As revoluções industriais

AutorCélio Pereira Oliveira Neto
Páginas15-42
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1. AS REVOLUÇÕES INDUSTRIAIS
Inicia-se em célere sobrevoo histórico, com o objetivo de observar que antes
da Primeira Revolução Industrial, durante milhares de anos, o ser humano viveu
em pequenos grupos, subsistindo do plantio, pesca, caça e pastoreio, valendo-se
de fontes de energia renováveis, tais como florestas, rios e vento, ou outras fontes
naturais de que são exemplos o barro e a madeira.
Não havia possibilidade de ascensão social. A terra era a base da economia,
vivia-se em aldeias, e o nascimento determinava a trajetória imutável de status
social a ser ocupado.
As pessoas viviam aglutinadas, em grandes famílias, compostas por parentes
de diferentes graus, em um sentido muito mais amplo do que o atual, produzindo
tudo o que consumiam em unidade econômica de subsistência. Vieram, contudo,
as diferentes revoluções industriais que modificaram esse aparentemente pacato
cenário.
1.1. A Primeira Revolução Industrial
Iniciada na Inglaterra, aproximadamente na metade do século XVIII, a
Primeira Revolução Industrial conheceu a máquina a vapor, dando início à produção
mecânica.(1) O período de duração pode ser datado, de modo aproximado, entre
1760 e 1860.
A partir da máquina a vapor, o desenvolvimento tecnológico começa a
provocar efeitos significativos nas relações do trabalho, extinguindo a economia
de tipo feudal, e gerando grandes empreendimentos fabris, do que é exemplo a
fábrica de Owen, na Escócia, que em 1804 possuía 3000 empregados.
A Primeira Revolução Industrial caracterizou-se pelo uso da ferramenta, que
representava a extensão da mão do homem. Esse mundo ferramental dependia
da ação do homem, que se enxergava como o que produzia, ou seja, o carpinteiro
não só fazia mesas, se fazia carpinteiro.(2)
(1) SCHWAB, Klaus. A Quarta Revolução Industrial. Tradução Daniel Moreira Miranda. São Paulo:
Edipro, 2016. p. 15.
(2) FERRAZ JUNIOR, Tércio Sampaio. O direito, entre o futuro e o passado. São Paulo: Noeses, 2014.
p. 62.
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A Guerra Civil Americana, que teve início em 1861, no fundo não decorreu
de aspectos morais relativos à escravidão, mas representou uma disputa pelo
modelo de país que os norte-americanos desejavam construir, na forma agrícola
do sul, ou uma nação industrializada defendida pelos vencedores do norte. Tal se
repetiu em diversos outros países, como a Restauração Meiji, que teve início em
1868, no Japão.(3)
O período marca o início da separação da família, pois em regra os homens
vão para as fábricas, e as mulheres ficam no lar, já não mais na condição de
camponesas extraindo sua subsistência de fontes primárias, mas cuidando da casa
e dos filhos, dando origem à histórica diferença entre homens e mulheres no
mercado de trabalho, que persiste no plano fático até os dias atuais.
Nesse momento, pois, fixa-se a fábrica na vida das pessoas, ocasionando a
separação do ambiente e rotinas de trabalho e da casa. Ao mesmo tempo, nesse
novo local, o chefe não coincide com o familiar, mas insere-se o empresário como
detentor do poder de comando, dando-se origem à histórica digladiação entre
capital e trabalho.
1.2. A Segunda Revolução Industrial
Em seu início, a Segunda Revolução Industrial extraía energia de carvão de
pedra, gás e petróleo, portanto, combustíveis fósseis não renováveis, marcando
uma mudança de paradigma. Pela primeira vez, a sociedade estava consumindo a
natureza ao invés de valer-se dos rendimentos que esta proporcionava.(4)
A invenção da máquina, que deu origem às fábricas, passa a representar
no final do século XIX uma extensão do homem, que se torna dependente da
máquina, e deixa de ser o que faz, tornando-se o homem-máquina, substituível.
As máquinas passaram a dar origem a novas máquinas, multiplicando-se as
máquinas-ferramentas. No curso da Segunda Revolução Industrial, entre meados
dos séculos XIX e XX, a produção em massa era a tônica, baseada em linhas de
montagem e beneficiando-se da invenção da eletricidade.
A Segunda Revolução Industrial é caracterizada pela padronização taylorista
na produção de milhões de produtos idênticos visando o aumento da produtividade
por trabalhador. Frederick Winslow Taylor(5) sustentava que o trabalho poderia ser
padronizado, buscando uma maneira e uma ferramenta ideal para a realização
(3) TOFFLER, Alvin. A terceira onda. 5. ed. Trad. de João Távora. Rio de Janeiro: Record, 1980. p. 37.
(4) TOFFLER, Alvin. A terceira onda. 5. ed. Trad. de João Távora. Rio de Janeiro: Record, 1980. p. 39.
(5) Taylor já nasceu rico, tinha o estudo da organização do trabalho como hobby e paixão. Conforme
DE MASI, Domenico. Ócio Criativo. Entrevista a Maria Serena Palieri; tradução de Léa Manzi. Rio de
Janeiro: Sextante, 2000. p. 52.

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