As incongruências do evolucionismo e do criacionismo

AutorJurandir Sebastião
Ocupação do AutorJuiz de Direito aposentado
Páginas181-264

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Os convivas

No final da tarde, Dr. Fagundes perguntou ao cozinheiro Jonas: - O que você está planejando para esta noite?

- Estou preparando filé de peixe assado, com tomates e batata, arroz integral, legumes cozidos, saladas cruas, inclusive de jiló, frutas frescas, torradas e queijos, respondeu Jonas. E continuou: Além dos sucos de fruta, também temos vinho verde, branco, português, e o espumante nacional, bem gelados; e, ainda, vinho tinto, seco, climatizado, de várias procedências.

- Ótimo, respondeu Dr. Fagundes. Já convidou os amigos?

- Já, respondeu Jonas. O Dr. Eusébio e o Dr. Marcolino estão viajando; o Dr. Geraldo disse que precisa terminar uma contestação complicada, cujo prazo termina amanhã; o jornalista Alcibíades disse que não poderá vir porque irá gravar uma entrevista; o professor Gustavo disse que precisava corrigir provas, mas viria a tempo; também o Raul Monteiro disse que vai cantar numa festa de casamento e vai chegar atrasado; os demais confirmaram a presença. Ah, estava esquecendo, o padre Jacson, desta vez, confirmou que virá.

- Muito bem. Cuide de tudo, falou Dr. Fagundes. A propósito, Jonas, só para você saber: o Jacson não gosta de ser chamado de "padre", desde que deixou a batina e se casou com ex-freira Rosa Maria. Fique atento para não dar "mancada".

- Não se preocupe, respondeu Jonas. Não esquecerei.

Na hora habitual, foram chegando, quase que ao mesmo tempo, o Hil-debrando Correia, ateu convicto e declarado; o Dr. Martins Almeida, advogado dinâmico e bom orador, sempre pronto a participar da conversa com os seus pontos de vista, sua cultura geral e facilidade de expressão oral; o Dr. Antônio Roberto, médico clínico geral, com visão holística da Medicina, lucidez intelectual e temperamento sereno; a Marluce Costa, professora de Metodologia do Ensino e livre pensadora; a Dra. Marina Benini, vibrante

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professora de Psicologia; o João Carlos, homem sério, mas bem-humorado, equilibrado emocionalmente, desprendido e, paradoxalmente, empresário vencedor no ramo de atacado em gêneros alimentícios; o Samuel Elias, religioso convicto e pessoa altruísta, sempre pronto a ajudar a quem necessita; e, por fim, chegaram juntos o ex-padre Jacson e o professor de Filosofia Gustavo Lavina. Como avisado, Raul Monteiro foi o último a chegar.

Religião-a interminável interpretação

No meio de conversas variadas e descompromissadas, cada conviva saboreava o prato que mais lhe agradava e se servia da bebida preferida, sempre auxiliada pela ajuda refinada de Jonas. Em determinado momento, a atenção se voltou para a afirmação despretensiosa do advogado Martins Almeida, de que "o desastre da humanidade era a religião". Claro que sua intenção, como explicou mais tarde, tinha sido a de se referir apenas às práticas religiosas censuráveis, de exploração dos incautos seguidores, por parte de líderes inescrupulosos, como ocorrem em quase todas as religiões, a exemplo da exigência de dízimos ou de doações mediante pressão e promessas de vida venturosa no pós-morte, ou venda de curas ou de artefatos milagrosos e coisas similares. O objetivo de Dr. Martins fora o de reprovar o abuso, a ausência de seriedade, a falta de honestidade por parte de alguns líderes religiosos e, também, a má aplicação dos ensinamentos, pelos seguidores fanáticos. Por certo, não era a existência de cada uma das religiões em si. Mas a reação à sua generalização veio de todos os lados:

- Ôoo, Martins, fico admirado de você, com sua cultura, fazer uma conclusão preconceituosa e generalizada como essa, disse o convicto religioso Samuel.

- Você não pode falar desse jeito não, interveio a professora Marluce. Também acho que a generalização que você está fazendo é conclusão precipitada, superficial e preconceituosa.

- Também concordo com essas observações, disse a psicóloga Marina.

