As Vozes da Escrita: Poesia, Trabalho e Resistência em tempos Pós-Modernos

AutorLaura Rende Viana - Márcio Túlio Viana
Páginas220-231
CaPítulo
23
AS VOZES DA ESCRITA:
POESIA, TRABALHO E RESISTÊNCIA
EM TEMPOS PÓS-MODERNOS
Laura Rende Viana(1)
Márcio Túlio Viana(2)
(1) Doutoranda em Letras e Literatura na Universidade de Edimburgo, Escócia.
(2) Professor no Programa de Pós-Graduação da PUC/Minas. Desembargador Aposentado do TRT da 3ª Região.
(3) Para evitar ambiguidades ao abordar os vários temas ao longo do artigo, a autora faz uso da distinção entre os termos Estória (narra-
tiva de base literária e fictícia, como contos de fadas ou poemas) e História (relato supostamente fiel de acontecimentos – reais – do
passado).
(4) Entende-se por transcriação a tradução criativa ou reinvenção de obras já existentes.
1. INTRODUÇÃO
Este texto busca relacionar a poesia, os movimentos
sociais e o Direito do Trabalho.
Tomando como ponto de partida a poesia de resis-
tência moderna e pós-moderna, assim como seus meios
de propagação, o artigo se divide em duas partes, que
se entrelaçam.
Na primeira parte, propõe-se a traçar um panorama
geral dos contextos socio culturais por trás daquelas
obras e seus respectivos poderes de transgressão
Na segunda parte, tenta mostrar como o Direito –
especialmente o Direito do Trabalho – pode ter uma face
rebelde e, em certo sentido, também poética.
Em geral, entende-se por literatura um conjunto de
trabalhos narrativos transmitidos pela escrita, e de te-
ma fictício, apresentados em poesia ou prosa. Por outro
lado, também se dá o nome de literatura a um número
seleto de obras cujo valor socio cultural tenha sido pre-
-estabelecido por acadêmicos, supostamente dotados
de uma expertise para tanto. Neste último sentido, aliás,
pode-se até indagar quem terá vindo primeiro: o ovo
ou a galinha? A obra-prima ou o crítico que lhe deu tal
título?
Explicitando melhor, podemos concluir que “lite-
ratura” é uma palavra com infinitas faces – muitas das
quais trazem um peso político-econômico nas entreli-
nhas. Basta lembrar, por exemplo, o conceito de “câno-
ne literário” – ou a classificação de algumas obras como
clássicas –, que nasceu no século XIX como ferramenta
de reforço dos valores culturais do nacionalismo euro-
peu e, contemporaneamente, de silenciamento de mi-
norias e subculturas.
A face que nos interessa, neste breve estudo, é a da
literatura como arte do narrar, ou seja, do contar estó-
rias(3). Mais especificamente, porém, trataremos de es-
tórias – literaturas – narradas por grupos ou indivíduos
marginalizados, cujas vozes em verso não só transcre-
veram ou transcriaram(4) como também transcenderam
a História.
Quanto ao Direito em geral, costumamos vê-lo co-
mo um complexo de normas e institutos, destinado a
manter a paz social. Já o Direito do Trabalho tem um
traço a mais – ou um tanto diferente – na medida em
que busca não só ou não tanto a ordem, mas uma certa
desordem; quer ajudar a distribuir riquezas, e por isso é
“inconcluso, progressista”, como dizia La Cueva (1949,
p. 17)

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