Articulação e redes no enfrentamento à violência contra as mulheres no pará

AutorMarcela Fernanda da Paz de Souza, Frederico Oliveira Henriques
Páginas45-61
ARTICULAÇÃO E REDES NO ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA CONTRA AS
MULHERES NO PARÁ
Marcela Fernanda da Paz de Souza1
Frederico Oliveira Henriques2
Resumo:
O objetivo da pesquisa é verific ar a for mação de um a rede de enfrentamento à violência contra as mulheres do campo, das
florestas e das água s no Estado do Pará. O estudo realiza o levantamento dos dados primários junto à CIPM -PA, e, baseando-
se na abordagem de rede social, construi a rede geral com os 39 atores da CIPM-PA, subdivida entre o Fórum Estadual de
Enfrentamento à Violência Contra as Mulheres do Campo, das Florestas e das Águas, o Conselho Estadual de Mulheres e o
Comitê de Monitoramento do Pacto Nacional de Violência Contra a Mulher. A análise da rede social observou o clique e as
medidas de centralidade de informação, de grau, de proxim idade, de intermediação. Assim, é possível concluir que o estudo da
formação da rede de enfrentamento e da proeminência dos atores poderá contribuir com processos decisórios e estratégias de
ação direcionadas às mulheres dos contextos rurais.
Palavras-chaves: Rede de Enfrentamento. Violência. Ruralidades
ARTICULATION AND NETWORKS IN FACING VIOLENCE AGAINST WOMEN IN PARÁ
Abstract:
The objective of this research is to verify the formation of a confrontation network against violence on women from the field,
forests and waters in the state of Pará . The primary data survey was done joined with the CIPM - PA. Based on the social
networking approach, the comprehensive network with 39 actors in the CIPM -PA was build up, subdivided between the State
Forum to Fight Violence Against Field , Forestry and Water women, the State Council of Women and the Monitoring Committee
of the National Pact of Violence Against Women . The analysis of the social network observed the click and the measures of
centrality of information, degree, proximity, intermediation. Thus, it is possible to conclude that the study of the formatio n of the
network of coping and of the prominence of the actors can contribute with decision-making processes and strategies of action
directed to the women of the rural contexts..
Keywords: Coping Network. Violence. Ruralities
Artigo recebido em: 30/11/2018 Aprovado em: 04/04/2019.
DOI: http://dx.doi.org/10.18764/2178-2865.v23n1p45-61
1 Bacharel em Comunicação Social . Doutora em Ciências Sociais pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais
(PPGCSO) pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) com pós-doutor ado em Estudos Urbanos e Regionais n a
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Professora adjunta da Universidade do Estado de Minas Ger ais
(UEMG). Endereço: Av. Professor Mário Palmerio, 1001 - Bairro Universitário - Frutal/MG. CEP: 38200-000. E-mail:
marcela.souza@uemg.br
2 Bacharel em Ciências Sociais. Doutorando no Programa de Ciências Sociais da UFRN. Diretor Técnico da Fundação Lauro
Campos e Marielle F ranco. Endereço: Al. Barão de Limeira, nº 1400 - Campos Elíseos - São Paulo SP. CEP 01202-002. E-
mail: fredhenriqs@gmail.com
Marcela Fernanda da Paz de Souza e Frederico Oliveira Henriques
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1 INTRODUÇÃO
Estudos (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2017; MATOS,
MEDEIROS, 2011; SUZIKI, 2007) atestam o aprofundamento da complexificação socioespacial entr e
campo e cidade. No que tange às transformações no campo, na análise de Durán (1998), há a
inseparabilidade do rural e das ruralidades, cuja apreciação ocorre em uma abordagem de construção
social, como produto da ação social dos sujeitos que se posicionam reflexivamente sobre as circunstâncias
sociais e culturais, em suas temporalidades e espacialidades. Este espaço socionatural, parte da contínua
construção da realidade social (SREZ R, 2008), é tecido em suas funcionalidades pelos
empreendimentos produtivos e de autossustentabilidade econômica, da utilização sustentável do território,
do cuidado ecológico e ambiental, do investimento agroindustrial, somados às ações de recreações e lazer,
entre outras esferas. Na explicação de Medeiros (2017, p. 183), os olhares sobre esse Brasil rural
contemplam ruralidades, cujas análises abrangem os seguintes elementos inter-relacionados: "[...] ao
espaço físico (referência ao território e aos seus símbolos), ao lugar onde se vive (territorialidades,
identidades) e lugar de onde se vê e se vive o mundo (a cidadania e inserção nas esferas políticas e
econômicas da sociedade)".
Essas indicações de leituras sobre o novo rural e as ruralidades, ao considerar,
especialmente, a teia social constitutiva, direcionam para ampliar a compreensão da força que os
movimentos de combate à violência podem assumir se as relações tecidas e reconhecidas nessas novas
análises de ruralidades se propuserem à formação das redes de enfrentamento. A abrangência das
mulheres da mata e das florestas adotada neste estudo compreende “[...] as mulheres trabalhadoras rurais,
mulheres que vivem no campo, na ruralidade e na floresta, agricultoras familiares, as extrativistas,
catadoras de côco e babaçu e as seringueiras.” (BRASIL, 2011b, p. 10). A expressão mulheres da água se
refere àquelas que vivem em regiões ribeirinhas, como na Região de Integração de Tapajós e na Ilha de
Marajó, no Estado do Pará.
A violência contra as mulheres do campo e das florestas permaneceu, por muito tempo,
negligenciada na ação pública e nas pesquisas, o que implica uma lacuna na compreensão dos processos,
dos significados e das consequências da violência doméstica e familiar nas ltiplas ruralidades
(BARROSO, 2011; BARSTED, 2006a, 2006b; 2011; DARON, 2009). É nesse cenário que os movimentos
para as mulheres do campo e das florestas têm atuado decisivamente no enfrentamento à violência e na
proposição de pautas na agenda governamental. São eles os principais atores dos movimentos que

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