As condições de vida e de trabalho da população em situação de rua do Centro Histórico de Salvador, Bahia

AutorRenata Meira Veras, Gezilda Borges de Souza, Brian Teles Fonseca de Macedo, Daisy Kitaoka Guerra
Páginas161-178
http://dx.doi.org/10.5007/1984-8951.2014v15n106p161
As condições de vida e de trabalho da população em situação de
rua do centro histórico de Salvador, Bahia
Homelessnes conditions in Salvador, Brazil
Renata Meira Veras
1
Gezilda Borges de Souza2
Brian Teles Fonseca de Macedo3
Daisy Kitaoka Guerra4
Resumo
cerca de 4 mil pessoas desabrigadas em Salvador, a maioria delas vivendo nas
ruas, em condições insalubres de sobrevivência. Por meio da abordagem
quantitativa e de um estudo etnográfico, esta pesquisa teve como objetivo
investigar as condições de vida e de trabalho da população em situação de rua. Os
resultados mostraram que a maioria das pessoas em situação de rua,
em Salvador, é do sexo masculino, negra, em idade produtiva e com baixo nível
educacional. Dentre as principais causas que as levam a essa condição está a
ruptura dos laços familiares. Contudo, a pesquisa etnográfica revelou fatores que
determinaram a quebra do vínculo familiar, como o desemprego, o uso de drogas, a
violência familiar, a orientação sexual, a morte ou a separação de um dos cô njuges.
Os resultados apresentados reforçam a necessidade de ir além das políticas básicas
de assistência social para essa população. É necessário repensar as causas
estruturais que levam à situação de rua e planejar adequadamente uma
abordagem preventiva para evitá-las.
Palavras-chave: População em situação de rua. Desigualdade econômica. Vínculos
familiares.
Abstract
There are about four thousand homeless people in Salvador, most of them living in
the streets in extreme poverty. Through a quantitative and ethnographic approach,
the research to be presented aimed to investigate the living and working conditions of
this population. The results show that most homeless people in Salvador are male,
black, poorly educated and in the productive age. The main causes of homeless
conditions observed among this population are lack of family bonds. However,
ethnographic research revealed that most homeless participants lost their family
contacts because any purpose such as unemployment, drug use, family violence,
sexual orientation, separation or death of a spouse. Therefore, our results reinforce
1 Universidade Federal da Bahia (UFBA). Professora Adjunta do Instituto de Humanidades, Artes e
Ciências, UFBA. E-mail: renata.veras@ufba.br.
2 Universidade Federal da Bahia (UFBA). M estranda pelo Programa de Pós-graduação em Estudos
Interdisciplinares sobre a Universidade - IHAC/UFBA. E-mail: gelborges@hotmail.com.
3 Universidade Federal da Bahia (UFBA). Mestrando pelo Programa de Pós-graduação em Estudos
Interdisciplinares sobre a Universidade - IHAC/UFBA. E-mail: macedo_brian@hotmail.com.
4 Universidade Federal da Bahia (UFBA). Bacharel em Artes - IHAC/UFBA. E-mail:
daisykitaoka@gmail.com.
Esta obra foi licenciada com uma Licença Creative Commons - Atribuição 3.0 Não Adaptada.
Cad. de Pesq. Interdisc. em Ci-s. Hum-s., Florianópolis, Santa Catarina, ISSN 1984-8951
v.15, n.106, p. 161-178 jan./jun. 2014
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the need of going beyond social assistance politicies, such as providing public social
dwellings or boarding spaces. It is necessary to rethink about the structural causes of
homelessness and plan accordingly a preventive approach to avoid the homeless
conditions.
Keywords: Homelessness. Economic inequality. Family bonds.
Introdução
No Brasil, as décadas de 1970 e 1980 foram marcadas por profundas
transformações provocadas pelo capitalismo. O trabalho ocupou o centro dessas
transformações. Destacam-se, entre outros fatores, as mudanças no mundo do
trabalho, cujos efeitos mais evidentes foram o agravamento do desemprego, da
precarização das relações e das condições de trabalho e a queda da renda média
dos trabalhadores. Paralelamente a isso, o êxodo rural também contribuiu para uma
expressiva superpopulação relativa, que aumentou os níveis de pobreza e
vulnerabilidade da classe trabalhadora. É nesse cenário que se observa o
crescimento de pessoas vulneráveis à situação de rua nos grandes centros urbanos
(ROSA, 2005; DE SÁ, 2008).
A partir da articulação de movimentos sociais em favor desses indivíduos, na
década de 1990, esse grupo vulnerável impulsionou a instituição de uma nova
modalidade de política pública, comprometendo o Estado com sua implementação.
Isso foi notável, uma vez que as ações dirigidas a essa população ficaram
historicamente delegadas ou às organizações privadas da sociedade civil ou ao
Estado, que intervinha nessa situação, com posturas de caráter assistencialista ou
de “limpeza” (ROSA, 2005).
No entanto, observa-se que as condições de vida da população, em situação
de rua, ainda são pouco conhecidas no Brasil. De forma geral, as pesquisas oficiais
do governo ignoram esses indivíduos em suas estatísticas. Isso pode ser justificado,
principalmente, pela dificuldade em definir e mensurar esse segmento populacional,
que não possuem endereço fixo. Por esse motivo, a população em situação de
rua nunca foi incluída em censos oficiais do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE).
Assim, a partir dos movimentos sociais e com o envolvimento do Estado com
essa população, em 2008, o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à
Fome (MDS) organizou a Pesquisa Nacional sobre a População em Situação de Rua
em 71 cidades brasileiras. Os resultados dessa pesquisa indicaram um total de

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