O Assédio Moral no Contexto Universitário: uma discussão necessária

AutorThiago Soares Nunes - Suzana da Rosa Tolfo
CargoDoutorando em Administração pelo Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, SC. Brasil - Doutora em Administração (PPGA/UFRGS). Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, SC. Brasil
Páginas21-36
Artigo recebido em: 26/01/2014
Aceito em: 17/09/2014
Esta obra está sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso.
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O ASSÉDIO MORAL NO CONTEXTO UNIVERSITÁRIO: UMA
DISCUSSÃO NECESSÁRIA
Workplace Bullying in the University Context:
a necessary discussion
Thiago Soares Nunes
Doutorando em Administração pelo Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade Federal de Santa Catarina.
Florianópolis, SC. Brasil. E-mail: adm.thiagosn@gmail.com
Suzana da Rosa Tolfo
Doutora em Administração (PPGA/UFRGS). Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, SC. Brasil. E-mail: srtolfo14@gmail.com
DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-8077.2015v17n41p21
Resumo
O presente artigo tem por objetivo apresentar parte dos
resultados de um projeto de pesquisa, que possibilitou
identificar a ocorrência e as características de assédio
moral no trabalho em uma universidade. A pesquisa
foi classificada como descritiva e estudo de caso, com
abordagem quantitativa e qualitativa. Foram enviados
questionários aos servidores da universidade e realizadas
entrevistas. Constatou-se que as universidades não
estão imunes à ocorrência desse tipo de violência
e que essas ocorrências causam transtornos para a
saúde, sobretudo a mental, desses trabalhadores, pelo
fato de ter implicado na deterioração das condições de
trabalho, no isolamento e na recusa de comunicação,
bem como em violências verbais, físicas ou sexuais.
Conclui-se que a universidade deve criar e desenvolver
medidas de prevenção e combate ao assédio moral,
visto que as ações atuais têm sido ineficazes.
Palavras-chave: Assédio Moral no Trabalho.
Universidade. Servidores.
Abstract
This article aims to present some results of a
research project, which made possible to identify the
workplace bullying occurrence and characteristics
in a university. The research was classified as
descriptive, case study, with quantitative and
qualitative approach. Questionnaires were sent
to the university servants, and interviews were
conducted. It was found that universities aren’t
immune to the occurrence this kind of violence, and
that cause health disorders, especially mental, which
those workers, by the fact that implicated in the
deterioration of working conditions, isolation and
communication refusal, as well as verbal, physical
or sexual violence. It’s concluded that the university
must create and develop measures to prevent and
combat workplace bullying, since current actions
have been ineffective.
Keywords: Workplace Bullying. University. Government
Servants.
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1 INTRODUÇÃO
A ocorrência da violência dentro do universo
laboral não é algo recente, contudo, observa-se, ao
mesmo tempo, uma intensificação em função, prin-
cipalmente, da divulgação da mídia e do interesse de
pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento no
estudo deste fenômeno, bem como uma banalização da
questão em função da imprecisão e generalização con-
ceitual. Assim, embora seja difícil de ser conceituada,
para fins deste artigo, compreende-se a violência como
[...] qualquer tipo de comportamento agressivo
ou abusivo que possa causar um dano ou des-
conforto físico ou psicológico em suas vítimas,
sejam essas alvos intencionais ou envolvidas de
forma impessoal ou incidental. (WARSHAW,
1998, p. 51-52)
Entre as violências perpetradas no ambiente de
trabalho, destaca-se o assédio que pode ser identifi-
cado no âmbito laboral mediante a caracterização de
condutas abusivas e humilhantes nos relacionamentos
interpessoais, as quais são intensificadas pelo aumento
da competitividade entre os trabalhadores, por uma
cultura organizacional permissiva ou incentivadora de
práticas hostis em detrimento ao alcance das metas/
objetivos organizacionais, pelos estilos de liderança e
formas de gestão (NUNES; TOLFO, 2012b). Portanto,
o assédio moral pode ser identificado pela exposição do
trabalhador, de forma repetitiva, a situações constrange-
doras e humilhantes durante o exercício de sua função,
caracterizado por uma ação, comportamento e atitude
violenta, desumana e antiética nas relações de trabalho
(BARRETO, 2006). O assédio moral é considerado uma
violência silenciosa e sutil, pois quem passa por ele muitas
vezes não consegue identificar a violência, a intenção e
perversão do agressor. (HIRIGOYEN, 2006; 2008)
O assédio moral se manifesta independente do
setor ou área, embora exista locais em que a violência
é mais frequente, como o setor da saúde e da educação
(HIRIGOYEN, 2006). Portanto, dividido em seis seções,
busca-se no presente artigo, inicialmente apresentar
alguns elementos que possibilitam compreender que
o assédio moral no trabalho origina-se e vincula-se
aos modos de organização da sociedade capitalista.
Posteriormente, destaca-se as concepções de assédio
moral e suas principais características. E, seguido da
delimitação do método da pesquisa, apresenta-se parte
dos resultados obtidos um projeto de pesquisa que teve
como lócus de estudo o ambiente educacional de nível
superior, em que se buscou identificar a ocorrência e
as características de assédio moral no trabalho dos
servidores docentes e técnico-administrativos de uma
universidade. O artigo finaliza com as considerações
finais e principais contribuições da pesquisa onde
parte-se do pressuposto que por ser uma organização
pública e de formação de profissionais de diversas áreas
de conhecimento, as universidades devem consolidar-
-se como agentes comprometidos com o bem-estar de
seus trabalhadores e em práticas de gestão éticas que
respeitem os valores e costumes alheios.
2 REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA
Após um longo período de acumulação de capi-
tais, durante o fordismo e a fase keynesiana, o capi-
talismo a partir dos anos de 1970, começou a dar os
primeiros sinais do que pode ser chamado de crise estru-
tural do capital (ANTUNES, 2005). Essa crise estrutural,
por sua vez, teve como expressão o neoliberalismo e a
reestruturação produtiva da era da acumulação flexível
(ou toyotismo), como resposta à crise do capital, reper-
cutindo nas transformações do mundo do trabalho1
que vêm acompanhadas de profundas mudanças nas
relações entre Estado e sociedade civil. Busca-se, neste
sentido, uma flexibilidade nas estratégias de produção
e nas condições de trabalho, em contrapartida à rigidez
da produção em massa e em série, sendo esta mudança
acompanhada da desregulamentação dos direitos con-
quistados pela classe trabalhadora e de novas formas
de gerir recursos humanos.
Em síntese, a “flexibilização” do capitalismo
tardio, levando a “classe-dos-que-vivem-do-
-trabalho” à defensiva e penalizando duramente
a esmagadora maioria da sociedade, não
resolveu nenhum dos problemas fundamentais
postos pela ordem do capital. Mas ainda: diante
da magnitude hoje atingida por esses proble-
mas [...] todas as indicações sugerem que o
capitalismo “flexibilizado” oferecerá respostas
dominantemente regressivas, operando na di-
reção de um novo barbarismo, de que as atuais
formas de apartheid social são premonitórias.
(NETTO, 1996, p. 102)

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