Avaliação do Dano e das Descapacidades. Pós-trauma do Raque (coluna vertebral)

AutorJorge Paulete Vanrell
Ocupação do AutorMedicina, Bacharelado em Ciências Jurídicas e Sociais e Licenciatura Plena em Pedagogia
Páginas313-336

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1 Tabela de consulta rápida

O perito não deve deixar-se influenciar pela lesão anatômica, e sim guiar-se pela repercussão funcional das sequelas.

Os critérios de avaliação das sequelas raquidianas compreendem a natureza das lesões (lesão dos funículos dorsais), as deformações (raras e discretas), as dores (espontâneas ou provocadas, com ou sem irradiação), as rigidezes (freqüentemente acompanhadas de contraturas e limitando os movimentos ativos e passivos), e os sinais de irritação ou de déficit radicular.

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2 Introdução

A coluna vertebral tem sido um dos grandes desafios para a propedêutica médica e para a quantificação do dano corporal; mas não pode ser negligenciada, pela elevada demanda que representa, principalmente no tocante à medicina legal acidentária.

A coluna vertebral é constituída por 34 vértebras. A coluna vertebral se compõe de ossos que possuem um corpo em forma de disco e de laminas ósseas que convergem para dentro, formando um anel; tem a importante função de promover a sustentação do tronco, é bastante forte, porém suficientemente flexível para permitir uma ampla movimentação do corpo, além de proporcionar importante proteção à medula espinhal. De cada lado e na parte posterior das vértebras existem acessórios ósseos denominados apófises, os quais têm a função de propiciar a inserção de músculos e ligamentos. As vértebras se articulam entre si através das apófises articulares. Sobrepõem-se umas sobre as outras, formando um canal que contém a medula óssea – o canal vertebral –, onde se encontra a medula espinhal.

Constituem a coluna vertebral 7 (sete) vértebras cervicais. As duas primeiras, o Atlas e o Axis, são responsáveis pela movimentação da cabeça. As vértebras torácicas são 12 (doze) e são as responsáveis pela articulação com as costelas. As lombares são em número de 5 (cinco) e, por aguentarem um peso maior, são reforçadas, apresentando um corpo maior do que as outras. As sacras são 5 (cinco) e se fundem na idade adulta, formando um único osso – o sacro. As coccígeas são em número de 4 (quatro); às vezes, 5 (cinco). As vértebras também estão conectadas entre si por ligamentos, o que confere a estes a importante função de impedir movimentações exageradas de flexão ou extensão da coluna. Os discos intervertebrais são estruturas cartilaginosas responsáveis pela movimentação entre as vértebras e por suportar os impactos oriundos da parte superior ou inferior do corpo.

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3 Elementos semiológicos da coluna vertebral
3. 1 Anamnese

Na identificação pessoal é importante averiguar idade, sexo, peso e altura, pois podem ser indicativos da prevalência de alguma enfermidade. Observar também as atividades laborativas atuais e as pregressas, que podem levar a enfermidades da coluna. A postura, a carga de trabalho a que o paciente é exposto, o tipo de atividade laboral e as condições como é realizada são elementos que não podem fugir da avaliação do examinador.

Antecedentes pessoais e familiares, e doenças concomitantes podem ajudar na detecção de doenças específicas, em particular a presença de neoplasia maligna, tuberculose, cirurgia e traumas.

É importante a investigação também de sinais e sintomas gerais, como febre, perda de peso, astenia, anorexia, lesões cutâneas, pois podem sugerir doenças sistêmicas com comprometimento vertebral. A presença de disfunção esfincteriana e sintomas geniturinários podem também fazer parte do quadro, pois podem ser indicativos de compressão neural.

Em relação aos antecedentes sociais, os hábitos do paciente não devem ser desprezados. O tabagismo e o álcool também devem ser investigados, pois já se tem conhecimento que tal associação pode ser responsável pela elevação do risco de osteoporose, bem como pelo surgimento de dores nas costas.

Importante também definir o perfil psicológico, social, a existência ou não de prazer com a atividade laboral, e as fantasias que o paciente cria a respeito de sua enfermidade.

Em relação à sintomatologia, a mais frequente é a dor, que pode ser localizada ou difusa por toda a coluna vertebral. Elementos que caracterizam este sintoma não podem deixar de ser pesquisados. Dessa forma, a localização, o caráter, a irradiação, a intensidade, a duração,

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o modo de início, a ritmicidade, fatores desencadeantes, atenuantes, agravantes e concomitantes devem fazer parte da avaliação inicial. Na propedêutica da coluna vertebral, é necessário atentar para os sintomas e sinais mais comuns, que são: dor, limitação da movimentação e rigidez muscular.

3. 2 Exame físico
3.2. 1 Inspeção

A inspeção deve ser feita de forma estática e dinâmica. É indispensável, para um exame correto, que o paciente seja examinado descalço, de frente, de lado e de costas.

Na avaliação estática é fundamental o exame postural, pois os defeitos de postura podem ocasionar traumas crônicos sobre as articulações. Nesta avaliação se procura determinar a existência de:

• Modificações do alinhamento e das curvaturas fisiológicas da coluna vertebral;

• Modificações no nivelamento da cintura escapular;

• Modificações no nivelamento da cintura pélvica;

• Modificações em membros inferiores.

Na avaliação dinâmica, é importante que o...

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