Barreiras e facilitadores no uso da bicicleta como meio de transporte entre universitários

AutorNikolas Olekszechen - Ariane Kuhnen
CargoMestrando pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC - Doutora em Ciências Humanas, Professora do Departamento de Psicologia e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina
Páginas119-140
http://dx.doi.org/10.5007/1807-1384.2016v13n2p119
R. Inter. Interdisc. INTERthesis, Florianópolis, v.13, n.2, p.119-140 Mai-Ago. 2016
BARREIRAS E FACILITADORES NO USO DA BICICLETA COMO MEIO DE
TRANSPORTE ENTRE UNIVERSITÁRIOS
Nikolas Olekszechen
1
Ariane Kuhnen
2
Resumo:
Diante dos desafios atuais relacionados ao deslocamento de pessoas nos contextos
urbanos, a bicicleta tem sido apresentada como uma alternativa para o transporte
individual. Estudos atentos ao tema identificam principalmente os fatores individuais
envolvidos na escolha modal, por vezes colocando em segundo plano os fatores do
ambiente construído e negligenciando as implicações humano-ambientais do uso da
bicicleta como meio de transporte. Nesse sentido, buscou-se identificar, sob o
enfoque da psicologia ambiental, as barreiras e os facilitadores no uso da bicicleta
entre universitários da cidade de Florianópolis SC. Participaram 18 estudantes
universitários (doze do sexo masculino e seis do feminino), que responderam a uma
entrevista semiestruturada. Com base na análise de conteúdo, os dados foram
organizados em duas categorias com quatro subcategorias cada. Os resultados
indicaram como barreiras os fatores ambientais, a conjuntura social, os aspectos
políticos e os fatores pessoais. Quanto aos facilitadores, identificou-se o tempo, a
praticidade, o sistema motorizado e os fatores pessoais como características
principais. Os resultados apontam para a necessidade de compreender o uso da
bicicleta como meio de transporte de maneira contextualizada e como parte de uma
política pública em vigência. Além disso, atenta-se para a dimensão interpessoal do
trânsito, que exige de seus participantes antes uma postura de compartilhamento do
que de disputa.
Palavras-chave: Psicologia ambiental. Bicicleta. Transporte. Barreiras.
Facilitadores.
1 INTRODUÇÃO
O modo de vida urbano atual, atrelado ao desenvolvimento acelerado das
cidades, vem gerando preocupações aos cientistas e aos formuladores de políticas
públicas principalmente no que se refere às suas consequências ambientais. O
manejo do solo, do lixo e das águas, saneamento básico e a circulação das pessoas
são alguns dos problemas que questionam não só o modo de vida contemporâneo,
mas a sustentabilidade ambiental.
1
Mestrando pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Santa
Catarina, Florianópolis, SC. Membro do Laboratório de Psicologia Ambiental na mesma universidade.
Bolsista CAPES. E-mail: nikolas.oleks@gmail.com
2
Doutora em Ciências Humanas, Professora do Departamento de Psicologia e do Programa de Pós-
Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina. Coordenadora do Laboratório
de Psicologia Ambiental-LAPAM, Florianópolis, SC E-mail: ariane.kuhnen@ufsc.br
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R. Inter. Interdisc. INTERthesis, Florianópolis, v.13, n.2, p.119-140 Mai-Ago. 2016
Na dinâmica urbana, esforços têm sido voltados à questão da mobilidade. No
contexto brasileiro, ela se desenha de maneira paradoxal, pois ao mesmo tempo em
que se configura como imobilidade na imagem dos congestionamentos (ROLNIK;
KLINTOWITZ, 2011), a Política Nacional de Mobilidade Urbana (BRASIL, 2012),
instrumento que norteia as ações de mobilidade no território nacional, divulga a ideia
de acesso amplo e democrático ao espaço urbano, priorizando os modais coletivos e
os não motorizados, de modo que o transporte seja socialmente inclusivo e
sustentável.
Nesse sentido, a bicicleta tem sido indicada como um meio de transporte não
poluente, sustentável e uma maneira de praticar exercícios físicos diariamente
(GATERSLEBEN; HADDAD, 2010; PASSAFARO, et al., 2014). Além disso, é uma
alternativa ao transporte individual, que pode otimizar a relação espaço-tempo e
simultaneamente pode auxiliar na redução dos impactos ambientais causados pelo
trânsito.
Estudos sobre o uso da bicicleta como meio de transporte reforçam a
multideterminação do fenômeno uma vez que estão envolvidos aspectos políticos,
ambientais e psicológicos. A psicologia ambiental, disciplina dedicada à investigação
das transações humano-ambientais (RIVLIN, 2003; VALERA, 1996), procura
dialogar com esses fatores, colocando em evidência a reciprocidade na relação
pessoa-ambiente. Sob esse enfoque de pesquisa, Delabrida (2004) caracteriza o
uso da bicicleta entre os moradores de Taguatinga DF e indica que a bicicleta é
escolhida pelos benefícios físicos proporcionados e pela praticidade no
deslocamento. Por outro lado, o trânsito e a disputa, de espaço nas vias configuram
as principais dificuldades de utilizá-la.
Além disso, a escolha modal tem sido alvo das investigações. Nesse sentido,
saber quais os sentimentos provocados nos deslocamentos diários em diversos
meios de transporte (GATERSLEBEN; UZZELL, 2007), identificar relações entre
comportamentos de mobilidade e identidade (MURTAGH; GATERSLEBEN;
UZZELL, 2012) e os estereótipos a respeito dos ciclistas (GATERSLEBEN;
HADDAD, 2010) são alguns dos objetivos buscados.
O que se evidencia nesses estudos, além da diversidade de contextos e de
meios de transportes investigados, é o olhar predominante voltado aos aspectos
individuais. Seja o comportamento de se deslocar, seja a opção por um modal

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