua espetacular mansão à beira-mar, em Salvador.

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Pois bem:

Num sábado, ausente o médico, ficou responsável por todos os internos uma Psicóloga, moça, solteira, incompetente e soberbamente irresponsável que, por incrível, entregou a chave da porta principal da "Clínica" para um Doente, no "último estágio de progressão", e foi para um "baile", que acontecia na cidade.

Como...

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