Análise das variáveis que afetam o desempenho de carteira das entidades fechadas de previdência complementar brasileiras

AutorWilliam Aparecido Maciel da Silva - Rodrigo Fernandes Malaquias - Ilírio José Rech
CargoMestre em Ciências Contábeis (UFU), Uberlândia/MG, Brasil - Doutor em Administração de Empresas pela EAESP (FGV) - Doutor em Contabilidade e Controladoria pela FEA (USP)
Páginas54-70
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Artigo
Original
Artigo
Original
Revista Contemporânea de Contabilidade, Florianópolis, v. 17, n. 44, p. 54-70, jul./set., 2020.
Universidade Federal de Santa Catarina. ISSN 2175-8069. DOI : https://doi.org/10.5007/2175-8069.2020v17n44p54
Análise das variáveis que afetam o desempenho de carteira
das entidades fechadas de previdência complementar
brasileiras
Analysis of factors associated with portfolio performance of closed Brazilian complementary
pension entities
Análisis de los factores asociados al rendimiento de cartera de las entidades cerradas de
previdencia complementaria brasileñas
William Aparecido Maciel da Silva
Mestre em Ciências Contábeis (UFU), Uberlândia/MG,
Brasil
w.aparecidomaciel@hotmail.com
https://orcid.org/0000-0001-5246-4534
Rodrigo Fernandes Malaquias*
Doutor em Administração de Empresas pela EAESP (FGV)
Professor da Faculdade de Gestão e Negócios (UFU),
Uberlândia/MG, Brasil
rodrigofmalaquias@ufu.br
https://orcid.org/0000-0002-7126-1051
Ilirio José Rech
Doutor em Contabilidade e Controladoria pela FEA (USP)
Professor da Faculdade de Administração, Ciências Contábeis e
Ciências Econômicas - FACE (UFG), Goiânia/GO, Brasil
ilírio.jose@ufg.br
https://orcid.org/0000-0001-7027-737X
Endereço do contato principal para correspondência*
Av. João Naves de Ávila, 2121, Bloco F, Sala 1F-216 (FAGEN/UFU), CEP: 38400-902 - Cidade: Uberlândia/MG, Brasil
Resumo
O estudo investigou as variáveis que afetam o desempenho da carteira de investimento das Entidades
Fechadas de Previdência Complementar (EFPC) no Brasil. Para alcançar o objetivo foi analisado o Índice de
Sharpe de 310 EFPC brasileiras entre o período de 2011 a 2018. Na primeira etapa foram analisadas as
variáveis Tamanho, Número de Participantes Ativos, Idade, Taxa Administrativa, Taxa de Carregamento,
Diversificação e Risco. Na segunda etapa, as variáveis Taxa Administrativa e Taxa de Carregamento foram
excluídas dos testes, em função do elevado número de missi ng values. Com base nos resultados constatou-
se que, em média, o desempenho das EFPC no período foi positivo em relação ao benchmark. Entretanto, o
prêmio pelo risco médio anual apresentou valores negativos durante alguns períodos. Na análise do efeito
das variáveis, observou-se indícios de que a Idade, a Diversificação, o Risco e a Taxa Administrativa afetam
o desempenho das EFPC. Por um lado, os resultados sugerem que a diversificação apresentou relação
positiva com a performance ajustada ao risco; por outro lado, entidades que assumiram maiores riscos em
períodos com menor remuneração dos títulos do governo tenderam a apresentar menor retorno ajustado ao
risco. Tais resultados sugerem que as variáveis que afetam o desempenho apresentam efeitos diversos, o
que passa a depender da necessidade das EFPC frente às suas metas atuariais.
Palavras-chave: EFPC; Política de Investimento; Desempenho
Abstract
This study investigated the variables that affect the performance of investment portfolios from Brazilian Private
Pension Closed Entities (EFPC). In order to reach the objective, the Sharpe Ratio of 310 Brazilian EFPC was
analyzed between the period from 2011 to 2018. In the first stage, we analyzed the variables Size, Number of
Active Participants, Age, Administrative Fee, and Contribution Fee. In the second stage, the variables
Administrative Fee and Contribution Fee were excluded of the tests due the number of missing values. The
main results suggest that, on average, the EFPC performance was positive in relation to the benchmark.
However, the annual risk-premium showed negative values in some years. Regarding the independent
William Aparecido Maciel da Silva, Rodrigo Fernandes Malaquia s, Ilírio José Rech
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Revista Contemporânea de Contabilidade, Florianópolis, v. 17, n. 44, p. 54-70, jul./set., 2020.
Universidade Federal de Santa Catarina. ISSN 2175-8069. DOI : https://doi.org/10.5007/2175-8069.2020v17n44p54
variables, the results suggested that Age, Diversification, Risk and Administrative Fee affected the EFPC
performance. On one hand, the diversification showed a positive effect on performance; on the other hand,
entities that assumed more risks during periods marked by lower returns of government bonds tended to show
lower risk-adjusted returns. Such results suggest that the independent variables have diverse effect,
depending on the need of EFPC regarding their actuarial target.
