O ano de 1968 em Cuba: mudanças na política internacional e na política cultural
Autor | Sílvia Cezar Miskulin |
Cargo | Pós-Doutoranda em História na USP |
Páginas | 47-66 |
O ANO DE 1968 EM CUBA: MUDANÇAS NA POLÍTICA
INTERNACIONAL E NA POLÍTICA CULTURAL
Sílvia Cezar Miskulin*
Pós-Doutoranda em História na USP
silmiskulin@uol.com.br
Resumo:O artigo analisa os principais acontecimentos ocorridos em Cuba
durante o ano de 1968 e enfatiza as mudanças na política externa, após o apoio do
governo cubano à invasão da Checoslováquia pela União Soviética, para acabar
com a Primavera de Praga. O artigo buscou compreender também as polêmicas
de expressão e criação em Cuba.
Palavras-chave: Cuba; Cultura; Política; Revolução.
The year of 1968 in Cuba: changes in international politics and in cultural
politics
Abstract: The article analyzes the main events happened in Cuba during the year
of 1968 and emphasizes the changes in the external politics, after the support of
Cuban government at the Thecoslováquia invasion by the Soviet Union, to end
the Praga`s Spring. The paper sought to understand the controversial prizes of
policies and the utterance and artistic freedom limitations in Cuba.
Key Words: Cuba; Culture; Politics; Revolution.
Ao iniciar o ano de 1968, a atração internacional que a Revolução Cubana
exercia entre os intelectuais de esquerda e a juventude de vários países do mundo
era enorme. Che Guevara em seu projeto de expandir a revolução por meio da
guerrilha, acabava de ser assassinado em outubro de 1967, pelas forças de repressão
na Bolívia. Suas idéias faziam parte do imaginário da juventude, sobretudo no que
∗ Este artigo é um desdobramento da Tese de Doutorado Os intelectuais cubanos e a política cultural da
Revolução (1961-1975), que se encontra no prelo e será publicada pela editora Alameda com o auxílio
da FAPESP.
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heróico’, que morreu pela causa revolucionária, além da defesa sistemática de um
pensamento e prática antiimperialista e “terceiro-mundista”. Não por acaso o ano
de 1968 em Cuba foi batizado como o “ano do guerrilheiro heróico”.
Che Guevara não era a única personalidade emblemática no imaginário político
Dong também eram símbolos internacionalmente difundidos, como nos revelou o
1. Na sua visão, os movimentos de contestação de juventude
da América e da Europa se reconheciam nestas personalidades emblemáticas e
míticas, que encarnavam a resistência ao imperialismo estadunidense e haviam
uma alternativa ao projeto da União Soviética e contestavam o modelo soviético
como forma de transformação social. Com a morte de Che Guevara, sua imagem
foi reproduzida ao máximo e levada em inúmeras manifestações ao longo de 1968
e até os dias de hoje.
um novo modelo de ativismo no cenário mundial2
se na revolução permanente, nos questionamentos “anti-autoritários”, na “audácia
e imaginação no poder.” Estas idéias estiveram presentes na revolução cultural da
China3
ou nos Estados Unidos contra a guerra do Vietnã, ou ainda nas manifestações do
A prova desta simpatia mundial pela Revolução Cubana foi o êxito do
explícito com a reunião de inúmeros escritores e artistas que viam na ilha uma nova
alternativa de transformação social, que fugia dos métodos repressivos utilizados
compilou diversas comunicações apresentadas nesse Congresso por Ambrosio
saúde.
político de escritores e artistas e fortalecer a concepção das produções culturais
No âmbito cultural, o Congresso deliberou pela recusa dos “vanguardismos” nas
manifestações artísticas, já que as obras experimentais não eram acessíveis à maioria
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