Caso 19. Jânio Quadros

AutorAntonio Carlos da Carvalho Pinto
Ocupação do AutorProfessor de Direito Processual Penal. 'Ex' Coordenador de Direitos e Prerrogativas da OAB/SP.
Páginas201-207

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Outra vez, as pedras...!

O advogado Jânio da Silva Quadros, pobre, feio, estrábico e caspento entrou na política e conseguiu o prodígio de ascender à Presidência da República, tendo renunciado pouco tempo depois da posse, sendo certo que, sempre que era questionado acerca da verdadeira "causa" da renúncia, o "ex" dizia que havia sido derrubado por "forças ocultas".

Em verdade, tudo não teria passado de tentativa de "golpe", visando a "coroa ditatorial", eis que, incapaz de costurar uma "base aliada", tipo "mensalão", sem alternativa, optou pela renúncia.

Passados alguns anos, picado do veneno da política e do poder, tido, aclamado e reconhecido como honesto, Jânio novamente se candidatou, agora, para a Prefeitura da Capital, vencendo o pleito.

O símbolo da campanha era uma "vassourinha", o mesmo distintivo com o qual, antes, havia conquistado a Presi-

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dência da República, sob a promessa de varrer a corrupção que sempre grassou neste País.

Em meio à campanha eleitoral o Escrevente de Cartório chamado Haroldo, fanático pelo Jânio, após o expediente, parou na padaria próxima de sua casa para tomar a "cerveja de fim de tarde".

Demorou pouco para o assunto virar eleição e, descambando a conversa, um cidadão acabou por dar um murro no peito do janista que, residente a poucos metros, foi até a sua casa, armou-se, retornou e matou o eleitor opositor, rumando para Santos, livrando-se da prisão em flagrante.

Haroldo é filho de um sargento da Polícia Militar.

A Delegacia havia elaborado apenas um Boletim de Ocorrência, quando vieram ao meu escritório, pai e autor, este, "de cara limpa".

Ouvi o relato da cena e comentei que a situação era muito delicada, até porque, embora agredido, Haroldo não exibia qualquer lesão.

Nesse momento o pai disse que desejava apresentar o filho no dia seguinte, acertou o preço e ficamos combinados para o final da tarde do dia subsequente.

No dia seguinte, Haroldo retornou com o sargento, exibindo lesão de violento soco no olho esquerdo, com versão segundo a qual, ao retornar à padaria, antes mesmo de descer do carro, a vítima havia aplicado o soco, por isso que, ato contínuo, sob violenta emoção, havia atirado o seu agressor-vítima.

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Ouvi e logo questionei:

- E as testemunhas?

Resposta do sargento:

- Deixa comigo que amanhã estará resolvido.

Apresentado, Haroldo foi indiciado e interrogado, declinou, com exatidão, a versão arquitetada pelo pai.

As testemunhas ouvidas na polícia, sem exceção...

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