Atensão entre o privado e o público na tragédia hipólito de eu rípides

AutorFernando Crespim Zorrer da Silva
CargoFernando Crespim Zorrer da Silva é doutor em Letras Clássicas pelo Programa de Pós-Graduação em Letras Clássicas do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Atualmente é bolsista de pós-doutorado na Universidade Federal do Espírito Santo.
Páginas100-115
|boletim)de)pesquisa)nelic,)florianópolis,)v.)19,)n.)30,)p.)100-115,)2019|
!"#$%&'(&&)*%+,-.),-/'0&%+1%+23&4%&& %&&
A"TENSÃO"ENTRE"O"PRIVADO"E"O"PÚBLICO
NA"TRAGÉDIA"HIPÓLITO,"DE"EURÍPIDES
Fernando"Crespim"Zorrer"da"Silva
UFES
56789:$;?@#A;";B4A#1C!"D;E;";B4FGH#>"D;EI;?IC;@ACJK!#C;JAEJC;!EIC2!C;L?E;=E;4AE">?4E;>"I;
!#1EA=C=;L?E=@ME=N; >"I"N;4"A; EOEI4H"N;C; 4"=#PQ";!C; I?HREA;E; C;!"; R"IEI;2C; >C=CN;C; C@?CPQ";
IC=>?H#2C;2C;4SH#=;E;C@K;IE=I";C;4AE=E2PC;!"=;!E?=E=;2C=;AEHCPME=;R?IC2C=';T;@ACJK!#C;HipólitoN(
!E;6?AU4#!E=N;2"=;4A"4"A>#"2C;?I;!EGC@E;="GAE;"=;H#I#@E=;E2@AE;";B4A#1C!"D;E;";B4FGH#>"DN;AE==CH@C2!";
>"I";";R"IEI;E;C;I?HREA;"=>#HCI;2E==E;>CI#2R";!E;>"2RE>#IE2@";!";I?2!"';V"A;4E>?H#CA#!C!E;
!E;@"!C;C;>E2C;!ACIW@#>CN;C;2CAAC@#1C;">"AAE;L?C2!";XE=E?;E=@W;C?=E2@E;!E;>C=C;=EI;L?E;=E;=C#GC;
"2!E;E=@W;E;2EI;RW;";>"2RE>#IE2@";=E;E=@W;1#1"Y;K;";I"IE2@";!C;!E=#2@EJACPQ";!C;=?C;ZCIUH#C;E;
>"2=EL?E2@EIE2@E;";H#I#@E;!";4A#1C!";E;!";4FGH#>";!C=;4EA="2CJE2=;=E;@AC2=Z"AIC';
VT[T\5T7.]^T\6$;^#4SH#@"Y;_E!ACY;6?AU4#!E='
THE"CLASH"BETWEEN"PRIVATE"AND"PUBLIC
IN"THE"EURIPIDEAN"TRAGEDY"‘HIPPOLYTUS’
T`7X5T]X$;?==#2J;@RE;a4A#1C@Eb;C2!;@RE;a4?GH#>b;#2;C;cAEEd;@ACJE!e;AEL?#AE=;C!!AE==#2J;!#Z.
ZEAE2@;#==?E=N;=?>R;C=;@RE;ICHE;C2!;ZEICHE;A"HE=;#2;@RE;R"?=ER"H!N;@RE;ICHE;C>@#1#@#E=;#2;@RE;4"H#=N;
C2!;E1E2;@RE;4AE=E2>E;"Z;J"!=;#2; R?IC2;AEHC@#"2=R#4=';6?A#4#!E=D;Hippolytus;4A"1#!E=; ?=;f#@R;C;
!EGC@E;CG"?@;@RE;G"?2!CA#E=;GE@fEE2;@RE;a4A#1C@Eb;C2!;@RE;a4?GH#>bN;EI4RC=#g#2J;!#ZZEAE2@;1C2.
