A 'Casa-mãe' e as 'sucursais': colonialismo, nacionalismo e cosmopolitismo no pensamento de António Sérgio

AutorLaurindo Mekie Pereira
CargoUniversidade Estadual de Montes Claros, Unimontes. Montes Claros/MG
Páginas197-213
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DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-7976.2018v25n39p197
A “Casa-mãe” e as “sucursais”: colonialismo, nacionalismo e
cosmopolitismo no pensamento de António Sérgio1
The “mother-house” and its “subsidiaries”: colonialism,
nationalism and cosmopolitism in António Sérgio’s thoughts
Laurindo Mekie Pereira*
Resumo: O objeto deste artigo é uma análise acerca do problema colonial no
pensamento do escritor português António Sérgio . O objetivo é investigar como
a temática evoluiu nos escritos do autor entre os anos 1919 e 1958, balizas
temporais da sua intervenção mais efetiva no debate. O argumento central do
artigo é que a posição de António Sérgio quanto às colônias só é compreensível
no interior da tríade colonialismo-nacionalismo-cosmopolitismo e dentro das
suas proposições teóricas gerais, especialmente no que concerne ao papel das
elites nas transformações sociais.
Palavras-chave: António Sérgio, Portugal, Colonialismo e Nacionalismo
Abstract: The subject of this article is an analysis of the colonial problem in
the ideas of the Portuguese writer António Sérgio. The aim is to investigate
how the issue developed in António Sérgio’s books between 1917 and
1958, temporal landmarks of his participation in the debate. The principal
proposition of this article is that António Sérgio’s position about colonies only
can be understood into the triad colonialism-nationalism-cosmopolitism and
inside of his theoretical general propositions about elites’ functions on social
transformations.
Key-words: António Sérgio, Portugal, Colonialism, Nationalism
Artigo
198
Revista Esboços, Florianópolis, v. 25, n. 39, p. 197-213, jul. 2018.
Introdução
Os homens comuns, de mentalidade mediana, reproduzem as modas
intelectuais do seu tempo, “absorvem as noções de seu ambiente social”, mas
as mentes superiores como Luiz Verney e Antero de Quental colocam questões
universais, acima do lugar e do tempo, arma António Sérgio2.
Levada às últimas consequências, a tese acima implica a supressão
da história. Não faremos isso. Neste texto propomos uma discussão sobre o
problema colonial no pensamento de António Sérgio, confrontando suas ideias
com o tempo histórico em que elas foram produzidas.
Antonio Sérgio nasceu em 1883 em Damão (antiga Índia portuguesa),
parte do império português. Por inuência da família, estudou no Real Colégio
Militar e depois na Escola Politécnica, tornando-se marinheiro e posteriormente
tenente da Armada. Mas sua paixão principal era a losoa. Em 1910, passou
a trabalhar para uma editora norte-americana, ocasião em que começam a
emergir as suas facetas de lósofo, educador e político.3 (PINHO, 2012, p.
8-9). No mesmo ano licenciou-se da Marinha, para onde nunca mais retornou.
No início dos anos 1920, António Sérgio teve sua única experiência
como gestor público. Foi Ministro da Instrução de Portugal entre 18 de
dezembro de 1923 e 23 de fevereiro de 1924. Mas seu território era outro,
embora jamais tenha se desligado dos embates políticos. Em 1958, o autor fez
as suas últimas publicações, afastando-se a partir de então do debate público.
Faleceu em 1969, em Lisboa.
Foi um dos mais inuentes pensadores em Portugal ao longo de todo
o século XX, tendo escrito sobre Política, Sociologia, Filosoa, História,
Epistemologia, Educação e outras áreas. Foi, no dizer de Romana Valente
Pinho, o reformador de Portugal.4
Durante décadas, especialmente entre 1910 e 1960, o autor foi
personagem de proa na cultura portuguesa, ocupando “uma posição singular”,
“única”, na “história das ideias losócas” do país, sendo “o mais alto
representante do humanismo progressista burguês em Portugal (...), não é só
um altíssimo escritor de ideias, o maior das nossas letras (...), é um grande
homem na acepção completa destas palavras.”5
Embora a questão colonial tenha ocupado o centro do debate político
em conjunturas cruciais da história de Portugal, a exemplo dos anos 1925/1926
e das décadas de 1950 e 1960, ela aparece com pouca frequência nos escritos
do nosso autor.
Em janeiro de 1926, a Revista Seara Nova dedicou uma edição inteira
ao “problema colonial”6, com a participação de seus principais integrantes.
Era uma conjuntura de forte pressão da Liga das Nações e de iminente ameaça
de perda das colônias portuguesas, como então se julgava. Para Valentin
Alexandre, a própria queda da Primeira Republica é condicionada pela questão
colonial.7 Não poderia haver tema mais “atual” e importante. No entanto, Sérgio

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