O câmbio como ferramenta de política econômica e os efeitos sobre a indústria brasileira: uma análise histórica

AutorJonatham Ferreira Dias, Mirian Beatriz Schneider
Páginas41-66
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O câmbio como ferramenta de política econômica e os efeitos sobre a indústria
brasileira: Uma análise histórica
Resumo: O objetivo deste estudo foi analisar o papel da política cambial brasileira e a sua
influência sobre o setor industrial. Pode-se constatar que ocorre no Brasil uma
desindustrialização como perda de participação do setor industrial no PIB brasileiro. A
liberalização comercial e financeira abrupta nos anos 90, combinada a uma política cambial
sobrevalorizada nos anos 2000, em decorrência do fenômeno Doença Holandesa no Brasil,
podem estar afetando negativamente o setor industrial. Mesmo que os governos Lula e Dilma
tenham criado políticas industriais para fomentar o setor e mesmo que tenha sido válida,
contudo não foi suficiente, diante de um ambiente macroeconômico desfavorável,
principalmente em função do câmbio apreciado e de juros altos que inibem os investimentos
necessários para o crescimento da indústria. Em decorrência disso, a indústria brasileira perdeu
participação nas exportações brasileiras e o setor industrial apresentou baixo dinamismo tanto
externo quanto interno, uma vez que houve uma crescente importação de produtos industriais.
Palavras-chaves: Taxa de câmbio; Desindustrialização; Doença holandesa
Abstract: The aim of this study was to analyze the role of the Brazilian exchange rate policy
and its influence on the industrial sector. It can be seen occurring in Brazil de-industrialization
and loss of market share of the industrial sector in the Brazilian GDP. The rapid trade and
financial liberalization in the 90s, combined with an overvalued exchange rate policy in the
2000s as a result of Dutch Disease phenomenon in Brazil, may be adversely affecting the
industry. Even if Lula and Dilma governments, have created industrial policies to promote the
sector and even if it was valid, but it was not enough in the face of an unfavorable
macroeconomic environment, mainly due to the appreciated exchange rate and high interest
rates that inhibit the necessary investments to the growth of industry. As a result, the Brazilian
industry lost share in Brazilian exports and the industrial sector showed low dynamism both
external and internal, since there was a growing import of industrial products.
Keywords: Exchange rate; Deindustrialization; Dutch disease
Área de submissão: Globalização e competitividade regional
Classificação JEL do Trabalho: F00. F10. F14.
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1 INTRODUÇÃO
A globalização da produção possibilitou aos países uma intensa movimentação de
capitais estrangeiros em busca de maiores rentabilidades e importantes fontes para o
crescimento da economia brasileira. Contudo, a fuga de capitais origina a diminuição das
reservas cambiais pressionando as taxas de câmbio e a economia interna (CAPACLE
CORREA; LIMA, 2006). Dessa forma, através da política cambial, o Estado atua no sentido de
regular o funcionamento da economia no que se refere à estabilidade das taxas de câmbio e ao
equilíbrio no balanço de pagamentos (BACEN, 2014).
Para Trevisan (2004) a taxa de câmbio pode ser definida como a medida de conversão
da moeda de um país por moeda de outro, é um dos preços fundamentais da economia, uma vez
que permite avaliar os preços, expressos em moeda nacional, dos bens e serviços produzidos
no exterior, afetando o setor externo, a inflação, o crescimento da produção e outras variáveis
economicamente relevantes.
Existem dois tipos de taxas de câmbio conforme Carneiro (2013), a taxa nominal e a
taxa real. A taxa de câmbio nominal representa o preço de uma moeda em termos de outra, isto
é, quantas unidades de uma determinada moeda em troca de uma unidade da outra, a taxa será
definida como o número de unidades de moeda doméstica necessárias para adquirir uma
unidade da estrangeira, de modo que um aumento na taxa significa uma depreciação cambial
nominal doméstica, e sua redução significa uma apreciação. As taxas de câmbio têm papel
central no comércio internacional porque elas nos permitem comparar os preços dos bens e
serviços produzidos em países diferentes. Assim os indivíduos e empresas utilizam as taxas de
câmbio para traduzir os preços estrangeiros em termos da moeda doméstica (KRUGMAN e
OBSTFELD, 2001).
Afirmam Baumann, Canuto e Gonçalvez (2004) que a evolução nominal da taxa de
câmbio e de preços locais e externos afetam a competividade-preço de modo setorialmente
desigual, se ocorrer, no período, divergência entre os movimentos de preços relativos no país e
no exterior. Assim, alterações na taxa de câmbio podem gerar efeito nos preços, uma vez que
influem as decisões de oferta e demanda na economia, e consequentemente as importações e
exportações. Neste sentido, uma depreciação cambial, significa uma redução dos preços dos
bens nacionais em comparação com os estrangeiros e com isso a indústria doméstica passa a
gerar competitividade frente aos concorrentes internacionais. Por outro lado, uma apreciação
da taxa de câmbio representa produtos nacionais mais caros que os dos concorrentes externos,

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