Campanha para ministro do Supremo?

AutorPedro Cantisano
Páginas101-102

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"Esse negócio que fazem agora, campanha para ser minis-tro do Supremo, é uma vergonha", disse o ministro Célio Borja ao projeto História Oral do Supremo, da FGV Direito Rio. Em seu depoimento, Eros Grau elabora:

"(...) o sujeito que vai para o Supremo pedindo para ir, ele chega com débitos. Não vou dizer que necessariamente sejam débitos de prestar favor em troca, ou pagar favor, mas ele chega condicionado nas suas pré-compreensões (...) Ele não tem autonomia, e não é de vontade, ele não tem autonomia de compreensão."

Para chegar ao Supremo, é preciso ter conexões políticas. É o que apontam as dez entrevistas até agora publicadas pela FGV. O projeto, que ouviu ministros aposentados e em atividade, tem como um de seus objetivos entender os caminhos que levam ao mais alto tribunal do país. Quase todas as entrevistas tocam, direta ou indiretamente, na questão dos apoios políticos necessários para chegar ao cargo. Mas qual deve ser a atitude do potencial indicado - deve-se buscar apoio ativamente? Fazer campanha?

Ao darem declarações como aquelas, Borja e Grau procuraram ainda marcar uma distância entre as práticas atuais e outras épocas da história do Supremo - épocas de maior comedimento e respeitabilidade. "Esse aí [o STF atual] é uma contrafação daquele tribunal", critica Grau.

Mas nem todos os ministros se posicionam de maneira tão irme ou crítica. Em várias entrevistas, podemos perceber como as histórias sobre a cadeia de fatos que levou cada ministro ao Supremo são, muitas vezes, repletas de contingências. Carlos Velloso foi cogitado, pela pri-

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meira vez, porque se sentou ao lado de um colega melancólico, numa van indo para Angra dos Reis. Sidney Sanches já estava na praia, de férias, quando foi abordado sobre a possibilidade de ocupar o cargo.

Os relatos, em alguns momentos conscientemente talhados pelos entrevistados, não negam que de fato ocorrem campanhas, mesmo que o próprio candidato não interira. É como se a indicação acontecesse com os ministros. "Eu...

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