Análise das disciplinas de tecnologia da informação ofertadas nos currículos dos cursos de arquivologia da região sul do Brasil

AutorNelma Camêlo Araujo - Simone Crestosmo
CargoMestre em Ciência da Informação pela Universidade Federal de Santa Catarina. Professor assistente da Universidade Estadual de Londrina dos cursos de biblioteconomia e arquivologia
Páginas93-114

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Nelma Camelo de Araujo

Mestre em Ciência da Informação pela Universidade Federal de Santa Catarina Professor assistente da Universidade Estadual de Londrina dos cursos de biblioteconomia e arquivologia

nelma@uel.br

Simone Crestosmo

simone@unopar.com.br

1 Introdução

Hoje, a informação e o conhecimento transformaramse em matériaprima de extremo valor para as empresas, que necessitam estar sempre um passo à frente de seus concorrentes. O pesquisador, seja ele um erudito, um necessitado de informações pessoais ou um profissional que precisa de informação administrativa ou de mercado, encontra sérias dificuldades oriundas da má gestão ou

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alimentação dos dados nos programas especialmente criados para facilitar o acesso a essas informações.

As organizações precisam de pessoas para extrair o conhecimento daqueles que o têm, colocar esse conhecimento numa forma estruturada e mantê-lo ou aprimoralo, agregandolhe valor ao longo do tempo. As universidades não ensinam explicitamente essas habilidades, sendo que as atividades mais próximas estão nos currículos de arquivologia, biblioteconomia e jornalismo. (BARRETO, 2006,p.2).

A formação acadêmica é um dos requisitos mais exigidos pelo mercado de trabalho e a estrutura educacional deve estar atenta para atender as demandas na mesma velocidade. Atualmente, é necessário para o profissional possuir um conjunto de habilidades, qualificações e formação necessárias para atuar neste novo cenário mercadológico.

Lavinas (2006, p. 8 apud BAPTISTA e ESPANTOSO, 2008, p. 3) discutindo sobre empregabilidade, chama a atenção para a questão da competência e aptidão:

O uso do termo ”empregabilidade” remete igualmente às características individuais do trabalhador capaz de fazer com que possa escapar do desemprego mantendo sua capacidade de obter um emprego [ver Gazier, 1990]. Porém, as características aqui mobilizadas são relativamente distintas daquelas que constroem a noção de competência, pois acionam aspectos normativos – educação, habilidades, experiência – que podem ser adquiridos mediante formação profissional. A dimensão subjetiva aqui é, assim, menos enfática e estruturante que na noção de competência. O divisor de águas entre trabalhadores empregáveis ou não empregáveis reside no seu grau de aptidão para um determinado trabalho. No enfoque da competência, há muito mais jogo do que tãosomente a aptidão específica. Demandamse qualidades cujo domínio tem aprendizado distinto, outro lag de tempo {Lag é um termo em inglês que se refere a atrasos que se podem experimentar na comunicação entre computador (internet, por exemplo), podendo aplicarse a outras situações, como comunicação via satélite ou mesmo em comunicação escrita (Wikipédia)} e também outras dimensões cumulativas.

Focando a pesquisa no âmbito do profissional arquivista, é necessário explicitar que a Arquivística, de acordo com o Dicionário de Terminologia Arquivística (1996, p. 5) “[...] tem por objeto o conhecimento da natureza dos arquivos e das teorias, métodos e técnicas a serem observados na sua constituição, organização, desenvolvimento e utilização”.

Dessa maneira, para se adequar ao atual mercado de trabalho, é preciso que o arquivista, face às novas demandas e competências que lhe são cobradas, também esteja apto a interagir com as novas tecnologias da informação.

Alecrim (2004) define tecnologia da informação do seguinte modo:

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A Tecnologia da Informação (TI) pode ser definida como um conjunto de todas as atividades e soluções providas por recursos de computação. Na verdade, as aplicações para TI são tantas - estão ligadas às mais diversas áreas - que existem várias definições e nenhuma consegue determinála por completo.

As tecnologias da informação podem ajudar a melhorar a qualidade e a disponibilidade de informação e conhecimentos para as organizações ou instituições, oferecendo oportunidades para a melhoria dos processos internos e serviços.

Diante de tal definição, observase que as duas áreas de conhecimento - Arquivologia e Tecnologia da Informação - possuem pontos em comum, sendo mais evidente o esforço de tornar possível o acesso à informação.

Esta pesquisa foi realizada tendo como foco os seguintes objetivos: a) mapear e analisar as disciplinas dos cursos de Arquivologia da Região Sul do Brasil, que incluem Tecnologia da Informação; b) comparar as metodologias de ensino aplicadas pelos docentes das disciplinas de TI nas Universidades investigadas e; c) verificar a opinião dos docentes das disciplinas voltadas a TI com relação ao estudo destes conteúdos em Arquivologia.

