Capacidades ecoeficientes e as interferências no desempenho social: um estudo das unidades federativas do Brasil
Autor | Marcos Chiodini, Janaína Gabrielle Moreira Campos da Cunha Amarante |
Páginas | 74-94 |
Marcos Chiodini • Janaína Gabrielle Moreira C. da Cunha Amarante
R C A
Esta obra está sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso.
5
RESUMO
O propósito deste estudo é contribuir com as discussões socioambien-
tais no âmbito da gestão governamental, adentrando na relação entre
ecoeciência e desempenho social. O estudo consistiu em um perl
descritivo, com uma abordagem quantitativa cujo processo ocorreu
em dois momentos: para estabelecer os scores de ecoeciência, foi
empregada a técnica não paramétrica FDH com o modelo orientado
para insumos e na sequência foi utilizada a correlação linear de Pear-
son, buscando encontrar possível associação entre os constructos
investigados. Os resultados evidenciam que as Unidades Federativas
ecoecientes tendem a ter maior potencial econômico. Sob a análise
comparativa regional, o Sul e o Sudeste, em conjunto, apresentam
melhores índices de ecoeciência e baixos índices de ineciência. As
regiões benchmarking, apresentam correlação linear negativa mode-
rada, sugerindo que a desigualdade social tende a diminuir à medida
que o score de ecoeciência aumenta. Espera-se que tais resultados
norteiem, quanto ao apelo prático, às políticas públicas no que tange à
eciência econômica e ambiental. Não obstante, são designadas tam-
bém contribuições teóricas para a comunidade cientíca quanto ao
preenchimento da lacuna de literatura na área em questão, trazendo
uma nova compreensão do tema de forma abrangente e descortinan-
do novas possibilidades de pesquisas relacionadas ao alinhamento
entre as perspectivas ambientais e sociais e a gestão pública, bem
como oportunidades de replicação e exploração mais especícas e
particulares de cada Unidade Federativa investigada.
Palavras-chave: Ecoeciência. FDH. Desempenho Social. Índice de
Gini.
ABSTRACT
The purpose of this study is to contribute to the socio-environmental
discussions within the scope of government management, entering
into the relationship between eco-eciency and social performance.
The study consisted of a descriptive prole, with a quantitative approa-
ch whose process occurred in two moments: to establish the eco-e-
ciency scores, the non-parametric FDH technique was used with the
input-oriented model and in the sequence the linear correlation of
Pearson, seeking to nd possible association between the investigated
constructs. The results show that the eco-ecient Federative Units
tend to have greater economic potential. Under the regional com-
parative analysis, the South and Southeast, together, present better
eco-eciency indices and low levels of ineciency. The benchmarking
regions present moderate negative linear correlation, suggesting that
social inequality tends to decrease as the eco-eciency score increases.
It is hoped that such results will guide, as far as the practical appeal,
public policies regarding economic and environmental eciency.
Nonetheless, theoretical contributions are also made to the scientic
community regarding the lling of the literature gap in the area in
question, bringing a new approach to the topic comprehensively
and revealing new possibilities for research related to the alignment
between the environmental and social perspectives and the public
management, as well as more specic replication and exploitation
opportunities of each Federative Unit investigated.
Keywords: Eco-eciency. FDH. Social Performance. Gini index.
CAPACIDADES ECOEFICIENTES E AS INTERFERÊNCIAS
NO DESEMPENHO SOCIAL: UM ESTUDO DAS
UNIDADES FEDERATIVAS DO BRASIL
Eco-Eficient Capabilities and Interferences in Social
Performance: A Study of the Federative Units of Brazil
Marcos Chiodini
Graduação em Gestão Imobiliária pela Universidade Federal do
Paraná. Curitiba, PR. Brasil. e-mail: chiodini.marcos@gmail.com
Janaína Gabrielle Moreira C. da Cunha Amarante
Doutoranda em Administração. Pontifícia Universidade Católica –
PUC Paraná. Docente de cursos de pós graduação em Administração.
Curitiba, PR. Brasil. e-mail: gabrielle88_@hotmail.com
DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-8077.2018V20n52p74
Recebido em: 10/09/2017
Revisado em: 05/06/2018
Aceito em: 25/02/2019
Capacidades Ecoecientes e as Interferências no Desempenho Social: Um Estudo das Unidades Federativas do Brasil
Revista de Ciências da Administração • v. 20, n. 52, p. 74-94, Dezembro. 2018 75
R C A
1 INTRODUÇÃO
As profundas transformações ocorridas na
sociedade, ocasionadas por novos posicionamentos
socioambientais e novos estímulos aos debates às
questões ambientais, são consequências das preo-
cupações advindas pelo crescimento populacional,
consumo e consequentemente à necessidade de
atendimento às demandas de um modo geral, sob
a ótica da utilização mais eciente dos recursos na-
turais (HINTERBERGERET et al., 2000; GUO, LO,
TONG; 2016). Promover a ecoeciência e buscar o
desenvolvimento sustentável tornaram-se escolhas
inevitáveis (HUANG; LI; YU, 2018).
