O big business bias e os desafios para a indústria brasileira

AutorFernanda Cimini Salles
Páginas1-30
http://dx.doi.org/10.5007/2175-8085.2017v20n2p1/
Rev. Text. Econ., Florianópolis, v. 20 n. 2, p. 01 30, ago/dez. 2017 ISSN 2175 -8085
O big business bias e os desafios para a indústria brasileira
The big business bias and the challenges to the brazilian industry
Fernanda Cimini Salles
fcimini@cedeplar.ufmg.br
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Resumo: O artigo investiga a presença de mecanismos de favorecimento a grandes negócios
(big business bias) e seu impacto no ambiente de negócios no Brasil. A partir da análise de
instituições-chave na indústria brasileira, a saber, acesso à crédito, sistema de inovação e
relações interfirmas, observa-se que a presença e forma de atuação de grupos econômicos não
somente tornam a coordenação da atividade produtiva hierarquizada e assimétrica, como
também ativam barreiras de entrada para criação de novas riquezas. O artigo conclui que os
entraves para uma maior dinamização da indústria brasileira têm raízes em dinâmicas
institucionais complexas, silenciadas no debate público.
Palavras-chave: Grupos Econômicos; Capitalismo Hierárquico; Indústria Brasileira
Abstract: The article investigates the presence of mechanisms favoring business groups (big
business bias) and its impact on the business environment in Brazil. Looking at key
institutions in the Brazilian productive regimes, namely, access to credit, innovation system
and inter-firm relationship, the article argues that the way business groups organize
themselves not only create hierarchical and asymmetrical relationships but also enable entry
barriers to creating new wealth. The article concludes that the barriers to greater dynamism of
the Brazilian industry are rooted in complex institutional dynamics, silenced in the public
debate.
Key-words: Business Groups; Hierarchical Capitalism; Brazilian Industry
Recebido em: 26-09-2017. Aceito em: 27-11-2017.
Rev. Text. Econ., Florianópolis, v. 20 n. 2, p. 01 30, ago/dez. 2017 ISSN 2175 -8085
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INTRODUÇÃO
O Brasil convive décadas com o desafio da transformação de sua base produtiva
para a consolidação de um padrão industrial mais intensivo em conhecimento. Apesar do
processo, de industrialização, brasileiro ter sido bem-sucedido na consolidação de setores
altamente competitivos, tais como o setor aeronáutico, petroquímico, alimentício,
farmacêutico e agronegócios, coexistem bolsões ainda muito distantes da fronteira
tecnológica mundial problema recorrentemente associado na literatura econômica à
chamada “heterogeneidade estrutural”. De acordo com a CEPAL, as brechas existentes entre
setores, regiões e empresas com diferentes níveis de produtividade seriam um obstáculo para
o crescimento inclusivo no país1.
Diante disso, a principal contribuição do artigo é oferecer uma perspectiva analítica
ainda pouco explorada nas ciências econômicas para compreender esse desafio. Para tanto,
recorre-se à literatura de Varieties of Capitalism (VoC), abordagem teórica inicialmente
proposta por Peter Hall e David Soskice (2001), e posteriormente desenvolvida por Ben
Schneider (2013) para o capitalismo latino-americano. A contribuição central dessa
abordagem, que tem sua origem na ciência política, é olhar para o processo de construção das
instituições que orientam o comportamento dos atores econômicos, buscando identificar os
arranjos institucionais e as relações de complementariedade que conformam diferentes tipos
de capitalismo. Segundo essa literatura, o Brasil poderia ser classificado como “Capitalismo
Hierárquico”, modalidade em que as instituições seriam marcadas por relações hierárquicas
excludentes, criando assimetrias e relações de desigualdade entre empresas, setores e regiões.
Nesse sentido, o problema de investigação que motiva o trabalho é saber por que o
capitalismo brasileiro, em pleno século XXI, ainda não conseguiu desvencilhar-se de um
legado conservador, aparentemente resistente a um padrão mais intensivo em conhecimento.
A principal hipótese do trabalho diz respeito à existência de vícios institucionais (aqui
denominados, big business bias) que favorecem grandes grupos econômicos no acesso a
recursos essenciais para a atividade econômica: acesso a capital, inovação e relações
interfirmas. Esses vícios criam entraves que dificultam a geração de novas riquezas e a
diversificação da atividade econômica.
O maior desafio para avançar essa hipótese é a disponibilidade de dados específicos
para os grupos econômicos brasileiros. Como inexiste uma base de dados que contemple a
1 Ver documentos: A hora da igualdade: brechas por cerrar, caminhos por abrir (2010); Mudança estrutural para
a igualdade: um enfoque integrado do desenvolvimento (2012) e P actos para a igualdade: rumo a um futuro
sustentável (2014), Por um desenvolvimento inclusivo: O Caso do Brasil (2015) , da CEPAL.

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