Keywords: EFPC; Investment Policy; Performance
Resumen
Este estudio investigó las variables que afectan el desempeño de la cartera de inversión de las Entidades
Cerradas de Previsión Complementaria (EFPC) en Brasil. Para alcanzar el objetivo fue analizado el Índice de
Sharpe de 310 EFPC brasileñas entre el período de 2011 a 2018. En la primera etapa se analizan las variables
Tamaño, Número de Participantes Activos, Edad, Tasa Administrativa, Tasa de Cargamento, Diversificación
y Riesgo. En la segunda etapa, las variables de Tasa Administrativa y Tasa de Cargamento se excluyeron de
las pruebas, debido a la gran cantidad de valores faltantes. Con base en los resultados se constató que, en
promedio, el desempeño de las EFPC en el periodo fue positivo con relación al benchmarking. Sin embargo,
la prima de riesgo anual, en promedio, mostró valores negativos durante algunos períodos. En el análisis del
efecto de las variables, se constató que Edad, Diversificación, Riesgo y Taxa Administrativa afectan el
desempeño de las EFPC. Por un lado, los resultados sugieren que la diversificación se relacionó
positivamente con el desempeño ajustado al riesgo; por otro lado, las entidades que asumieron mayores
riesgos en períodos con menor rendimiento de los títulos del gobierno tendieron a mostrar rendimientos
ajustados por riesgo más bajos. Estos resultados sugieren que las variables que afectan el rendimiento tienen
diferentes efectos, lo que depende de la necesidad de EFPC y de sus objetivos actuariales.
Palabras clave: EFPC; Política de Inversión; Rendimiento
1 Introdução
A relação risco e retorno é um dos principais temas estudados na área de Finanças, representando
um trade-off considerado na alocação de recursos por investidores, por vezes também ponderado por
questões relacionadas à liquidez. Neste contexto, tem-se que uma carteira eficiente de investimentos
maximiza a relação risco e retorno (MARKOWITZ, 1952), e carteiras mais diversificadas tendem a apresentar
menores níveis de risco ou ainda melhores níveis de retorno.
A diversificação de investimentos pode ser alcançada com base em diferentes estratégias. Por um
lado, há carteiras de investimentos que podem ter restrições legais que venham a afetar as estratégias de
diversificação, o que pode limitar as alocações dos gestores e, eventualmente, limitar a performance dessas
carteiras. Por outro lado, as limitações legais podem proteger os cotistas de elevada volatilidade de retornos,
bem como de elevados prejuízos. Esse é o caso das Entidades Fechadas de Previdência Complementar
(EFPC) brasileiras, que funcionam como fundos de investimentos na aplicação dos recursos de seus
participantes.
Por se tratar de uma forma de assegurar renda aos seus participantes, a legislação inerente a essas
entidades limita os investimentos de modo a mitigar os riscos e proporcionar segurança a participantes,
assistidos e patrocinadores. No entanto à medida que a legislação mitiga a exposição ao risco de crédito, isso
pode gerar perda de oportunidades de uma possível rentabilidade maior e dificultar a gestão das entidades
(HERBST; DUARTE JUNIOR, 2007). Desta forma, os planos de previdência complementar fechados, para
cumprir a legislação e não colocar em risco a poupança dos participantes, possuem políticas de investimentos
que podem ser mais engessadas e conservadoras.
As EFPC são fundações ou sociedades sem fins lucrativos que mantêm planos de previdência de
forma coletiva (PREVIC, 2020; ABRAPP, 2020). Esta modalidade de previdência pode ser definida como um
sistema que acumula recursos para garantir uma renda adicional no futuro, com a expectativa de manter, na
inatividade, um padrão de recebimentos igual, ou até mesmo melhor do que na fase laboral, ou ainda um
fluxo de caixa melhor do que se dependesse apenas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) (ABRAPP,
2020). Para Cerqueira et al. (2017), as EFPC ocupam um importante papel no desenvolvimento econômico
de um país, uma vez que atuam na acumulação de poupança interna e podem incentivar diversos segmentos
econômicos, além de ter a função básica de complementador da seguridade social de seus participantes.
Ademais, é importante ressaltar o papel social que os fundos de pensão possuem. Eles representam
um investidor institucional importante para o mercado financeiro (ALDA, 2018; JARA et al., 2019), bem como
uma fonte crucial de renda futura para os beneficiários a eles vinculados, particularmente para aqueles que
são investidores não profissionais (ALDA, 2018). Os participantes dos fundos de pensão esperam uma
remuneração segura e confiam na gestão destas entidades para que esse rendimento futuro seja garantido
(GONZÁLEZ; LELYVELD; LUCIVJANSKÁ, 2020). Isso pode fazer com que os fundos de pensão, ao alocar
seus recursos, busquem ativos financeiros que possuem boa reputação, por exemplo. Esse fator torna-se
mais evidente no contexto de fundos de pensão socialmente responsáveis, que possuem elevada
preocupação com a sustentabilidade corporativa de seus investimentos (ALDA, 2019). Entretanto, alguns
fatores têm pressionado o sistema dos fundos de pensão, a exemplo de crises financeiras bem como das

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