As águas do nordeste e o projeto de transposição do Rio são Francisco

AutorJoão Suassuna
CargoJoão Suassuna é engenheiro agrônomo e pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), de Recife (PE). Do mesmo Autor, ver 'Potencialidades hídricas do Nordeste brasileiro' (Cadernos do CEAS, 217: 61-81. Salvador, Centro de Estudos e Ação Social, mai.-jun., 2005). [josu@fundaj.gov.br]
Páginas24-34
AS ÁGUAS DO NORDESTE E O PROJETO
DE TRANSPOSIÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO
JOÃO SUASSUNA *
1. UMA SUCESSÃO DE PROJETOS FRACASSADOS
Já é sabido pelo povo brasileiro que o Brasil é um país pródigo na realização
de algumas de suas obras públicas. Os “elefantes brancos”, assim chamados
devido à falta de planejamento, vêm se acumulando em todo território nacional,
clamando por iniciativas de conclusão por representarem, além de enormes
prejuízos ao erário público, desrespeito ao cidadão brasileiro, especialmente o
nordestino, que necessita de obras estruturadoras na região para promoção do
seu desenvolvimento.
Alguns desses exemplos podem ser atestados pela matéria do Diário de
Pernambuco de 26 de novembro de 2004, intitulada “Interesse Político no
Combate à Seca”, e em notícias veiculadas na internet sobre o abastecimento
de Fortaleza (CE) através do Canal do Trabalhador. A notícia do Diário
demonstra a importância de se fazer bom uso das águas existentes na
Paraíba, aduzindo-as da represa de Coremas para a irrigação do município de
Souza, através do projeto denominado Várzea de Souza, e revela, ao mesmo
tempo, o descaso havido nesse mesmo projeto com o uso do dinheiro público,
numa obra marcada por disputas pelo poder político local, decorrentes da
rivalidade existente entre o ex-governador da Paraíba, José Maranhão, e o
senador Ronaldo Cunha Lima, pai do atual governador.
A iniciativa da realização desse projeto partiu do ex-governador José
Maranhão, que o considerava a menina dos olhos do seu governo, por
entender a importância de serem utilizadas prioritariamente as fontes hídricas
já disponíveis no Estado através de uma política coerente de uso de suas
águas interiores. Maranhão investiu cerca de R$ 105 milhões no projeto
Várzea de Souza, metade dos quais na construção de 37 quilômetros do Canal
da Redenção, objetivando a adução de parte das águas daquela represa até
Souza, para a irrigação de cerca de 5 mil hectares. Além do mais, com vistas a
auxiliar na infra-estrutura do projeto, foram investidos mais R$ 55 milhões na
construção de barragens auxiliares e na aquisição de bombas e tubos. Com
tais ações, o governo de José Maranhão deixou pronta a irrigação de 1.320
hectares em uma primeira fase, faltando apenas a continuidade dos
investimentos e a necessária vontade política por parte do seu sucessor no
governo para a conclusão das obras.
Lamentavelmente, passados cerca de dois anos, o atual governador da
Paraíba não deu a menor prioridade às ações do referido projeto, o que
resultou na não realização da licitação dos lotes a serem irrigados, em avarias
no canal construído e em vandalismos na rede de alta tensão. Por enquanto, a
água que é conduzida no canal serve apenas para abastecer o pequeno
povoado de Aparecida e para algumas poucas captações, a maioria irregular.
Em suma, hoje o projeto encontra-se entregue à dura sorte.

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