A Armação Baleeira de Garopaba: sua justa dimensão

AutorJoão Pacheco de Souza - Roberta Barros Meira
CargoTécnico em assuntos educacionais do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina, Florianópolis/SC, Brasil - Docente do Mestrado em Patrimônio Cultural e Sociedade e do Departamento de História da Universidade da Região de Joinville - Univille, Joinville/SC, Brasil
Páginas413-434
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DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-7976.2018v25n40p413
A Armação Baleeira de Garopaba: sua justa dimensão
The Whaling Frame of Garopaba: your fair dimension
João Pacheco de Souza*
Roberta Barros Meira**
Resumo: Este texto se propõe a discutir a Armação Baleeira de Garopaba,
pertencente ao complexo de armações construídas e exploradas no Brasil
entre os séculos XVII e XIX. Privilegia aspectos relacionados à fundação
e à estrutura da Armação, isto é, um sistema organizado de caça da baleia,
produção e distribuição de óleo que desempenhou um papel ativo no processo
de formação do município de Garopaba. A análise que se segue considera não
só a importância econômica da produção do óleo da baleia, mas enfatiza o seu
papel primordial ao imprimir um ritmo próprio à economia de algumas regiões
coloniais. Nesse sentido, pretende-se dialogar com a historiograa existente,
ressaltando a pouco discutida relação entre as armações e a instalação de uma
sucessão regular de centros povoados, que se mantinham no litoral catarinense.
Palavras-chave: Armação Baleeira; Garopaba; povoamento.
Abstract: This text proposes to discuss the Whaling Frame Garopaba, part of
the complex built frames and explored in Brazil between the XVII and XIX.
Focuses on aspects related to the foundation and the frame structure, that is,
an organized system of whale hunting, production and distribution of oil that
played an active role in the formation of the municipality of Garopaba. The
following analysis considers not only the economic importance of whale oil
production but considers its primary role when printing their own pace to the
economy of these colonial regions. In this sense, we intend to dialogue with the
* Técnico em assuntos educacionais do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa
Catarina, Florianópolis/SC, Brasil. E-mail: joaopachecosouza@gmail.com
** Docente do Mestrado em Patrimônio Cultural e Sociedade e do Departamento de História da Uni-
versidade da Região de Joinville - Univille, Joinville/SC, Brasil. E-mail: rbmeira@gmail.com
Artigo
414
Revista Esboços, Florianópolis, v. 25, n. 40, p. 413 - 434, dez. 2018.
existing historiography, highlighting the little-discussed relationship between
the frames and the installation of a regular succession of population centers
that remained in the Santa Catarina coast.
Keywords: Whaling frame; Garopaba; population
Introdução
Em obra clássica de 1627, Frei Vicente de Salvador1 armava que era
muito proveito que se tirava com a caça da baleia. O aproveitamento desse
produto era essencial não só para o mercado externo, mas para a utilização na
própria Colônia, tanto para reboque dos navios, construções e, principalmente,
iluminação. Certo é que esse produto contribuiu para estimular o mercado
interno, a construção naval, a ocupação e o crescimento de algumas regiões.
Por outro lado, é de lembrar que essa conguração peculiar de fatores é tema
ainda marginal na historiograa.2
Dessa extensa rede de armações, a Armação Baleeira de Garopaba, a
que mais nos interessa aqui, apresentou amplos recursos em material utilizado
na caça, equipamentos destinados ao beneciamento, além do emprego de
mão-de-obra especializada ou não. Nesse sentido, propõe-se a discutir a
importância local dessas armações, partindo do argumento que a construção
e a exploração dos produtos da baleia criou novos espaços econômicos em
regiões consideradas como periféricas pela Coroa portuguesa.
De fato, a Armação Baleeira São Joaquim de Garopaba fez parte de
um projeto maior que envolveu uma rede de Armações Baleeiras pelo Brasil,
as quais formavam complexas unidades de produção e de beneciamento
de óleo de baleia. Como se sabe, a palavra “armação” tem sua expressão
originada em armar para a pesca; armar às baleias, ou seja, equipar-se para a
pesca das baleias. Segundo Saint-Hilaire3, “armação é o nome que é dado aos
estabelecimentos de onde partem os barcos que vão à pesca e para onde são
trazidas as baleias a m de lhes ser extraídas o óleo”. Nesse sentido, também
podem ser consideradas “núcleos ou feitorias de pesca e manufatura de óleo
de baleia”, ou melhor, “termo designativo de aparelhamento permanente em
locais apropriados para a pesca litorânea, passou a denir, no Brasil-Colônia,
a feitoria baleeira que promovia a captura dos cetáceos e o beneciamento do
óleo de baleia”4. Certo é que armação baleeira foi uma designação usada não
só para explicar o local onde as baleias eram desmanchadas, mas dizia respeito
a tudo aquilo que compunham a grande empresa de caça.5
Sabe-se que o início da pesca da baleia no Brasil ocorreu através de
Pero de Urecha e mais biscainhos, oriundos de Biscaia, litoral da Espanha.
Ao aportar em 1602, na Bahia, tornaram-se os responsáveis pela introdução
e circulação de técnicas no Brasil. Teriam aprendido tais habilidades com os

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