Caso 14. Traição Perdoada

AutorAntonio Carlos da Carvalho Pinto
Ocupação do AutorProfessor de Direito Processual Penal. 'Ex' Coordenador de Direitos e Prerrogativas da OAB/SP.
Páginas167-171

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O réu, empresário do ramo cibernético, era boa pessoa, bom pai e ótimo marido, de uma funcionária da Justiça do Trabalho.

Num final de expediente, em plena via pública, por ciúme, matou um juiz "Classista", atuante na Vara em que sua mulher trabalhava.

Preso e autuado em flagrante delito, o indiciado contratou os serviços do criminalista Waldir Troncoso Peres que, com a rotineira competência, desde logo obteve habeas corpus liberatório.

Os pais da vítima eram industriais, membros da Dire-toria da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo e contrataram como assistente do Ministério Público o criminalista Fausto Sucena que, além de advogado, empresário, rico e apaixonado por júri, defendia réus pobres, de graça, semanalmente, daí a ser considerado como maior conhecedor do "quadro de jurados" em atuação na Capital.

No julgamento, os jurados aceitaram os argumentos do assistente do Ministério Público, com a consequente conde-

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nação do marido traído a seis anos de prisão, com direito de apelação em liberdade, afastadas as qualificadoras.

Waldir apelou, o Tribunal de Justiça mandou o empresário a novo julgamento.

Não desejando mais continuar na causa, o "Príncipe" indicou-me para substituí-lo, insistindo que eu aceitasse a defesa, ensinando-me como desenvolver uma nova tese, com novos argumentos, sobre os quais ele mesmo já havia refletido.

O Príncipe foi incomparável defensor, especialmente, em crimes passionais.

Nesse júri anulado, a mulher da vítima foi ouvida em plenário e confirmou a versão do marido-réu, declinada, em termos gerais e em síntese, da seguinte forma:

"O casal saiu para jantar em comemoração à data do casamento, beberam, e lá pelas tantas, já bem ‘alta’, de mãos dadas e dedos entrelaçados, ‘olho no olho’, a mulher disse estar sofrendo muito, em conta de um segredo que vinha guardando há um ano e meio, terminando por confessar a traição, com o seu chefe, acrescentando que, quando dizia estar na casa da irmã, na verdade estava dando ‘uma rapidinha’ com o juiz, concluindo com súplica de perdão e promessa de nunca mais desonrar o marido e as duas filhas do casal."

Atento ao adágio popular "Um olho no peixe, outro no gato", embora houvesse perdoado a adúltera, no dia e hora

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do crime, dissimuladamente e sem qualquer aviso, armado, o marido postou-se escondido para espreitar a mulher.

Ao final do expediente, presenciou o amante encostar um carro à frente da saída dos funcionários, nele adentrando...

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