As subjetividades numa visão transdisciplinar juspsicanalítica

AutorSilvane Maria Marchesini
Ocupação do AutorJurista. Psicóloga. Psicanalista. Pós-Graduada, Mestra em Psicologia Clínica
Páginas35-38

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Antes de abordarmos o tema específico da adoção por parceiros homossexuais, gostaríamos de esclarecer o leitor sobre algumas questões gerais filosóficas e psicanalíticas que situam o tema específico da "Homoparentalidade" no contexto atual das novas parentalidades, e das mudanças de ideias e valores quanto ao uso do corpo humano pela tecnociência em nome do progresso. Estas pesquisas de vanguarda mostram uma mutação profunda de valores no que diz respeito aos direitos relativos ao início e ao fim da vida humana. Elas trazem resultados surpreendentes quanto às condições de humanização e de subjetivação como "efeito" de discursos. E, por vezes, ao contrário de encaminhar ao acolhimento do modernismo de certas reivindicações minoritárias, elas indicam o princípio jurídico da precaução e reforçam a importância de valores tradicionais sociofamiliares.

É importante compreender que nossa pesquisa transdisciplinar contribui, em sentido lato, com uma relexão sobre o sujeito dito metafísico, ampliando sua noção para além do nível consciente e racional. Incluindo os conhecimentos sobre o sujeito clivado (entre os significantes linguísticos) no nível incons-ciente, ou seja, sobre o sujeito do "Supereu", essas pesquisas trazem contribuições críticas do aporte teórico-clínico da Psicanálise ? epistemologia e ? prática cientíica, de modo geral.

Inúmeras são as questões ilosóico-jurídicas e psicanalíticas que se apresentam na pós-modernidade com relação à subjetividade humana, diante das descobertas cientíicas e práticas medicais. Visto que toda teoria ética pressupõe um sujeito, autor de uma ação consciente e voluntária, e que a Psicanálise coloca a questão das forças inconscientes que inluenciam as ações e escolhas, e ainda, diante da complexidade de diicílima temática, sintetizo aqui em três itens introdutórios as vertentes teóricas e o contexto sociojurídico no qual situamos o surgimento da "Homoparentalidade" como um dos componentes das diferentes famílias da atualidade:

  1. As subjetividades numa visão transdisciplinar juspsicanalítica.

  2. O progresso da tecnociência à luz da Psicanálise. A Lei como instância simbólica.

  3. Os limites da Bioética e os novos direitos nas questões do início e do im da vida humana. Uma nova prática cientíica a partir de outro nível ético.

1. AS SUBJETIVIDADES NUMA VISÃO TRANSDISCIPLINAR JUSPSICANALÍTICA

Não é por Acordo que, dentre as desconstruções da metafísica e da subjetividade, a Psicanálise passou a ocupar um lugar não negligenciável. Com muitas nuances a respeito dos três tempos de construção da subjetividade, a Psicanálise nos mostra então que o sujeito da ação não existe de modo uno, como vínhamos tematizando nas tradições ilosóicas e cientíicas dominantes até nossos dias.

A Psicanálise nos apresenta outra noção de sujeito, um "sujeito sempre clivado" entre o "Eu" e o "Isso". Um sujeito, então, do "Supereu" que desaparece e se torna impessoal no "Si" da linguagem (a gente, a gente é, a gente tem, a gente faz... a si mesmo). Característica esta do ser falante que faz com que a fala e a verdade subjetiva estejam sempre veladas e equívocas. Esta clivagem, este Abismo inicial

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entre o ser e as coisas do mundo é que permite pensar e dar senso às coisas e a si-próprio. Este...

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