Aspectos ontológicos e epistemológicos em terminologias clínicas: em busca de interoperabilidade semântica no ambiente clínico

AutorLivia Marangon Duffles Teixeira, Maurício Barcellos Almeida
Páginas1-21
Encontros Bibli: revista eletrônica de biblioteconomia e ciência da informação, Florianópolis, v. 24, n. 55, p. 01-21, mai./ago.,
2019. Universidade Federal de Santa Catarina. ISSN 1518-2924. DOI: https://doi.org/10.5007/1518-2924.2019.e57996
Artigo
Original
ASPECTOS ONTOLÓGICOS E EPISTÊMICOS EM
TERMINOLOGIAS CLÍNICAS: EM BUSCA DE
INTEROPERABILIDADE SEMÂNTICA NO AMBIENTE
MÉDICO
Ontological and epistemic aspects in clinical terminologies: looking for semantic
interoperability in the medical environment
Livia Marangon Duffles TEIXEIRA
Doutora em Ciência da Informação
UFMG, PPGGOG, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil
liviamarangon@gmail.com
https://orcid.org/0000-0001-9728-3905
Mauricio Barcellos ALMEIDA
Doutor em Ciência da Informação
UFMG, PPGGOG, Belo Horizonte, Minas Gerais
mba@eci.ufmg.br
https://orcid.org/0000-0002-4711-270X
Mais informações da obra no final do artigo
RESUMO
Objetivo: A melhoria no atendimento continuado a uma grande população em hospitais e post os de saúde é um desafio
para a sociedade brasileira. Um dos problemas que profissiona is de saúde não podem resolver sozinhos é a dificuldade
de integração entre os diversos registros médicos para o mesm o paciente, dispersos em diferentes sistemas,
espalhados por diferentes regiões geográficas e temporais. O present e artigo investiga a ambiguidade inerente às
terminologias clínicas especificamente a Classificação Internacional de Doenças ( CID) e a Systematized
Nomenclature of Medicine-Clinical Terms (SNOMED CT)a qual impacta na possibil idade de interoperabilidade
semântica entre prontuários eletrônicos de pacientes.
Método: Como solução, estuda-se como “ancorar” termos representativos de entidad es médicas com semântica pouco
definida a recursos ontológicos semanticamente bem definidos .
Resultado: O duplo processo de ancoragem, o qual consiste em conectar terminologias a ontologias bem
fundamentadas, bem como privilegiar termos atômicos, foi criado para reduz ir a ambiguidade dos termos e expressões,
de forma a mitigar a falta de interoperabilidade semântica entre s istemas de informação.
Conclusão: A interoperabilidade é uma questão sem solução trivial. A ancoragem proposta é uma possibilidade para
fomentar a integração de sistemas em função da conexão com recursos construídos de acordo com as melhores
práticas. Espera-se que essa pesquisa promova avanços para os sistemas de informação us ados em unidades de
saúde e, em última instância, para o atendimento e o cuidado continuado ao cidadã o, através de técnicas da Ciência da
Informação.
PALAVR AS-CHAVE: terminologia clínica. ontologia; epistemologia. interoperabilidade semântica. prontuário eletrônico
do paciente
ABSTRACT
Objective: The improvement in the continuing care provided to the huge p opulation in healthcare units is a real
challenge to Brazilian society. One of the main issues i n this context, which healthcare professionals are not able to
solve by themselves, is the difficulty of integration among the medical r ecords of a patient that are scattered around
different geographical and temporal regions.
Method: The present research investigates the ambiguity inherent to medical terminolo gies particularly the
International Classification of Diseases (ICD) and the Syst ematized Nomenclature of Medicine-Clinical Terms (SNOMED
CT) – which impacts in the possibilities of semantic interoperab ility among electronic healthcare records.
Results: As solution, we study how to anchor medical terms exhibiting weak semantics to ontological and well-f ounded
resources. The double process of anchoring, which consists of connect ing terminologies to well-founded ontologies and
adopting atomic terms, was created with t he aim of reducing the ambiguity in the scope of healthcare informati on
systems.
Conclusions: Interoperability is an issue without a trivial solution. The proposed anchoring is a possibility to foster
systems integration because of the connection to well-grounded r esources built with the best practices. We hope the
results can provide advances to the information systems u sed in healthcare systems and, ultimately, to the continui ng
care to the citizen, through the Information Science techniques .
Encontros Bibli: revista eletrônica de biblioteconomia e ciência da informação, Florianópolis, v. 24, n. 55, p. 01-21, mai./ago.,
2019. Universidade Federal de Santa Catarina. ISSN 1518-2924. DOI: https://doi.org/10.5007/1518-2924.2019.e57996
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KEYWORDS: Clinical terminology. Ontology. Epistemology. Semantic interoperabilit y. Electronic health record
1 INTRODUÇÃO
O crescimento dos Estados Modernos resultou em uma vida política e econômica
mais complexa para a gestão dos países. Nesse contexto, informações e estatísticas
sobre a população, serviços e indústrias se tornaram cada vez mais necessárias
(BOWKER, 1996), inclusive na área da saúde. Na segunda metade do século XIX tem
início a história das classificações de doenças, que inicialmente buscavam organizar as
causas de morte (LAURENTI et al., 2013). Com o avançar do século XX, a quantidade de
informações administrativas ou médicas que necessariamente precisavam ser
gerenciadas no contexto clínico, impulsionou o desenvolvimento de terminologias e
sistemas classificatórios mais elaborados.
Desta maneira, surgiu uma diversidade de instrumentos de organização da
informação nomeados como terminologias, vocabulários, vocabulários controlados,
classificações, ontologias, dentre outros. Esses instrumentos eram criados para atender a
objetivos diversos, como por exemplo, identificar doenças, procedimentos médicos,
indexar literatura e outros. Com a recente evolução tecnológica, todos os instrumentos
foram se adequando à nova realidade constituída por ferramentas digitais e eletrônicas.
No restante do presente artigo, vamos usar o termo “terminologia clínica” genericamente
para se referir aos diversos instrumentos citados.
A proliferação de padrões terminológicos não é necessariamente profícua,
resultando em sobreposições sintática e semântica, comprometendo a interoperabilidade
entre sistemas e possibilidades de automação (FREITAS, SCHULZ e MORAES, 2009).
Por interoperabilidade, nesse artigo, entende-se a capacidade de comunicação
automática entre sistemas sem a presença ou participação de pessoas. A adoção gradual
do Prontuário Eletrônico do Paciente (PEP) ou Registro Eletrônico de Saúde (RES), bem
como a necessidade de integrar diferentes sistemas e utilizá-los para tomada de decisão,
passou a exigir padronização de linguagem por meio das terminologias clínicas. Essa
padronização objetiva melhorar o nível de qualidade nos sistemas de informação médicos
e clínicos (LEE et al., 2014; DIAS, 2014) ao uniformizar a linguagem utilizada pelos
profissionais envolvidos (diretamente ou não) com os cuidados da saúde.
Cabe destacar duas situações específicas em relação às terminologias clínicas. A
primeira diz respeito ao fato de que muitas vezes os termos são definidos por expressões

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