Behavioral finance in Brazil: a bibliometric study (2001-2007)/Financas comportamentais no Brasil: um estudo bibliometrico (2001-2007)/Finanzas del comportamiento en Brasil: una investigacion bibliometrica (2001-2007).

AutorVieira, Thais Roberta Correia
CargoARTIGO--FINANCAS
  1. INTRODUCAO

    A historia recente dos mercados tem mostrado que a racionalidade nem sempre e o que guia as decisoes dos investidores e do "mercado". Fenomenos como fuga de capitais, bolhas especulativas e alta volatilidade nos precos dos ativos sao cada vez mais recorrentes e percebidos pela literatura e pelas pesquisas ao redor do mundo. As financas comportamentais estudam os fatores sociais e psicologicos que influenciam as decisoes que culminam nesses fenomenos. O presente trabalho tem como objetivo mapear os trabalhos realizados no Pais a respeito desse emergente campo de pesquisa.

    No exterior, os primeiros estudos em Financas Comportamentais datam de meados da decada de 1970. As pesquisas surgiram a fim de refutar a Hipotese de Mercados Eficientes (HME), cuja ideia principal e de que os agentes economicos agem sempre de forma racional e que, por consequencia, o mercado tambem agiria de forma semelhante.

    Em contrapartida, as Financas Comportamentais defendem, baseadas na Psicologia e na Sociologia, que nem sempre os precos dos ativos correspondem ao seu real valor. Isso decorre do fato de que o comportamento dos agentes economicos, muitas vezes considerado nao racional, interfere no valor dos ativos. O mercado, portanto, nao poderia ser considerado eficiente.

    Diversos fenomenos foram relatados e estudados por profissionais e academicos com o objetivo de sustentar as Financas Comportamentais. Dentre os fenomenos estudados (bolhas especulativas, subvalorizacao ou sobrevalorizacao de acoes, influencia do tempo no mercado--efeito Segundafeira e SunnyDay), alguns foram replicados no Brasil com a finalidade de contextualiza-los em ambito nacional e, consequentemente, agregar informacoes e complementa-los.

    Este trabalho propoe-se a mapear a producao academica desse campo de estudo, especificamente os artigos publicados nos eventos Encontro da Sociedade Brasileira de Financas (SBFIN) e Encontro da Associacao Nacional de PosGraduacao e Pesquisa em Administracao (ENANPAD), por representarem a vitrine da producao academica brasileira em Financas e Administracao, respectivamente. Tambem foram coletados artigos dos periodicos de Administracao classificados em A ou B, de acordo com a antiga classificacao do QUALIS-CAPES.

    Este estudo e importante porque as financas comportamentais propoem-se a explicar o comportamento nao racional dos investidores, que implica anomalias comuns no mercado. A teoria de que os agentes economicos se comportam racionalmente nao e mais capaz de camuflar essas anomalias e as crises economicas. A atual crise economica e uma evidencia disso--e consenso que bancos e investidores imobiliarios americanos nao tomaram decisoes racionais e a consequencia foi a recessao. Sobre a crise, Shiller (2009) comenta: "e um espanto o fato de que tao poucos economistas tenham previsto a crise atual, e as dificuldades que a profissao tem encontrado para oferecer solucoes agora sao um sinal claro do fracasso da teoria convencional" (SHILLER, 2009:7). Nesse contexto, as financas comportamentais se fortalecem porque suas teorias explicam a influencia de fatores sociais e, principalmente, psicologicos sobre esses problemas.

    O artigo estrutura-se da seguinte forma: a primeira etapa consiste em uma sucinta revisao da literatura nacional e internacional nesta area de pesquisa. A etapa posterior descreve o estado desse campo de estudos no Pais e os principais autores nos quais esses estudos sao embasados. Por fim, ha a recomendacao de estudos realizados que ainda nao foram explorados no contexto brasileiro.

  2. FINANCAS COMPORTAMENTAIS: UMA BREVE VISAO

    Financas comportamentais "e o estudo de como a psicologia afeta a tomada de decisao financeira e os mercados financeiros", segundo definicao de Shefrin (2001 apud BARBEDO; CAMILO-DA SILVA, 2008:99). Esta area de pesquisa se concentra na compreensao do comportamento dos investidores e de como seu comportamento impacta no mercado financeiro (BERNSTEIN, 2008).

