Apoio de uma Rede para Retenção de Talentos em Pequenos Clubes de Futebol

AutorMarcius Koehler - Edmilson Oliveira Lima
CargoProfessor do Departamento de Administração - Gestão do Esporte Universidade Nove de Julho, UNINOVE. São Paulo, SP. Brasil - Professor do Departamento de Administração - Gestão do Esporte Universidade Nove de Julho, UNINOVE. São Paulo, SP. Brasil
Páginas10-28
Esta obra está sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso.
Resumo
O estudo tratou do tema redes no contexto do
futebol de base brasileiro, com foco em pequenas
organizações ligadas ao Movimento de Futebol de
Base Brasileiro - MFBB. Esse movimento resultou
na formação de uma rede de clubes de futebol de
base. A pesquisa realizada foi um estudo multi-caso,
de natureza qualitativa, do tipo exploratório, com o
objetivo de explicitar como a formação em rede apoiou
a retenção de talentos em pequenos clubes de futebol
brasileiros. Os dados foram obtidos principalmente
com entrevistas semi-estruturadas em profundidade
e analisados em Quadros. As análises foram do tipo
intra-caso e inter-caso realizadas para se comparar
os dados e obter resultados de pesquisa válidos para
o conjunto da amostra. Os resultados da pesquisa
incluem a confirmação de que a rede dos clubes de
base é determinante na retenção de jovens atletas, em
especial para os pequenos clubes.
Palavras-chave: Pequenas Organizações. Redes.
Retenção de Talentos. Futebol. Gestão do Esporte.
Abstrat
This study approached networks in the context of
Brazilian soccer teams of base (adolescent non-
professional players), focusing on small organizations
involved in the Brazilian Soccer of Base Movement
- MFBB. This movement resulted in the formation of
a network of small soccer clubs. The research was a
qualitative, exploratory, multi-case study searching
to explain how the network supported the retention
of talent in small clubs of Brazilian soccer. Data were
obtained mainly through semi-structured interviews
and were analyzed using tables. Analyses were intra-
case and inter-case, performed to compare the data
and obtain research results valid for the whole sample.
Results include the confirmation that the network is
determining in retention of young athletes, particularly
for small clubs.
Keywords: Small Organizations. Networks. Talent
Retention. Soccer. Sports Management.
DOI: https://doi.org/10.5007/2175-8077.2017v19n49p10
Recebido em: 05/10/2016
Revisado em: 19/04/2017
Aceito em: 21/08/2017
Apoio de umA rede pArA retenção de tAlentos
em pequenos clubes de futebol
Support from a network to talent retention
in small soccer clubs
Marcius Koehler
Professor do Departamento de Administração - Gestão do Esporte Universidade Nove de Julho – UNINOVE. São Paulo, SP. Brasil.
E-mail: marciusk@hotmail.com
Edmilson Oliveira Lima
Professor do Departamento de Administração - Gestão do Esporte Universidade Nove de Julho – UNINOVE. São Paulo, SP. Brasil.
E-mail: edmilsonolima@gmail.com
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Revista de Ciências da Administração • v. 19, n. 49, p. 10-28 , dez. 2017
Apoio de uma rede para retenção de talentos em pequenos clubes de futebol
Revista de Ciências da Administração • v. 19, n. 49, p. 10-28, dez. 2017 11
1 Introdução
Além da preocupação em identificar, selecionar
e revelar novos talentos entre os jogadores de futebol,
os clubes de futebol brasileiros têm grande dificuldade
em retê-los. A razão é que a Lei Pelé determina que os
clubes só podem ter contrato de ensino-aprendizagem
com jogadores de futebol a partir dos 14 anos, caso
tenham o certificado de clube formador, ou vínculo pro-
fissional com jogadores a partir dos 16 anos de idade.