A denição de ecoeciência tem sido trabalha-
da anteriormente aos anos 70, com o progresso do
entendimento acerca da eciência ambiental (FREE-
MAN et al., 1973), contudo a consolidação e efetiva
da conceituação “ecoeciência” foi marcada no ano
de 1990, por meio Schaltegger e Sturm (1990), os
quais trouxeram a referida denição e realizaram a
conexão do desenvolvimento sustentável aos negócios
empresariais, sendo então divulgado e difundido
por meio do World Business Council for Sustainable
Development (WBCSD) (SCHMIDHEINY, 1992)
que defende a promoção da mudança da percepção
da indústria em relação às questões ambientais na
forma de relação harmônica entre economia e ecolo-
gia, visando a sustentabilidade, isto é, produzir mais
com menos.
De modo geral, a ação ecoeciente centraliza-se
em ocasiões favoráveis de negócios e possibilita apre-
sentação de um perl ambientalmente responsável e,
concomitantemente, a gestão mais efetiva de seus re-
cursos, com impactos em seus resultados nanceiros
mais lucrativos, como expõe Bleischwitz (2003), ao
mesmo tempo em que incentivam a atitude original
e, por consequência, a competitividade e o progresso
(WBCSD, 2000b). No contexto da supremacia eco-
nômica, caso a eciência econômica seja agrupada à
eciência ambiental, conduz à ecoeciência (BLEIS-
CHWITZ, 2003; HUANG; LI; YU, 2018). Nessa esfera,
entende-se, portanto, que a ecoeciência faz parte do
movimento sustentável também das instituições pú-
blicas (SAVITZ; WEBER, 2007; GOMÉZ et al., 2018).
Além da abordagem ambiental, o desempenho
social regional passa a ser parte integrante de in-
quietações neste âmbito. Segundo Lenza (2011), o
Brasil teve avanço signicativo com relação à ordem
social nos anos 2000. A Constituição Federal de
1988, diferentemente das antecessoras, não apenas
intencionou estruturar o Estado e defender os sujeitos
contra os descomedimentos governamentais, mas
também concretizou em seu Título VIII uma fração
exclusiva à ordem social. Conforme o artigo 193
dessa Constituição, a ordem social fundamenta-se na
primazia laboral e tem como propósitos o bem-estar
e a integridade social, denindo harmonia ideal com
a ordem econômica, que se baseia ainda nos termos
do artigo 170, caput, no reconhecimento do trabalho
humano e na atitude liberal (LENZA, 2011).
Nesse sentido, Arretche (2018) explica a ocor-
rência da considerável queda na desigualdade de
renda no Brasil nas duas últimas décadas, contra-
riando o que aconteceu nas décadas de 1960, 1970 e
1980. Nos anos 2000, a renda de metade da população
mais pobre aumentou 69%, enquanto isso aconteceu
com 10% da população mais rica da década de 1960.
Portanto, arma-se que o País está vivendo a época
com menor nível de desigualdade desde então.
O tema é tão emergente que a pauta principal
de discussões políticas mundiais volta-se ao ponto
de conciliar o crescimento econômico sem compro-
meter ou esgotar os recursos naturais insubstituíveis,
preservando as riquezas naturais e os sistemas ecoló-
gicos, além de promover a redução das desigualdades
sociais (HUANG et al., 2018).
A partir do contexto apresentado, ca evidente a
necessidade de estudos que se inclinem para a análise
da relação da ecoeciência e o desempenho social,
uma vez que tal abordagem não tem sido considerada
sob a perspectiva regional, com reconhecida escassez.
Ao mesmo tempo torna-se necessário compreender
o panorama econômico, as políticas ambientais e a
gestão pública no que concerne à utilização eciente
dos recursos, em especial, no domínio dos impactos
sociais. Esta preocupação apresenta-se como atual,
com tendências semelhantes e recentes no exterior,
como o estudo de Bai et al. (2017), o qual realiza a
mensuração da ecoeciência urbana da China. Tais
argumentos direcionam à problemática, a qual se
expressa como o norte desta pesquisa: Qual a rela-
ção entre a ecoeciência e o desempenho social das
Unidades Federativas do Brasil?
Para continuar a ler
PEÇA SUA AVALIAÇÃO
COPYRIGHT Universidade Federal de Santa Catarina