Ao coração das cidades: notas parresiastas às práticas securitárias e ao des/arquivamento como resistências

AutorFlávia Cristina Silveira Lemos - Dolores Galindo - Kátia Faria Aguiar
CargoUniversidade Federal do Pará, UFPA, Belém/PA, Brasil - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo/SP, Brasil - Universidade Federal Fluminense, Niterói/RJ, Brasil
Páginas204-223
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LEMOS, F. C. S.; GALINDO, D.; AGUIAR, K. F. Ao coração das cidades: notas parresiastas às práticas...
Este artigo busca explicitar mecanismos de
segurança utilizados frente às resistências na ci-
dade, no presente, a partir da problematização dos
arquivos enquanto dispositivos de governo de si e
dos outros, na parresía e na estilística da existên-
cia. A história pode nos auxiliar a lutar e a fazer
ranger acontecimentos, para dispersar forças mili-
tares e de gestão da vida pela regulação de contro-

desarquivar e forjar documentos com perguntas e
pensamentos que operem a coragem da verdade,
na parresía atualizada por meio de redes múltiplas,
constituídas pelos encontros de forças que inven-
tam corpos vibrantes e guerreiros como um ethos
e uma política de existência diante das tentativas
de silenciar arquivos, de destruí-los e de impedir
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vital para construção de espaços heterotópicos e
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Palavras-chave: Heterotopias - Subjetivação -
Cidade - Arquivos - História.
This paper seeks to make explicit security me-
chanisms used in the face of resistance in the cities
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devices of government of self and others, in parre-
sia and stylistics of existence. History can help us
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forces and life management through the regulation
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implies to unarchive and forge documents with
questions and thoughts that operate the courage
of truth, in the updated parresia through multiple
networks constituted by encounters of forces that
make up vibrant and warriors bodies as an ethos
and policy of existence in face of the attempts of
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access to them or even hamper their vital produc-
tion in the construction of heterotopics and liber-
tarian spaces.
Keywords: Heterotopias - Subjectivity - City - Fi-
les - History.
Introdução
Não é uma declaração feita para o bem da cidade, mas uma
pergunta ao coração da cidade; não é prescritivo ou assertivo,
mas interrogativo, e em vez de dizer às pessoas como devem se
comportar, ela reza, por exemplo, - e, sobretudo, - para cuidar
de si [...] (REVEL, 2014, s/p, tradução nossa).
Neste ensaio problematiza-se a cidade no campo de forças ético, estético
e político, com os intercessores Foucault, Deleuze, Guattari e Virílio. Pensar
Ao coração das cidades: notas parresiastas às práticas securitárias
e ao des/arquivamento como resistências
At the heart of the cities: parresiastas notes to securitarian practices
and des/archiving as resistances
http://dx.doi.org/10.5007/2178-4582.2014v48n2p204
Flávia Cristina Silveira Lemos
Universidade Federal do Pará, UFPA, Belém/PA, Brasil
Dolores Galindo
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo/SP, Brasil
Kátia Faria Aguiar
Universidade Federal Fluminense, Niterói/RJ, Brasil
205
R. Ci. Hum., v. 48, n. 2, p. 204-223, jul-dez 2014
as capturas da circulação, as agonísticas nos usos da cidade, a apropriação dos
espaços, a produção de heretoropias e as lutas contra os enclaves urbanos é a
preocupação deste texto.
A agonística é um conceito de Foucault (2010a) que traz a tensão das
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tiplicidade e descontinuidade das mesmas, que estão correlacionadas, sem
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é efeito de poderes como os de segurança, os disciplinares e os biopolíticos,
que organizam as forças em dispositivos de governo das condutas com vistas
a submeter politicamente as subjetividades na relação com a cidade. Neste
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fazer mover as forças para deslocar os planos de existência e os espaços das
cidades, tornando-os diferentes, raros e singulares.
Objetiva-se efetuar a crítica do presente para problematizar os dispositi-
vos de segurança territorial e da população e seus efeitos nos atuais proces-
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aberto, analisar as rupturas com as racionalidades de circulação privatizada
no empresariamento da vida, e postular a saída da menoridade com a atitude
crítica do presente como resistência ao quadriculamento espacial das cidades,
hoje, ganha extrema relevância nas lutas por novos possíveis.
Foucault (2010a), no curso O governo de si e dos outros ressalta que a
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possibilita pensar as artes de governar condutas de si e dos outros como dis-
positivo de estilização de existências. O cuidado de si se relaciona com o da
cidade neste modo de operar um ethos no presente, em uma problematização
dos acontecimentos historicamente. Pensar e diferir de si e dos outros, em
um plano de crítica à menoridade política e, assim, poder sair da menoridade
enquanto uma condição de tecnologia de si que traz o cuidado de si articula-
damente ao cuidado da cidade.
Para Foucault (2008a; 2008b), e para Deleuze e Guattari (1997; 2007),
o nomadismo foi canalizado por encomendas de mercado e muitos circuitos
das cidades foram privatizados, tornados investimentos controlados pela pu-
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(2008), uma dromopolítica foi criada e se tornou uma forma de gestão inten-
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po e segmentação espacial. Problematizar a produção de subjetividades, na
  
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