As Umbandas no Cordel

AutorLourival Andrade Junior
CargoProfessor Adjunto IV e Chefe do Departamento de História na Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Páginas102-125
DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-7976.2017v24n37p102
As Umbandas no Cordel
Umbandas in cordel Literature
Lourival Andrade Junior*
Resumo: As diversas maneiras de se praticar a Umbanda no Brasil aparecem
nos cordéis brasileiros daa mais variadas formas. De forma geral, os cordelistas
não conhecem a religião umbandista por dentro, já que em sua maioria são
católicos, utilizando assim conceitos e preconceitos já absolutamente aceitos
pelo senso comum. Neste sentido, procuramos entender a partir do universo
destes cordelistas como as Umbandas são entendidas por estes poetas e como
este gênero literário contribuiu para a construção de suas imagens, sobretudo
de suas entidades espirituais e dos Orixás.
Palavras-chave: Umbandas; cordel; entidades espirituais; orixás
* Professor Adjunto IV e Chefe do Departamento de História na Universidade Federal do Rio
Grande do Norte (UFRN), campus Caicó, Brasil E-mail: lourivalandradejr@yahoo.com.br
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Revista Esboços, Florianópolis, v. 24, n. 37, p.102-125, ago. 2017.
Abstract: Different ways of practicing Umbanda in Brazil have been recorded
in Brazilian cordel poetry in several diverse forms. In general, cordelistas
have no personal and direct knowledge about the Umbanda religion itself,
given that most of them are Catholic; they, therefore, appropriate concepts and
preconcepts widely accepted by common sense. In this sense, we work towards
understanding, from cordelistas’ perspective and universe, how Umbandas
are understood by them, poets, and how this literary genre contributed to the
crystallization of Umbandas’ image, especially about their spiritual entities
and Orixas.
Keywords: Umbandas; cordel; spiritual entities; orixás
O cordel é um gênero literário genuinamente brasileiro, mais
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estabeleceram as normas do que hoje consideramos cordel, entre eles: Leandro
Gomes de Barros (Pombal/PB), Silvino Pirauá de Lima (Patos/PB), Francisco
das Chagas Batista (Teixeira/PB) e João Martins de Athayde (Ingá/PB). É
indiscutível que estes homens ouviam as cantorias de repentistas e travadores
que enchiam de poesia o sertão nordestino, e muitas destas cantorias foram
levadas para o cordel, ou seja, uma intensa relação entre o oral e o escrito.
Isso não quer dizer que o cordel ainda guarde as características estilísticas
das cantorias (na maioria das vezes em quadras), mas com o o passar do
tempo tornou-se um gênero literário bastante rígido, em que as sextilhas,
setilhas, oitavas e décimas precisam seguir regras muito precisas para serem
consideradas cordel. É evidente que a musicalidade está presente na métrica e
nas rimas do cordel e isso faz com que ouvir esta poesia também marque sua
trajetória histórica.
Mesmo o cordel tendo nascido no sertão, as migrações para os grandes
centros do país, no nordeste e nas demais regiões, sobretudo após a grande seca
de 1877, fez com que grandes cordelistas levassem sua arte para estas cidades
e a partir daí o cordel deixou de ser apenas consumido no nordeste brasileiro e
se tornou uma leitura quase que obrigatória para migrantes em São Paulo, Rio
de Janeiro, Recife, Salvador, Belém, entre outros grandes centros urbanos. O
mercado cordeliano se ampliou consideravelmente com a ida de João Martins
de Athayde para Recife e de lá estabeleceu uma rede de comércio que vendeu
milhões de exemplares de centenas de títulos. É importante atentar para a
questão do cordel estar umbilicalmente ligado a uma origem sertaneja, mas um
desenvolvimento a partir da cidade, do urbano. Muitos outros cordelistas se
tornaram editores, podemos citar Rodolfo Coelho Cavalcante (Salvador/BA),
José Bernardo da Silva (Juazeiro do Norte/CE), entre muitos outros. O cordel
não mais trataria de temas sertanejos, mas ampliaria suas temáticas, já que o
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