Biocentrismo e ecopedagogia: a educaçao como ferramenta para a cidadania planetária

AutorScheila Pinno Oliveira
Páginas271-286
Scheila Pinno Oliveira
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Revista Direito e Desenvolvimento, João Pessoa, v. 5, n. 10, p. 271 -286, jul./dez. 2014
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Na lição de Loureiro (2011, p. 73), “A educação ambiental é uma práxis educativa e
social que tem por finalidade a construção de valores, conceitos, habilidades e atitudes que
possibilitem o entendimento da realidade de vida e a atuação lúcida e responsável de atores
sociais individuais e coletivos no ambiente”.
A importância de introduzir a educação ambiental em diferentes esferas do
conhecimento dá-se a partir de conceitos como uma forma de sobrevivência. O que não se
tem ainda, na atual situação educacional e com as atuais práticas escolares, é uma adequada
formação de professores preparados de forma qualitativa, além da falta de apoio pedagógico e
de recursos específicos para a execução da educação ambiental. Isso não significa que não se
possa fazer algo relevante.
É necessário que as atividades de educação ambiental possibilitem aos educandos
caminhos para que seja desenvolvida uma motivação e uma sensibilização em relação aos
problemas ambientais, de maneira que proporcione uma reflexão a respeito desses problemas
e a busca de soluções, concretizando uma proposta de sociabilidade baseada na educação para
a participação. Esse tipo de atividade possibilita a conscientização da sociedade, tornando-a
mais receptiva às informações a serem transmitidas. Nesse ponto, Guimarães diz que “os
problemas ambientais são ‘temas geradores’ que problematizam a realidade para compreendê-
la, instrumentalizando para uma ação crítica de sujeitos em processo de conscientização”
(2004, p. 5).
Boff (2012 , p. 149) nos ensina que:
Somente um processo generalizado de educação pode criar as novas mentes e novos
corações, como pedia a Carta da Terra, capazes de fazer revolução paradigmática
exigida pelo mundo de risco sob o qual vivemos. Como repetia com frequência Paulo
Freire: “A educação não muda o mundo, mas muda as pessoas que vão mudar o
mundo”.
Entre os projetos educacionais que refletem os conflitos globais depara-se com a
proposta de uma educação para cidadania planetária. No site do Instituto Paulo Freire
encontra-se a seguinte definição:
O conceito de cidadania planetária tem a ver com a consciência, cada vez mais
necessária de que, assim como nós, este planeta, como organismo vivo, tem uma
história. Nossa história faz parte dele. Não estamos no mundo; viemos do mundo. [...]
Educar para a cidadania planetária implica uma reorientação de nossa visão de mundo
da educação como espaço de inserção do indivíduo não numa comunidade local, mas
numa comunidade que é local e global ao mesmo tempo. (INSTITUTO PAULO
FREIRE, 2014).
Educar para cidadania planetária é debater assuntos como meio ambiente,
desigualdade social, porém, procurando uma compreensão global dos conflitos, identificando
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os acontecimentos como interdependentes. Uma vez estabelecida essa visão, segue a proposta
de agir. García e Priotto (2009, p. 174) afirmam que:
Impulsar procesos en educación, a partir de conflictos ambientales, supone realizar
una identificación detallada y coherente de l os problemas y conflictos ambientales,
sus i mpactos, los vínculos entre ellos, así como sus posibles soluciones. Deberemos
tener en cuenta la interacción, interrelación e interdependencia de los múltiples
aspectos involucrados en la dimensión ambiental […].
O princípio da cidadania planetária é explicado por Gadotti (2000a, p. 22) da seguinte
maneira:
A noção de cidadania planetária (mundial) sustenta-se na visão unificadora do planeta
e de uma sociedade mundial. Ela se manifesta em diferentes expressões: “nossa
humanidade comum”, “unidade na diversidade”, “nosso futuro comum”, “nossa pátria
comum”. Cidadania planetária é uma expressão que abarca um conjunto de princípios,
valores, atitudes e comportamentos e demonstra uma nova percepção da Terra como
uma única comunidade.
Sendo assim, educar para cidadania planetária é trazer a discussão de questões como
meio ambiente e desigualdade social, no entanto, buscando uma compreensão global dos
conflitos, passando a observar os fatos como sendo interdependentes. A partir da construção
dessa visão, adota-se a proposta de agir. Dessa forma passamos a considerar o pensar global e
agir local, ou seja, discutir questões contextualizadas em nível global e que discuta
possibilidades de ações sem fronteiras. Por intermédio da educação ambiental, teremos meios
para corrigir os adultos que fazem pouco caso ou até mesmo desconhecem a necessidade de
equilíbrio ambiental e também garantir a conscientização das crianças e jovens,
demonstrando-lhes a importância de sua participação na proteção do meio ambiente.
Ecopedagogia, nas palavras de Gadotti (2004, p. 89), “[...] é uma pedagogia para a
promoção da aprendizagem do sentido das coisas a partir da vida cotidiana”. Paulo Freire
pode ser considerado um dos inspiradores da ecopedagogia com o seu método de
aprendizagem a partir do cotidiano, e sua “educação problematizadora”, que se pergunta sobre
o sentido da própria aprendizagem. Da pedagogia freireana, a ecopedagogia absorve vários
princípios, tais como: partir das necessidades dos alunos (curiosidade); relação dialógica
professor-aluno; educação como produção e não como transmissão e acumulação de
conhecimentos; educação para a liberdade (Escola Cidadã e pedagogia da autonomia).
(GADOTTI, 2004).

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