    Este campo de estudo teve como berco a Universidade Hebraica de Jerusalem, quando dois professores de Psicologia, Daniel Kahneman e Amos Tversky, desenvolveram estudos que acusavam as lacunas do modelo racional de tomada de decisao. As pesquisas de Kahneman renderamlhe o premio Nobel de Economia em 2002. Acerca do modelo oriundo da economia classica, Kahneman discorre: "o fracasso do modelo racional... decorre do tipo de cerebro por ele exigido. Quem conseguiria projetar um cerebro capaz de atuar da maneira prevista pelo modelo? Cada um de nos teria de conhecer tudo, de maneira completa e imediata" (KAHNEMAN apud BERNSTEIN, 2008:5).

    Os trabalhos de Kahneman e Tversky introduziram a ideia central das Financas Comportamentais de que o comportamento dos investidores, na maioria das vezes, nao corresponde ao que esta previsto nos modelos da economia classica (LINTZ, 2004).

    A natureza do homem passa a ser vista sob o prisma da racionalidade limitada ou bounded rationality, desenvolvida por Herbert Simon no final da decada de 40. Esse modelo concebe o ser humano como limitado, incapaz de absorver e processar todas as informacoes disponiveis (MOTTA, 2006). O processo decisorio e, entao, baseado em criterios subjetivos relacionados as crencas, valores e experiencias passadas. Os estudos nesse novo ramo das Financas tem considerado as limitacoes intrinsecas dos agentes economicos, os vieses comportamentais e a forma pela qual estes podem interferir na dinamica do mercado.

    As Financas Comportamentais desafiam o paradigma da HME ao afirmar que o nivel dos precos e mais do que o reflexo das informacoes disponiveis. Shiller (2000) alega que o mercado e modelado pelas decisoes dos investidores, as quais, por sua vez, sao influenciadas pela conjugacao de fatores classificados em estruturais, culturais e psicologicos.

    Em relacao aos fatores culturais, esse autor escreve que estes possuem natureza transitoria e influenciam o comportamento do mercado em determinados momentos historicos. Os fatores citados por ele sao a midia e o pensamento economico em determinadas eras.

    A midia e atraida ao mercado de acoes por ser este uma fonte constante de noticias. Muitas vezes ela potencializa a importancia de determinados movimentos no mercado. Ela ainda representa a interpretacao do senso comum e, por isso, e capaz de moldar o pensamento das pessoas e determinar o comportamento do mercado (SHILLER, 2000). Prova disso foi a queda do mercado de acoes em outubro de 1987. Pesquisas realizadas por Shiller (2000) e Brady (1987 apud SHILLER, 2000) mostraram que a midia nao teve tanta influencia nesse episodio, mas o feedback feito por ela a respeito das variacoes dos precos das acoes estimulou outras mudancas no mercado.

    O pensamento economico em determinadas eras tambem condiciona o comportamento dos investidores. Na decada de 1960, por exemplo, as pessoas acreditavam que a inflacao pressionava os precos das acoes para cima, enquanto na decada de 1990 elas criam que o efeito da inflacao seria o oposto. Shiller (2000) justifica esse acontecimento com o argumento de que o valor dos ativos e formado na mente dos investidores.

    Os fatores psicologicos sao divididos por Shiller (2000) em dois tipos de ancoras: as quantitativas e as morais. O primeiro tipo e composto de indicadores que sinalizam se o ativo esta sobre ou subvalorizado. Ja as ancoras morais estao relacionadas a intuicao, a emocao e a maneira pela qual estas afetam as decisoes.

  3. HME E FC: UMA PROPOSTA DE SINTESE

    A HME e as FC configuram-se de forma oposta. A primeira e uma tese, considerada um paradigma, enquanto a segunda e uma antitese que se esforca por tentar quebrar o paradigma classico. Essa rica discussao entre a Hipotese de Mercados Eficientes e as Financas Comportamentais compoe um movimento teorico, e a literatura sinaliza o inicio de uma possivel sintese, isto e, uma futura conjugacao de elementos de ambas as teorias.

    A Hipotese de Mercados Eficientes (HME) foi a primeira teoria a tentar explicar os motivos pelos quais o mercado e dificil de ser superado. Apesar de seus pressupostos de racionalidade serem questionados e cada vez mais...

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