BRAGA, Ruy. A nostalgia do fordismo: modernização e crise na teoria da sociedade salarial. São Paulo: Xamã, 2003. 248 p.

AutorFlávio Bezerra de Farias
CargoUniversidade Federal do Maranhão (UFMA)
Páginas240-242
208
R. Pol. Públ., São Luís, v. 19, n. 1, p. 208-210, jan./jun. 2015
RESENHA
BRAGA, Ruy. A nostalgia do fordismo: modernização
e crise na teoria da sociedade salarial. São Paulo:
Xamã, 2003. 248 p.
Flávio Bezerra de Farias1
Universidade Federal do Maranhão (UFMA)
Ruy Braga é doutor em Ciências Sociais
pela Unicamp e professor do Departamento de
Sociologia da USP. As principais obras do autor
analisam a reestruturação produtiva, a mundialização
do capital e a nova configuração do proletariado.
Na obra em tela, Ruy Braga contribui para superar
uma lacuna na literatura brasileira, fazendo uma
verdadeira análise crítica da Escola da Regulação,
em oposição ao discurso apologético de Boyer (1986)
e Aglietta (1998a; 1998b), ampliando e aprofundando
a posição crítica e radical tanto da restruturação
(FARIAS, 2000), quanto da mundialização do capital
(CASSIOLATO; MATOS; LASTRES, Orgs, 2014).
Os regulacionistas tanto elaboraram a
teoria da sociedade salarial, quanto prolongaram
o mito da sociedade salarial, no quadro de
antecipações sobre os fenômenos chamados de pós-
fordismo e de globalização (BOYER; DURAND, 1993;
BOYER; SAILLARD, 1995). Dentre as abordagens
regulacionistas do fordismo e de sua crise, foram os
autores da tendência tecnicista – liderada por Aglietta
(1976; 1995; 1998a; 1998b) e Agleitta e Brender
(1984) – os que mais avançaram na especulação
tanto de um neofordismo, quanto de uma sociedade
salarial renovada ou revigorada, para além dos Trinta
Gloriosos (1945-1975), no contexto de uma nova
grande transformação (POLANYI, 1980) – ou melhor,
em antecipações abstratas repletas de nostalgia
do fordismo. Quanto à forma, o livro de Ruy Braga
encerra uma estética que exprime essa melancolia
através de imagens e metáforas bastante sugestivas
e inteligentes.
Quanto ao conteúdo, é pertinente que
o seu livro se divida em três partes, a saber: as
origens, as metamorfoses e a crítica, que evidenciam
a “[...] gradual absorção transformista.” (p. 24) dos
integrantes da Escola da Regulação, que rumaram
para uma “[...] conciliação com a burguesia.” (p.
25) e, portanto, para uma ruptura substancial com
o marxismo gramsciano, através do marxismo
estruturalista.
A primeira parte sintetiza as origens teóricas
e metodológicas da Escola da Regulação e mostra
a raiz da determinação regulacionista no sentido de
uma concepção de compromisso social, de um lado;
e, de outro, da busca regulacionista de uma mediação
positivista – através do intervencionismo estatal e
da negociação coletiva – para garantir a ordem e o
progresso da chamada sociedade salarial, na qual o
motor da história não é mais a luta de classes, mas
as inovações técnicas.
O restante do livro é dedicado às mutações
da teoria da regulação tanto em termos das
experiências historicamente determinadas, passando
do nacionalismo ao cosmopolitismo, do fordismo ao
pós-fordismo (segunda parte), quanto em termos
das experiências políticas, passando da social-
democracia ao social-liberalismo, do revisionismo
à terceira via (terceira parte). Afinal de contas, para
além do fordismo e na era da globalização, os
regulacionistas tornaram-se os principais ideólogos
do famigerado sim à economia de mercado e do
não à sociedade de mercado, isto é, das políticas
privatistas de colaboração de classes implementadas
por Jospin, Blair, Lula, etc.
Para os regulacionistas, as inovações
ocorridas na segunda metade dos anos 1990
teriam aspectos financeiros e cognitivos. Repete-
se o fetichismo da inovação tecnológica – que
oculta a luta de classes como motor da história
(no sentido marxiano) –, o qual alimenta o mito da
perpetuação desta sociedade dita salarial, como uma
antecipação abstrata que extingue o capitalismo sem
superar integralmente suas formas de dominação e
exploração. Conforme este mito, a sociedade deixaria
de funcionar como casa dos horrores (neoliberal), para
voltar a funcionar como um carrossel (keynesiano),
sob os efeitos da ordem gerada pela regulação

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