Para tanto, mostrou-se necessário atentar para
as últimas modificações da lei Pelé (12.395/2011),
principalmente à relacionada ao certificado de clube
formador, modificação que desencadeou uma reação às
dificuldades de retenção de atletas e de obtenção da cer-
tificação principalmente por parte de pequenos clubes.
As exigências para a certificação de um clube formador
foram desenvolvidas levando-se em consideração o
contexto e a realidade dos grandes clubes, enquanto os
pequenos apresentam particularidades que dificultam
sua certificação (Bezerra, 2010). Há de se lembrar que,
à imagem do fato de micro, pequenas e médias empre-
sas não serem grandes empresas em miniatura (Welsh;
White, 1981), os pequenos clubes diferem dos grandes,
em particular pela dificuldade de disporem de recursos
financeiros, de pessoal e de infraestrutura.
São vários os elementos que influenciam a per-
manência ou a saída de um atleta num clube. Muitas
vezes, a transferência dele para outro clube é feita de
modo considerado ética e moralmente reprovável e/
ou irregular, enquadrando-se no que é popularmente
chamado de “roubo de atleta”. Inúmeros são os casos
de jovens talentos que são assediados e “roubados” por
representantes de um clube sem a devida indenização
ao clube de origem. Para que esse problema ocorra,
frequentemente atua um tripé formado pelos dirigen-
tes do clube receptor, o empresário intermediador
que busca o atleta e a própria família do atleta, que o
representa legalmente.
Os casos de assédio e “roubo”, viabilizados pela
ausência de proteção na lei quanto à retenção de atle-
tas talentosos menores de 14 anos, desencadearam
reuniões periódicas dos gestores do futebol de base
brasileiro. As reuniões deram origem ao Movimento
do Futebol Brasileiro de Base - MFBB que resultou na
construção de um código de ética para que os clubes só
aceitem atletas que estejam com a liberação do clube
de origem em mãos. O movimento acabou por ser
coordenado pela Associação Brasileira de Executivos
do Futebol - ABEX Futebol.
No início, o uso do código de ética ficou fragiliza-
do por valores e crenças tradicionais que contrariavam
a postura ética das organizações. Porém, o senso ético e
moral nos âmbitos individual, coletivo e organizacional
puderam ser fortalecidos com a conscientização das
pessoas, levando gradualmente à maior adesão ao
código, favorecendo o bem-estar individual e coletivo
dos envolvidos, contribuindo para a melhoria dos re-
sultados empresariais e melhorando os relacionamentos
entre as partes em questão (Passos, 2004). Nesse sen-
tido, o modelo mental dos executivos de futebol, cujos
valores são baseados na competição, assimilou uma
perspectiva de mais cooperação, parceira e autoestima
coletiva. As relações interclubes estimuladas pelo MFBB
provocaram gradativamente significativa mudança no
campo organizacional do futebol brasileiro de base, em
variadas questões, mas principalmente em aspectos
relacionados à transferência de jovens talentos, esti-
mulando uma articulação em rede.
Desta forma, o objetivo deste estudo é responder
a seguinte questão: como o MFBB apoiou a retenção
de talentos em pequenos clubes de futebol de base?
Esse tema está num campo de estudo fértil para
investigações, mas ainda com muito a ser explorado,
principalmente na realidade esportiva brasileira quanto
ao futebol de base. O presente artigo busca contribuir
tanto para a comunidade científica da área da gestão
do esporte quanto para os profissionais responsáveis
pelas categorias de base no futebol, com resultados
relacionados à cooperação interorganizacional para
retenção de jovens talentos.
Os clubes de futebol estudados foram o Paraná
Clube, de Curitiba, a Associação Portuguesa de Despor-
tos, de São Paulo, e a Associação Atlética Ponte Preta,
de Campinas. Adicionalmente, foram feitas entrevistas
com pessoas ligadas à Associação Brasileira dos Exe-
cutivos de Futebol (ABEX Futebol), que também nos
cedeu documentos informativos, e com pessoas de três
empresas agenciadoras de atletas.

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