@CJE;4"#2@=;ZA"I;fR#>R;IE2; C2!;f"IE2;=EE;@RE;f"AH!'; T;4E>?H#CA;C=4E>@;"Z;@RE;fR"HE;!ACIC@#>;
=>E2E;#=;@RC@;@RE;2CAAC@#1E;@CdE=;4HC>E;fRE2;XRE=E?=;#=;ZCA;ZA"I;R"IE;C2!N;@REAEZ"AEN;"2E;!"E=;2"@;
d2"f;fREAE;RE;#=;"A;fRE@REA;RE;#=;CH#1EY; @RC@;#=;@RE; I"IE2@;"Z;!#=#2@EJAC@#"2; "Z;R#=;ZCI#He; C2!N;
>"2=EL?E2@HeN;@RE;G"?2!CA#E=;GE@fEE2;@RE;4A#1C@E;C2!;@RE;4?GH#>;CAE;AE=RC4E!'
h6ij:5<7$;^#44"He@?=Y;VRCE!ACY;6?A#4#!E='
_EA2C2!";]AE=4#I;k"AAEA;!C;7#H1C;K;!"?@"A;EI;[E@AC=;]HW==#>C=;4EH";VA"JACIC;!E;VS=.cAC!?CPQ";
EI;[E@AC=;]HW==#>C=;!";]HW==#>C=;E;\EA2W>?HC=;!C;_C>?H!C!E;!E;_#H"="Z#CN;
[E@AC=;E;]#l2>#C=;^?IC2C=;!C;82#1EA=#!C!E;!E;7Q";VC?H"';T@?CHIE2@E;K;G"H=#=@C;!E;4S=.!"?@"AC!";
2C;82#1EA=#!C!E;_E!EACH;!";6=4UA#@";7C2@"'
|boletim)de)pesquisa)nelic,)florianópolis,)v.)19,)n.)30,)p.)100-115,)2019|
!"#$%&'(&&)*%+,-.),-/'0&%+1%+23&4%&& %&%
A TENSÃO ENTRE O PRIVADO E O PÚBLICO
NA TRAGÉDIA ‘HIPÓLITO’ DE EURÍPIDES
Fernando Crespim Zorrer da Silva
A tragédia Hipólito de Eurípides foi apresentada em 428 a. C., justamente
alguns anos antes do início da Guerra do Peloponeso.1 Nessa obra se observa a
deusa Afrodite irada com o jovem Hipólito por este tê-la ofendido. A divinda-
de, para se vingar, faz com que Fedra, madrasta de Hipólito, se apaixone pelo
enteado. Após uma série de mal-entendidos, como o temor de ser delatada e
a má orientação de sua aia, a esposa de Teseu acusa o jovem de tê-la tocado,
deixando uma carta com a acusação e se suicida. Teseu, pai de Hipólito, retor-
na de uma viagem, se informa do ocorrido e amaldiçoa o seu próprio filho, que
morre ao ser perseguido por um touro. No êxodo da peça, há o relato do que
sucedeu por parte da deusa Ártemis bem como há a reconciliação entre pai
e filho. Por fim, são instituídos cultos na cidade para que para que o ocorrido
entre Fedra e Hipólito não seja esquecido.
Na verdade, esta peça de Eurípides apresenta outros binômios que são
discutidos, como interno-externo, sabedoria-ignorância, natureza-lei e
privado-público que perpassam todo o drama, mesmo após a morte de
Fedra.2 Nessa equação dos conceitos, vale frisar que este drama constitui
uma segunda versão do mesmo mito pelo autor, porque a primeira, chamada
de Hipólito encoberto, da qual restaram poucos fragmentos, foi mal recebida
pelo público. Na literatura mundial, é um dos poucos casos nos quais um
autor reescreve um novo texto tentando resolver o mal-entendido de uma
obra anterior. O motivo de tal reação do público teria sido o ato de Fedra que
revelava diretamente o seu desejo amoroso ao seu enteado. Tal cena seria
retomada nas peças Fedra, tanto de Sêneca como de Racine, por exemplo.
A questão, aqui, é a ruptura drástica, como veremos, a seguir, do desejo da
rainha, do seu universo privado, que é realizada por si mesma diretamente
ao seu objeto de desejo, diferentemente do que sucede na segunda versão
1 EURIPIDES. Children of Heracles. Hippolytus. Andromache. Hecuba. Trans. David Kovacs. Lon-
don: Harvard University Press, 1995. v. 2.
2 SEGAL, Charles. Shame and purity in Euripides’ Hippolytus. Hermes, v. 98, p. 278-99; 283-
287, 1970.

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT