Brasil: aonde chegaremos?

AutorJoaci Cunha - Ângela Borges
CargoEditores-chefe dos Cadernos do CEAS
Páginas1-9
Cadernos do CEAS, Salvador, n. 237, p. 187-195, 2016
BRASIL: AONDE CHEGAREMOS?
Como há 47 anos atrás, quando veio à luz pela primeira vez a revista Cadernos do CEAS,
a presente edição também ocorre após a confirmação do que muitos consideram ser um novo
golpe de estado no Brasil, não sob a forma de Ato Institucional, não mais para reafirmar o poder
militar sobre a sociedade brasileira, mas para impor uma agenda derrotada nas eleições de 2014
e para conduzir ao poder um grupo multipartidário, composto por políticos sob os quais pesam
graves denúncias de corrupção, ironicamente a razão apresentada para o impeachment da
presidente eleita, Dilma Rousseff.
Assim, em 2016, a soberania popular foi ferida por uma decisão congressual,
convalidada em instâncias diversas do Estado brasileiro. Uma das características deste processo
foi a constituição de um regime de exceção dirigido, sobretudo, contra o grupo que foi
defenestrado do governo. Até onde irá esse processo não sabemos. Até aqui ele gerou ondas de
protesto no meio popular, mas não forte o bastante para revertê-lo, apesar da insignificante
aprovação social daqueles que assumiram os postos de comando do poder Executivo o qual
conta, no entanto, com decisivo apoio da maior parte da elite brasileira e do grande capital
internacional, como evidencia a declaração do FMIAté quando o silêncio da mídia, escondendo
o que se passa, ensurdecerá a sociedade e seus movimentos?
Esta edição, contudo, não tem como foco o processo diplomático-político, policial-
judiciário e midiático-ideológico que está a retirar o Brasil de um alinhamento estratégico com
os BRICs direcionamento que visava torna-lo em player no cenário mundial das corporações
monopolistas --, para convertê-lo, mais uma vez, no paraíso dos interesses sediados pela aliança
ocidental comandada pelos EUA, especialmente aqueles vinculados à especulação financeira e
aos setores de petróleo, gás, construção e exploração de infraestrutura.
O tema desta edição volta-se, em maior medida à reflexão sobre o crescimento do
capitalismo de base agrária e natural, que passou a hegemonizar a produção de valor e as
exportações do país. Discute também, secundariamente, o modelo de legitimação social que os
últimos governos puseram em prática, baseado em políticas sociais focalizadas nos mais pobres,
associado acompanhado de uma coalisão parlamentar conservadora, numa aliança mantida
apenas enquanto todos podiam ganhar. Este arranjo de certo modo bloqueou o potencial de ação
dos movimentos próximos aos partidos governistas, e que orbitavam em volta do Estado e dos

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