Camponesas em lutas pelo fim da violência contra as mulheres e pela produção de outras formas de existência

AutorGiovana Ilka Jacinto Salvaroa
CargoProfessora no Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Socioeconômico (PPGDS) e no Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC), Criciúma, SC, Brasil ? E-mail: giovanailka@gmail.com
Páginas479-501
Revista de Ciências Humanas, Florianópolis, v. 52, 2018, e57262
ISSN 2178-4582.
http://dx.doi.org/10.5007/2178-4582.2018.57262
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Dossiê Psicologias com Gênero
Acesso Aberto
Camponesas em lutas pelo fim da violência contra as mulheres
e pela produção de outras formas de existência
Peasants in struggles to end violence against women and the production of
other forms of existence
Campesinas en luchas por el fin de la violencia contra las mujeres y por la
producción de otras formas de existencia
Giovana Ilka Jacinto Salvaroa
a Professora no Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Socioeconômico (PPGDS) e no Programa de Pós-Graduação em
Direito da Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC), Criciúma, SC, Brasil E-mail: giovanailka@gmail.com
Resumo: O presente trabalho apresenta reflexões iniciais sobre a emergência de lutas pelo fim da violência contra as
mulheres, empreendidas pelo Movimento de Mulheres Camponesas do Brasil (MMC Brasil). Em uma rede ampla e
complexa, o MMC emerge como um movimento social rural nacional constituído no ano de 2004 pela unificação de
movimentos rurais autônomos de mulheres, com demandas e reivindicações por reconhecimento profissional, igualdade
de gênero, defesa da vida, garantia e direitos, entre outras. A partir do diálogo com estudos realizados sobre movimentos
rurais autônomos de mulheres e o MMC em diferentes regiões d o Brasil, da análise de publicações e de discussões
relacionadas ao 1º Encontro Nacional do Movimento de Mulheres Camponesas, realizado no ano de 2013, é possível
observar que as demandas e xpressas e que mobilizam ações de enfrentamento envolvem situações de violência sofridas
por mulheres rurais no contexto doméstico, assim como denunciam desigualdades de gênero que regulam/controlam
existências individuais e coletivas nas esferas privada e pública.
Palavras-chave: MMC. Violência contra as mulheres; Lutas de gênero.
Abstract: This paper presents initial reflections on the emergence of struggle to end violence against women, undertaken
by the Movement of Peasant Women of Brazil (Brazil MMC). In a large and complex network, MMC emerges as a
national rural social movement co nstituted in 2004 by the unification of autonomous rur al women's movements, with
demands for profes sional recognition, gender equality, the defense of life, guara ntee of rights, among others. From the
dialogue with studies on autonomous rural women's movement and the MMC in different regions of Brazil, the analysis
of publications and related discussions from the First National Meeting of the Movement of Peasant Women, held in
2013, it is possible to observe that the demands expressed and that mobilize coping actions involve situations of violence
suffered by women in the domestic context, as well as denouncing gender inequalities that regulate/control individual and
collective existences in the private and public spheres.
Keywords: MMC. Violence against women. Gender struggles.
GIOVANA ILKA JACINTO SALVARO
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Resumen: El presente trabajo presenta reflexiones iniciales so bre la emergencia de las luchas por el fin de la violencia
contra las mujeres, emprendidas por el Movimiento de Muj eres Campesinas de Brasil (MMC Brasil). En una red amplia
y compleja, el MMC emerge como un movimiento social rural nacional constituido en el año 2004 por la unificación de
movimientos rurales autónomos de mujeres, con demandas y reivindicaciones por reconocimiento profesional, igualdad
de género, defensa de la vida, garantía de derechos, entre otras. A partir del diálogo con estudios realizados sobre
movimientos rurales autónomos de mujeres y el MMC en diferentes regiones de Brasil, del análisis de publicaciones y de
discusiones relacionadas al Primero Encue ntro Nacional del Movimiento d e Mujeres Campesinas, realizado en el año
2013, es posible observar que las demandas expresas y que movilizan acciones de enfrentamiento involucran situaciones
de violencia sufridas por mujeres rurales en el contexto doméstico, así como denuncian desigualdades de género que
regulan/controlan existencias individuales y colectivas en las esferas privada y pública. .
Palabras clave: MMC. Violencia contra las mujeres. Luchas de género.
INTRODUÇÃO
A emergência de lutas pelo fim da violência contra as mulheres, empreendidas pelo
Movimento de Mulheres Camponesas do Brasil (MMC Brasil), apresenta-se como temática que
instiga reflexões e a escrita deste artigo. O interesse por bandeiras de luta do MMC remonta ao ano
de 2006, quando iniciei uma pesquisa de doutoramento sobre a constituição de sujeitos e
subjetividades em lutas de gênero enquanto práticas do Movimento de Mulheres Camponesas em
Santa Catarina (MMC/SC). Todavia, no que se refere às lutas pelo fim da violência contra as
mulheres, trata-se ainda de uma aproximação inicial e de uma reflexão preliminar que se pretende
ampliar com uma pesquisa de maior fôlego. No contexto brasileiro, como um movimento social
nacional rural de mulheres, o Movimento de Mulheres Camponesas do Brasil foi constituído no ano
de 2004 pela unificação de diferentes movimentos rurais autônomos de mulheres1 com trajetórias
iniciadas na década de 1980 em diferentes regiões do país (SALVARO, 2010).
No que se refere aos processos de organização coletiva e encaminhamento das lutas, o MMC
pode ser denominado como um novo movimento social (NMS), uma vez que visibiliza e traz para o
foco demandas que envolvem a busca por mudanças em relações sociais cotidianas. Nos novos
movimentos sociais, conforme ressalta Scherer-Warren (1996, p. 68), “o que há de inovador é a luta
pela ampliação do espaço da cidadania, incluindo-se aí a busca de modificações das relações sociais
cotidianas”. Como novas formas de organizações camponesas, Scherer-Warren faz referência ao
Movimento das Barragens (MAB), ao Movimento dos Sem-Terra (MST) e ao Movimento de
Mulheres Agricultoras (MMA).
1 Maria Ignez Paulilo (2004, p. 239) observa que “são chamados de movimentos autônomos de mulheres porque não
recebem apoio financeiro estável de nenhuma instituição ou outro movimento ”.

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