O Brasil e a história das relações internacionais

AutorPaulo Gilberto Fagundes Vizentini
CargoHistoriador e Professor Titular de Relações Internacionais da UFRGS, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil
Páginas18-40
DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-7976.2014v21n32p18
O BRASIL E A HISTÓRIA DAS RELAÇÕES
INTERNACIONAIS
ABRAZIL AND THE HISTORY OF INTERNATIONAL
RELATIONS
Paulo Fagundes Visentini*
Resumo: Na historiograa brasileira e mundial, a História Diplomática deu
lugar à História das Relações Internacionais. Todavia, ambas tem caminhado
paralelamente, com periodizações próprias e dissociadas, sem dialogar
apropriadamente. O presente artigo busca associar ambas periodizações,
posicionando o Brasil dentro da História das Relações Internacionais mundiais,
desde a fase colonial ao século XXI.
Palavras-chave: Brasil; História; Relações Internacionais.
Abstract: In Brazilian and World historiography, Diplomatic History gave the
way to the History of International Relations. However, both are following
parallel ways, with exclusive and dissociate periodizations, without stablishing
na appropriate dialogue. This article try to associate both periodizations, putting
Brazil in the world History of International Relations, from colonial period to
the 21st Century.
Key-words: Brazil; History; International Relations
* Historiador e Professor Titular de Relações Internacionais da UFRGS, Porto Alegre, Rio
Grande do Sul, Brasil. Doutor em História Econômica/USP, Pós-Doutorado em Relações
Internacionais/London School of Economics, Coordenador do Núcleo de Estratégia e Rela-
ções Internacionais da FCE. E-mail: paulovi@ufrgs.br
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Revista Esboços, Florianópolis, v. 21, n. 32, p. 18-40, out. 2015.
INTRODUÇÃO
A formação social e nacional brasileira teve sua origem na expansão
européia dos séculos XV-XVI, através da “descoberta” e colonização
portuguesas. Durante quase quatro séculos a inserção internacional da
região processou-se através das potências européias, inicialmente por
meio do mercantilismo português e, posteriormente, via liberalismo inglês.
Na passagem do século XIX para o XX, contudo, o eixo da diplomacia
política e econômica do Brasil se voltou para os Estados Unidos, limitando-
se ao âmbito hemisfério. Desde o início dos anos 1960, na esteira do
desenvolvimento industrial, a política exterior brasileira voltou-se para a
busca de novos espaços, através da mundialização e da multilateralização.
Sob os efeitos da globalização, no nal do século XX o país passou a valorizar
os espaço regional latino-americano, através do Mercosul, ainda que sem
renunciar completamente à cooperação com alguns dos espaços planetários
anteriormente atingidos. Esta poderá se armar, nos próximos anos, como
uma nova fase das relações do Brasil com o mundo.
A História Diplomática tradicional, cujo paradigma foi representado
pelo clássico Manuel Historique de Politique Etrangère, de autoria de
Emile Bourgeois (datado de ns do século XIX), abarcava apenas o estudo
das relações ociais entre os Estados, expressa na atuação de agentes
credenciados pelos governos. No Brasil, essa tendência atingiu sua forma
acabada nas histórias Diplomáticas de Hélio Vianna e Delgado de Carvalho.
Essa abordagem cedeu o seu lugar à mais complexa História das Relações
Internacionais, desde a armação dos trabalhos de Pierre Renouvin e Jean-
Baptiste Duroselle, nas décadas de 1950 e 1960. No Brasil, a nova perspectiva
teórica foi desenvolvida a partir dos estudos de José Honório Rodrigues, tais
como Brasil e África, e Interesse Nacional e Política Externa, ambos dos
anos 19601.
A política exterior envolve aspectos mais determinados dentro do
conjunto das Relações Internacionais. Ela enfoca a orientação governamental
de determinado Estado a propósito de determinados governos e/ou Estados, ou
ainda regiões, situações e estruturas, em conjunturas especícas. A interação,
conitiva ou cooperativa, das políticas externas deve ser considerada como
parte de um sistema mundial, constituindo então em seu conjunto a política
internacional.
Na análise da política externa, emergem duas questões de fundamental
importância: em primeiro lugar, quem a formula, e, em segundo, de que forma
que ela se articula a política interna. Quanto ao primeiro aspecto, qualquer
estudo empírico mais aprofundado demonstra que os rumos e as decisões da
política externa, não são denidos pelo conjunto do bloco social de poder que
dá suporte a um governo, mas por alguns setores hegemônicos desse bloco.
É preciso considerar que, graças à porosidade do Estado moderno, lobbies

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