- Ééé, Martins, desta vez você meteu os pés pelas mãos - falou o empresário João Carlos. Mesmo porque, continuou, se você fizer uma pesquisa, irá verificar que 99% das pessoas possuem e praticam alguma religião. Nesses 99% você encontra pessoas numa escala de retardados a gênios, de analfabetos a doutores, e cada um deles acredita em algum tipo de deus e pratica algum tipo de religião, como entendimento do início da vida, seu destino e fim.

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- Vocês é que estão deixando de ver a verdadeira extensão de minhas palavras, retrucou Martins Almeida, com a sua voz de orador e a sua habilidade para contra-argumentar, adquirida nos debates orais da advocacia. 0 que eu disse, e repito, é que a religião tem sido a principal causa de todos os males da humanidade. Conheçam vocês qualquer padre, pastor, rabino, chefe de umbanda, de candomblé, curandeiro, milagreiro ou qualquer outro líder religioso, de seita nova ou antiga, e analisem o que eles pregam e o que fazem no exercício de suas respectivas lideranças. Principalmente o quanto manipulam e exploram os incautos, os ingênuos e fanáticos seguidores. 0 que se vê, em grande parte, é o proveito material em benefício próprio desses líderes inescrupulosos, material ou ideológico, sem a menor consideração para com os seguidores ingênuos. Pelo aspecto material, em nosso país, na atualidade, há conhecidos líderes religiosos que se tornaram bilio-nários, com utilização e/ou aquisição de rede de televisão e de construção de castelos nababescos, com recursos oriundos das contribuições "voluntárias" dos ingênuos seguidores. Pelo aspecto ideológico, há líderes, também fanáticos, que não titubeiam em mandar matar quem for contra a religião que pregam. E a exploração dos incautos, por ambos esses aspectos, não é de hoje. Na história das religiões antigas, a prática do sacrifício humano sempre ocorreu para aplacar a ira dos "deuses" ofendidos ou raivosos. Obviamente, nenhum líder religioso se oferecia em holocausto. A vítima escolhida era sempre quem não podia se defender. Sempre foi acintosa a exploração da credulidade do povo. Claro que há exceções, e não são poucas. Mas a exceção serve justamente para confirmar a existência da regra. Imaginem a fortuna que 10% gera, mensalmente, de milhões de "contribuintes"!

Religiões sempre fizeram parte do estado

Quando se analisa a história da humanidade - continuou falando o advogado Martins Almeida -, constata-se que os líderes religiosos sempre fizeram parte da administração do Estado, direta ou indiretamente. Ora se autoprocla-mando reis; ora se declarando aliados dos chefes de Estado, tanto no Ocidente como no Oriente. Aliás, por falar em cultura Oriental, é bom lembrar que, na década de 1940, os japoneses, conhecidos e respeitados como pessoas disciplinadas e cultas, ainda acreditavam que o seu imperador HIROHITO era DIVINDADE, e por ele deram suas vidas! Por que esse absurdo? Por decorrência de fanatismo religioso, respondo eu. Em nossa geração, podemos citar, como

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exemplos incompreensíveis de intolerância religiosa, as guerras entre judaísmo e islamismo, no Oriente Médio; entre católicos e protestantes, na Irlanda, sob a mesma bandeira do cristianismo. Estado laico, como o nosso atual, brasileiro, é coisa recentíssima. Em quase todos os momentos da civilização, os homens guerrearam por causa de religião, ou acobertados por motivos ou pretextos religiosos. E, com a "bênção dos céus", ou dos "deuses", aproveitaram e depenaram os vencidos, os mais fracos, com roubo e apropriação de todos os bens materiais encontrados, inclusive suas mulheres. E querem saber mais? Quando a prática do sexo era tabu, era proibida ou pecado, o ramo que mais dava lucro era o de putaria. Mas hoje, o que mais dá dinheiro é fundar uma igreja e aguardar os dízimos dos incautos que, desse modo, pensam comprar o paraíso para a vida pós-morte; ou o perdão pelos "pecados" cometidos. Por exemplo, na história do catolicismo, as bulas papais se prestaram a esse fim. O certo é que, tão logo fundada uma nova religião, e esta comece a dar lucro, é só espalhar filiais e formar uma rede hierarquizada para assegurar o sucesso financeiro do fundador. Pior ainda, tudo sem registros, sem controle e isento de impostos. Para finalizar, eu pergunto: nos dias de hoje, há coisa mais abominável do que os chamados "homens-bomba"? A resposta é: não há! Os...

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