As fissuras e a crise do trabalho abstrato

AutorJohn Holloway
CargoProfessor-investigador do Instituto de Ciências Sociais e Humanas 'Alfonso Vélez Pliego' da Benemérita Universidad Autónoma de Puebla
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Rev. Direito e Práx., Rio de Janeiro, Vol. 12, N.01, 2021, p. 687-706.
John Holloway
DOI: 10.1590/2179-8966/2020/47877| ISSN: 2179-8966
As fissuras e a crise do trabalho abstrato
John Holloway¹
Versão original: Las grietas y la crisis del trabajo abstracto”, in ADAMOVSKY, Ezequiel
(Org.) (2011) Pensar las autonomías: alternativas de emancipación al capital y el E stado.
1ª ed. México D.F.: Sísifo Ediciones, Bajo Tierra.
Tradução recebida em 21/01/2020 e aceita em 07/06/2020.
This work is licensed under a Creative Commons Attribution 4.0 International License.
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Rev. Direito e Práx., Rio de Janeiro, Vol. 12, N.01, 2021, p. 687-706.
John Holloway
DOI: 10.1590/2179-8966/2020/47877| ISSN: 2179-8966
Introdução
No presente artigo, sugiro que o fundamental para compreender as autonomias está na
revolta da oposição ao trabalho. Relaciono essa revolta com o conceito de Marx sobre o
duplo caráter do trabalho.
I1
A essência das autonomias está na negação e na apresentação de uma alternativa. A
própria i deia de um espaço ou momento autônomo indica uma ruptura com a lógica
dominante, uma fissura ou uma mudança de rumo no fluxo da determinação social.
“Não aceitaremos uma determinação alheia ou externa a nossa atividade, nós
determinaremos o que faremos”. Negamo-nos, recusamo-nos a aceitar a determinação
alheia e contrapomos essa atividade externamente imposta por uma at ividade de nossa
própria seleção, uma alternativa.
A atividade que rejeitamos geralmente é vista como parte de um sistema,
parte de um padrão razoavelmente coerente de atividade que é imposta, logo, um
sistema de dominação. Muitos movimentos autônomos, ainda que não todos, referem-
se a esse padrão de atividade rejeitado como capitalismo: veem-se como
anticapitalistas. No entanto, o traço distintivo da aproximação autonomista é o que
envolve não somente uma hostilidade contra o capital em geral, mas também uma
hostilidade contra a atividade vital específica imposta pelo capitalismo aqui e agora, e
um intuito de oposição ao capital, atuando de uma forma diferente. Estabelecemos uma
atividade diferente, que busca seguir uma lógica diferente, contra a atividade capitalista.
Falamos aqui de dois diferentes tipos de atividades: uma atividade que é
imposta externamente e vivida como diretamente desagradável, ou como parte de um
sistema que rejeitamos, e outra que empurra par a a autodeterminação. Na realidade,
precisamos de palavras d iferentes pa ra esses dois tipos de atividades. Atenderemos à
sugestão de Engel s no roda pé da página de O Capital (Marx, 1965: 47), ao nos
referirmos ao primeiro tipo de atividade como trabalho (labour) e ao segundo
1 O argumento do presente artigo é elaborado mais profundamente no meu próximo livro
Agrietar el capitalismo: el hacer contra el trabjo (Fissurar o capitalismo: o fazer contra o trabalho)
que será publicado por Bajo Tierra Ediciones/Sísifo.

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