Esses objetivos foram traçados com vistas a identificar, por meio de seus currículos, a formação deste multiprofissional tão almejado pelo mercado de trabalho e sua capacitação para atuar com as novas tecnologias da informação na arquivística.

2 Referencial teórico – O profissional arquivista frente às novas tecnologias

A Arquivologia, em suas origens, tinha como preocupação a eficácia e eficiência na guarda e preservação dos documentos; uma visão clássica da gestão de arquivos, onde o objeto de sua ciência era propriamente o documento.

No entanto, estudiosos são unânimes em afirmar que a Arquivologia passa por uma ruptura de paradigmas, transferindo seu objeto do arquivo para a informação arquivística, ou informação registrada orgânica. Para Thomassen (1999, p. 7 apud FONSECA, 2005, p. 58), essa mudança de paradigmas está estreitamente ligada à emergência das tecnologias da informação e da comunicação:

em nosso caso, o assombroso desenvolvimento das tecnologias da informação e da comunicação deu origem a novas ideias, as quais, num certo ponto, não podem ser

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integradas às tradições arquivísticas existentes (...). No início dos anos 1980 ficou claro que os computadores afetariam tremendamente o mundo arquivístico, mas a maioria dos arquivistas ainda considerava o computador como uma simples ferramenta técnica.

A nova abordagem da Arquivologia, hoje chamada de “pósmoderna” ou “póscustodial”, é muito mais abrangente do que a abordagem clássica, deslocando as razões da preservação documental do interesse do Estado para uma justificativa sociocultural, tentando transformar os documentos em evidências confiáveis e autênticas, transferindo o foco de estudo do documento em si para seu contexto de criação; de sua forma física para os seus objetivos.

Também aborda de forma diferente as responsabilidades do profissional arquivista, que deixa de ser um guardião de arquivos para se transformar em um agente transformador e ativo no processo documental, e também a teoria arquivística, que deixa de ser imutável para se tornar uma área em pleno desenvolvimento, buscando se aperfeiçoar e melhorar através do tempo. (FONSECA, 2005,

De acordo com Fonseca (2005, p.65), é a partir da década de 1970 que começa a acontecer no Brasil um fortalecimento da disciplina arquivística, com a criação da Associação dos Arquivistas Brasileiros (AAB) em 1971.

A Arquivologia, hoje, tem um caráter multidisciplinar, com métodos e técnicas próprios de sua natureza, mas que também se apropria de várias áreas do saber para melhor se estruturar e responder às exigências práticas que a profissão exige.

Esse diálogo feito com outras áreas do conhecimento acaba por enriquecer cada vez mais a disciplina, criando uma interdisciplinaridade muito bem vinda aos profissionais. A Arquivologia deixou de ser uma disciplina auxiliar da História para se relacionar com a Biblioteconomia, a Administração, a Ciência da Informação, o Direito e a Informática, dentre outras (MARQUES; RODRIGUES, 2006, p. 11).

Para Japiassu (1976, p. 74 apud MARQUES; RODRIGUES, 2006, p. 6) “a interdisciplinaridade se caracteriza pela intensidade das trocas entre os especialistas e pelo grau de integração real das disciplinas no interior de um projeto específico de pesquisa” e para Morin (2005, p. 115 apud MARQUES; RODRIGUES, 2006, p. 6)

A interdisciplinaridade pode significar, pura e simplesmente, que diferentes disciplinas são colocadas em volta de uma mesma mesa, como diferentes nações se posicionam na ONU, sem fazerem nada além de afirmar, cada qual, seus próprios direitos nacionais e suas próprias soberanias em relação às invasões do vizinho. Mas interdisciplinaridade pode significar também troca e cooperação, o que faz com que a interdisciplinaridade possa vir a ser alguma coisa orgânica.

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A Tecnologia da Informação, uma das áreas de maior significação no atual mundo competitivo, se caracteriza pela difusão social da informação em larga escala de transmissão, a partir de sistemas tecnológicos inteligentes. No campo da Tecnologia da Informação, este é um pressuposto básico: criar formas e sistemas que facilitem a propagação da informação.

[...] quando falamos em Tecnologia da Informação não estamos nos limitando aos computadores; ela abrange toda forma de gerar, armazenar, veicular, processar e reproduzir informação. Papel, arquivos, fichários, fitas magnéticas e discos óticos são meios de armazenar informação; fax, telefone, jornal, correio, televisão e telex são meios de veicular informação; computadores e robôs são ferramentas para processar informação; máquina de fotocopiar é um meio de reproduzir informação. A Tecnologia da Informação cobre, ou deveria cobrir, todos esses itens. (FURLAN; IVO, 1992, p.3)

De acordo com Rondinelli (2004, p. 23) antes da II Guerra Mundial, a tecnologia do computador era restrita a uso militar, sendo que somente depois desse período começou a espalharse por instituições públicas e privadas - até 1970 o uso dos computadores era limitado a especialistas. Somente em 1980 surgirem os computadores pessoais e as redes de...

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