Articulações entre cuidado de si e Ecosofia: problematizando a formação de professores

AutorIsabel Gomes Ayres - Roselaine Machado Albernaz
CargoMestranda em Educação pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-Rio-Grandense, Campus Pelotas, RS, Brasil - Doutora em Educação Ambiental pela Universidade Federal do Rio Grande
Páginas137-155
http://dx.doi.org/10.5007/1807-1384.2018v15n1p17
R. Inter. Interdisc. INTERthesis, Florianópolis, v.15, n.1, p.17-35 Jan.-Abr. 2018
ARTICULAÇÕES ENTRE CUIDADO DE SI E ECOSOFIA: PROBLEMATIZANDO A
FORMAÇÃO DE PROFESSORES
Isabel Gomes Ayres
1
Roselaine Machado Albernaz
2
Resumo:
Neste artigo percorremos obras de Michel Foucault e de Félix Guattari através das
quais tentaremos articular os conceitos filosóficos “cuidado de si” (Foucault) e
“ecosofia” (Guattari) para, posteriormente, discutirmos como estes conceitos podem
favorecer a criação de um pensamento sobre a formação de professores e sugerir
uma formação a qual chamamos de ecosófica. Entre os anos de 1981 e 1982,
Foucault falava sobre a urgência da reconstrução de uma ética de “si” como um
possível enfrentamento contra relações de poder dissimétricas. Mais tarde, em 1989,
Guattari, também referenciava esta urgência frente a uma crise multifacetada que
deteriorava simultaneamente o ambiente físico, as relações sociais e as
subjetividades em todo o planeta. Estas críticas foram formuladas por Foucault e por
Guattari aproximadamente três décadas, acreditamos que seus escritos podem
contribuir para problematizarmos os modos de vida atuais
Palavras-chave: Cuidado de Si. Práticas de Si. Ecosofia. Ressingularização.
Formação de Professores.
1 INTRODUÇÃO
Este texto trata de pensarmos a formação de professores por um viés
filosófico. A partir dos conceitos “cuidado de si” de Michel Foucault e “ecosofia” de
Félix Guattari, foi possível fazer aproximações e criar um outro pensamento,
reverberando na formação de alguns professores que buscam, numa filosofia
prática, uma ética, uma política e uma estética de “si”. Talvez, a partir dessa ideia,
possamos enfrentar mudanças no cotidiano de nossas vidas, na escola e nas
práticas pedagógicas.
Sabe-se que na sociedade contemporânea as transformações ocorrem em
uma velocidade vertiginosa. Há algumas décadas, não dispúnhamos de muitos
aparatos tecnológicos que hoje nos são ofertados, nem tampouco imaginávamos
possíveis muitas das façanhas que hoje os cientistas são capazes. Essas
1
Mestranda em Educação pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-Rio-
Grandense, Campus Pelotas, RS, Brasil. E-mail: isabelayres82@gmail.com
2
Doutora em Educação Ambiental pela Universidade Federal do Rio Grande. Professora do
Programa de Pós-graduação em Educação do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
Sul-Rio-Grandense, Pelotas, RS, Brasil. E-mail: rosealbernaz@gmail.com
18
R. Inter. Interdisc. INTERthesis, Florianópolis, v.15, n.1, p.17-35 Jan.-Abr. 2018
transformações refletem nos modos de vida dos indivíduos, assim como na
Educação. Consequentemente, a partir dessa sociedade em constante mutação,
emerge a necessidade de se problematizar a formação de professores.
As práticas pedagógicas tradicionais tentam dar um formato aos sujeitos. A
escola, como está organizada hoje, em geral, empenha-se na tarefa de produzir
sujeitos aptos para o trabalho e cidadãos habilitados para exercerem seus direitos e
deveres (PEREIRA, 2013, p. 178). Nestas práticas pedagógicas convencionais a
relação do sujeito com o mundo e com “si” mesmo, por vezes, é desprezada.
Todavia, para o filósofo Michel Foucault (2010a, p. 225) a única resistência
contra os estados de dominação está na constituição de uma ética de “si”, num
resgate do “cuidado de si”. Ao percorrer textos produzidos por civilizações greco-
romanas da Antiguidade, Foucault (2014, p. 37) se deparou com práticas que
visavam desenvolver no sujeito o conhecimento e o domínio sobre “si” mesmo: as
“práticas de si”. No entanto, com o passar dos séculos, tais práticas foram sendo
esquecidas.
As “práticas de si” se constituem a partir de uma ética, de uma política e de
uma estética. Trata-se de regras facultativas, ou seja, de uma escolha do sujeito
frente à vida. Diferente da moral, a importância das “práticas de si” está nas atitudes
e não nas normatizações instituídas. Tais práticas, possibilitam a criação de novos
estilos de vida. Desta maneira, as “práticas de si” podem constituir a criação de
novos modos de existência; práticas que “produzem a existência como obra de arte”
(DELEUZE, 2010, p. 127).
Assim como Foucault, Félix Guattari também propôs uma articulação ética,
política e estética como uma alternativa de enfrentamento para a crise
contemporânea: a “ecosofia” (GUATTARI, 2012a, p. 8). Na ótica de Guattari, nosso
planeta enfrenta uma crise de múltiplas faces. De forma análoga à poluição que
degrada os ecossistemas, a miséria, a fome, as intolerâncias, as psicopatologias e
tantas outras tensões sociais e comportamentais intoxicam e degeneram corpos e
subjetividades por toda a superfície do globo. Por isso, a “ecosofia” de Guattari
pretende analisar e atuar sobre tal crise nos três níveis ecológicos: ambiental, social
e mental.
No entrelace destas três ecologias, a expectativa de Guattari (2012a, p. 15) é
de que se criem novos modos de vida, novas maneiras de se relacionar com o

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT